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Entrevista: UMBANDA, O DESPERTAR DA ESSÊNCIA, Maria Elise Machado - 2

Atualizado dia 5/14/2006 7:17:44 PM em Autoconhecimento
por Orlando josé ravaglio


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P. Você acha que estas distorções afetam a mulher dentro da Umbanda?
R. A mulher, em particular, reflete isto nos aspectos externos da Umbanda. Muitas irmãs de fé não têm sua própria identidade, não têm confiança nelas mesmas... não têm certeza do que são... muitas "crêem" nas coisas porque disseram que era assim e ponto. Raras são as mulheres que param para questionar o certo e o errado. Hoje a mulher quer ser Babá... ou seja, ela quer ser Pai (Baba em Yoruba significa Pai). Nem Yalorixá ela quer ser mais... coisa que não é da Umbanda, diga-se de passagem. Houve uma perda da identidade iniciática: a mulher não sabe mais o que é ser mãe e o homem o que é ser pai... Se a mulher quer ser mãe de santo, que assuma a verdadeira identidade de Mãe de santo... Não queira imitar ou assumir funções que não lhe cabem. Na minha opinião, a verdadeira mulher, a sacerdotisa, deveria ser muito mais, estar muito mais além do que a estreita noção do masculino/feminino. Ela deveria representar, de forma verdadeira, o aspecto passivo de tudo o que existe na natureza. O que é passivo? A paz, a harmonia, a manutenção. Não é uma passividade subordinada, estática, tola. A mulher iniciada, simbolicamente é a responsável pela absorção do conhecimento, pela vida e pela sobrevivência de todos os filhos do mundo. Só a mulher pode fazer com que o homem atue no conhecimento e na energia que ela absorveu. É ela quem dá a força para que o homem movimente, com produtividade, a roda e o ciclo cósmico. Isto tudo deveria acontecer naturalmente. Infelizmente, o ser humano é a única coisa na natureza que é anti-natural. É o único ser que perdeu sua identidade, perdeu seu ritmo e causou todos os desatinos que vemos em nosso mundo. A mulher sacerdotisa e a natureza são, em certa fase da iniciação, uma só realidade.

P. Você considera, então, que a mulher e o homem estão em pé de igualdade para todas as coisas. Possuem apenas funções relativamente diferentes ...
R. Exato. Eu acho que não teríamos o homem e a mulher, não teríamos o lado esquerdo e o lado direito na corrente eletromagnética, o positivo e o ativo, se isto não fosse necessário. A natureza sempre mostra como as coisas devem ser. Um completa, vibratoriamente falando, o outro. E é evidente que um não pode ocupar o lugar do outro.

P. E como descobrir os lugares corretos?
R. Precisamos saber qual é a nossa real função. Acho que isto não é claro para a maior parte das pessoas. Aliás não estou aqui sendo apologista, e nunca serei, de feminismo barato. Há aquelas mulheres que querem ser iguais aos homens. Eu não quero ser. Quero, sim, é estar muito bem estruturada para fazer com ele uma boa parceria.

P. Como você vê o futuro da mulher e sua posição em relação ao Movimento Umbandista?
R. Não podemos negar os percentuais. O maior número de freqüentadores de terreiros é do sexo feminino. Talvez isso seja reflexo do próprio condicionamento que à mulher foi imposto: pois ela é obrigada a sentir e o homem é obrigado a pensar. Talvez por isso ela busque e use com maior facilidade as coisas do sentimento. Indo buscar isto dentro do aspecto espiritual, algo que mexe com a sensibilidade de qualquer um. Quando em frente ao espiritual, as pessoas ainda se sentem mais atingidas em seu afetivo. A mulher possui um maior peso dentro movimento Umbandista, embora veja que o horizonte de sua busca ainda é muito curto. Ela busca o movimento Umbandista e aceita somente a incorporação... A mulher deveria, dentro do movimento umbandista, burilar seus sentimentos. Acredito seja esse o seu caminho. Deveria aproveitar o aspecto afetivo que é mais latente para penetrar em outras instâncias porque a mulher pensa... ao contrário do que muita gente por aí propala e deseja, a mulher sabe e tem condições de pensar, de realizar. E para pensar não precisa deixar de ser feminina, não precisa deixar as funções de Mãe e de esposa ou de médium. Quando pensa, precisa interagir mente e sentimento. Este é o equilíbrio que a mulher Umbandista precisa encontrar: o sentimento racionalizado, pois infelizmente devido aos padrões estabelecidos, dos quais falei, ela ainda é muito levada pelas sensações e pelos instintos. A mulher não é acéfala. Dentro do movimento Umbandista seria básico para seu progresso a compreensão desses fatores.

P. Como deixar de lado os padrões?
R. Deixando de acreditar neles. E muito principalmente, quebrando os condicionamentos. Entendendo um pouquinho sobre reencarnação, fica fácil saber as origens de alguns desses problemas. Muitos deles trazemos latentes em nosso inconsciente e apenas os repetimos, durante várias vidas, sem melhorarmos absolutamente em nada. Na minha opinião não deve existir padrões para nada. Não preciso de padrões em minha conduta, em minha educação ou em minha família. Preciso, antes, descobrir o que é a família, o que é a educação e o que é a conduta e ver como eu reajo com tudo isso, sem que ninguém me pré-estabeleça coisa alguma.

P. Ainda falta ao Movimento Umbandista este real sentimento de família?
R. Existe muita gente querendo ser o pai e a mãe do Movimento Umbandista. Uma família não tem muitos pais nem muitas mães. Isso vira bagunça, gera balbúrdia... A verdadeira paternidade ou maternidade é estabelecida através do respeito: tenho um Pai ou uma Mãe que eu respeito e que sei que sabe mais do que eu. É alguém que pode me ajudar a caminhar. A partir disto vou ser fiel a ele(a). Muita gente procura isto no Caboclo, no Pai Velho... mas mesmo por condições vibratórias eles ainda estão muito longe de nós... é preciso alguém mais perto, mais "tangível". Alguém que represente, hoje, de corpo presente, os nossos Orixás. Quando digo que o Movimento Umbandista tem muito "Pai" e muita "Mãe" quero dizer que ele merecia ter, na verdade, em vez de tantos "Pais" e tantas "Mães", mais filhos diletos, mais filhos responsáveis e fiéis, que fossem convictos naquilo que estão fazendo.

P. Onde estão as raízes da mulher como sacerdotisa? Basta ter diploma para ser uma?
R. Sabemos que diplomas, ou coisa que o valha, não servem para nada. Quando desencarnamos não levamos papel prá lugar nenhum. Papel não é sinônimo de vivência, não dá "condição iniciática" a ninguém. Uma Tradição e um discípulo que a segue repetem a eterna pergunta da iniciação: quem sou eu? Quem são nossos pais? Qual minha origem? A fidelidade aos ancestrais nenhum papel dá... as raízes da mulher sacerdotisa estão calcadas, como já disse, no raciocínio e no sentimento equilibrados. Devido à ausência desses fatores a maior parte das mulheres não vive a Umbanda como deveria. Elas vivem, sim, a parte social da Umbanda. Para você se considerar sacerdotisa a Umbanda deve tocar muito fundo em sua alma.

Texto revisado por Cris

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