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Entre o ódio e o amor: a busca de respostas

Atualizado dia 1/8/2009 6:32:33 PM em Autoconhecimento
por Flávio Bastos


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Paulo nascera em berço humilde, filho de pai proletário e mãe dona de casa. Cresceu na periferia de São Paulo, convivendo com as dificuldades de sobrevivência que caracterizam uma família pobre. No entanto, desde muito cedo projetara a sua vida com ambição de crescimento pessoal e profissional, diferentemente de seus familiares que transferiam para a prática religiosa as suas frustrações de sonhos não realizados.

Durante o atendimento psicoterapêutico, a sua memória registra um fato marcante em sua vida quando ele tinha nove anos de idade: a família se converte numa religião e, a partir desta data, inicia-se uma fase de fanatismo religioso que o afasta cada vez mais de seus familiares, uma vez que ele nega-se a seguir a orientação doutrinária de seus pais e irmãos.

A partir deste momento, um sentimento de raiva que Paulo experenciava na relação com a sua mãe, intensifica-se, ou seja, a raiva que sente de sua progenitora, encontra-se na razão direta do ódio que ele sente pela religião e pelo cristianismo de uma forma geral. Estava, portanto, sob o enfoque psicanalítico, estabelecido o principal elo de ligação de sua neurose...

No entanto, qual seria a origem da antipatia que o filho sentia por sua mãe, a ponto de conscientemente, desde muito cedo desejar a sua morte? Por que, após ter crescido profissionalmente em uma empresa multinacional e ter chegado ao status de chefia, ele “despencara” do auge profissional em decorrência de uma crise depressiva que o levou a procurar ajuda na psicoterapia?

Foi em busca de respostas, confuso entre sentimentos de ódio e amor que o inteligente Paulo experencia a sua angústia. Seria ele somente o resultado do descaso de uma mãe “de mal com a vida” como ele mesmo afirmava, e de um pai ausente e pouco participativo na educação dos filhos?

Depois de algumas sessões de psicoterapia de orientação psicanalítica que contribuíram com importantes informações extraídas da infância do paciente e que resultaram em inevitáveis repercussões psíquicas na sua vida adulta, o processo terapêutico, naturalmente, aponta para o momento de pesquisarmos mais informações através da experiência regressiva.

Após duas semanas de tratamento floral para que fosse sutilmente trabalhado os seus atávicos sentimentos camuflados de “ceticismo” e de “raciocínio racional”, Paulo chega ao consultório relatando um sonho de véspera em que via-se envolvido em uma discussão de teor religioso e que após o término do sonho que não lembrava detalhes, intensificara-se a pressão sobre a sua garganta, desconforto que sentia desde criança.

E foi com os sentimentos “à flor da pele” que Paulo inicia a sua experiência regressiva. Na primeira revivência, via-se no colo de sua mãe, tinha dois meses de vida e já sentia uma incompatibilidade energética em relação a ela. Na sequência, viu-se com quatro anos de idade, brincando com uns taquinhos de madeira numa sala em que a mãe encontrava-se a poucos metros dele. Nesse momento, experencia uma intensa sensação que o acompanharia para o resto de sua vida: a de que se ele não a matasse primeiro, seria depois morto por ela.

Na sequência da experiência regressiva, Paulo começa a relatar detalhadamente uma imagem. Trata-se de uma cena antiga... um prédio de pedra, uma taberna sombria e perdida nos labirintos escuros de um povoado inglês do ano de 1717, conforme identificara. Só que ele relutava em entrar naquele ambiente de pedra, ao mesmo tempo que lágrimas escorriam pela sua face. Depois de um momento de hesitação, Paulo “adentra” ao interior da taberna e enxerga-se sentado ao redor de uma mesa, acompanhado de uma pessoa que ele inicialmente identifica como sendo um homem que veste uma roupa escura e um capuz que protege a identificação de seu rosto. Sente-se ainda muito jovem e os dois bebem, debatem sobre religião até que a discussão, influenciada pelo efeito do álcool, torna-se áspera. Momento em que o homem de capuz levanta-se colerizado e profere a palavra “blasfêmia”, sentindo-se indignado pelo conteúdo verbal dirigido a ele, e num movimento brusco retira-se do local.

Um sentimento de medo apodera-se de Paulo, que manifesta-o através da expressão facial e corporal. Sente que quando sair daquele ambiente sombrio correrá risco de vida, e essa certeza toma conta de si à medida que começa a dar os primeiros passos na rua. De repente, num instante sente-se alçado pelos cumpridos cabelos e pelo braço forte de um cavaleiro que o coloca de bruços, atavessado sobre a sua montaria. É o mesmo homem em que na taberna discutira sobre religião...

Paulo, na sequência de seu relato, sente-se conduzido a um bosque próximo e a sua sorte sendo selada: o homem arremessa-o violentamente ao solo e ordena que ele fique ajoelhado. Nesse momento, Paulo descreve com intensidade a experiência: sente o cheiro que exala do solo úmido da floresta a poucos centímetros de seu nariz, e percebe, entre lágrimas, que vai morrer. Mas antes da estocada da adaga fina e cumprida em seu pescoço, entre impropérios dirigidos a si por aquele transtornado homem, percebe em seu executor a identidade de sua mãe na vida atual.

COMENTÁRIO
A experiência regressiva de Paulo confirma que a raiva que sentia da mãe desde os tenros anos de idade, associado ao ódio que ele alimentava pela religião, especialmente pelo cristianismo, tinha uma origem além da situação intra-uterina da vida atual, ou seja, era um sentimento de revolta gerado pela forma traumática que experenciara no derradeiro momento daquela vida em que ele ainda era um jovem.

As informações advindas da regressão simplesmente conectaram-se em perfeitos elos de ligação que evidenciam as motivações inconscientes que levaram o paciente a fixar-se a atávicos sentimentos não resolvidos, e revelando mais uma vez, considerando-se o caso abordado, a natureza psico-espiritual das manifestações comportamentais do ser humano.

No caso descrito, observa-se atualmente que o “ceticismo” (angústia) do paciente, começa a ceder lugar a um melhor nível de compreensão de si mesmo enquanto um indivíduo inserido em sua própria história existencial. E, a partir dessa percepção básica mas fundamental de si mesmo, surge a consciência do que ele precisa curar na relação consigo próprio e na relação com as referências pessoais que habitam o seu universo particular, porque na verdade, dependemos exclusivamente de estímulos internos para transformar o que precisa ser transformado a partir da realidade existencial de cada um. Paulo, portanto, à medida que sua perguntas começam a ser respondidas, encontra-se a caminho da cura de suas “feridas” internas.

Psicanalista Clínico e Interdimensional.
flaviobastos


Texto revisado por: Cris


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Conteúdo desenvolvido por: Flávio Bastos   
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia.
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