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Era uma vez....

Atualizado dia 11/22/2007 12:31:00 PM em Autoconhecimento
por Centro Integrado de Ciências Ayurvedicas


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Vale do Rio Indo, Índia, 3000 a.C. O berço da que pode ter sido a primeira grande civilização do mundo. Foi lá que floresceu Mohenjo Daro, cidade que assombrou os arqueólogos em 1922, quando foi descoberta. O mais surpreendente nela, além de ter sido uma das maiores do mundo em sua época, era seu aspecto "moderno".

As ruas formavam quadras geometricamente exatas e as casas eram funcionais, bem distantes do estilo de construção monumental do antigo Oriente. Mas o que deixava suas contemporâneas no chinelo eram as instalações sanitárias. Diferentemente da Mesopotâmia, de Creta e do Egito, outros "berços da civilização", onde só havia banheiro nos palácios, em Mohenjo Daro instalações sanitárias e lugares adequados para lixo estavam em quase todas as casas.

A cidade contava com sistemas de água e esgoto tão avançados quanto os do Império Romano, que só surgiriam 2500 anos depois. Ainda assim, Mohenjo Daro acabou. Foi lá por volta de 2000 a.C., provavelmente por causa de invasões. Sabemos pouco sobre ela e sobre a civilização que a ergueu - sua escrita nem foi inteiramente decifrada. Mas o conhecimento de higiene gerado lá sobreviveu à destruição e teve grande influência sobre a medicina que começou a surgir na Índia.

No meio do segundo milênio a.C., outro povo entrou no subcontinente. Os arianos, vindos do centro da Ásia, ocuparam o vale do Indo e impuseram seus valores à civilização que lá vivia. Eles introduziram o sistema de divisão social em castas e a religião baseada nos Vedas.

Os Vedas são tradições transmitidas oralmente por gerações, só depois compiladas em textos em sânscrito. Foram produzidos pelos brâmanes, a casta que detinha o conhecimento cultural e religioso dos arianos. Na Índia atual, esses textos têm valor comparável ao das Escrituras para a civilização ocidental. Mas nem só de religião tratam os Vedas. Eles também são a fonte do conhecimento médico que vai constituir a base do ayurveda.

Os três primeiros Vedas - Rig Veda, Yajur Veda e Samaveda - são muito ligados ao misticismo bramânico ortodoxo e contêm descrições de práticas médicas que apelam para rituais mágicos e cultos a divindades. Mas o quarto Veda - Atharvaveda - é diferente. Ele foi composto por brâmanes dissidentes que se mudaram para as florestas, entraram em contato com a cultura autóctone da Índia e fundaram um movimento chamado aranyaka (de aranya, "floresta"). Esse Veda faz referência mais direta à fitoterapia e possui uma linguagem mais objetiva. "O Atharvaveda foi recusado pelos brâmanes tradicionais num primeiro momento, mas acabou sendo aceito", diz o cirurgião e médico naturalista Antônio César Deveza, tradutor para o português do Caraka Samhita, texto clássico do ayurveda. "Tanto que os arianos começaram a procurar médicos aranyaka porque eles tinham uma medicina mais eficiente que a baseada só em preces e rituais."

A transformação social gerada por invasões e guerras no século 5 a.C. fez com que a medicina se distanciasse cada vez mais da tradição ritualística. Nesse período, a influência dos brâmanes diminuiu, abrindo espaço para a assimilação de valores de outras culturas. Conceitos do budismo, um movimento muito influente na Índia daquele tempo, passaram a fazer parte do sistema. Os monges budistas tiveram um importante papel na disseminação da medicina ayurvédica e propiciaram o intercâmbio com a medicina chinesa - o outro grande sistema médico da época. "Há relatos de que a acupuntura era ensinada nos mosteiros budistas da Índia no início da era cristã", afirma o médico especialista em medicina chinesa Aderson Moreira da Rocha, presidente da Associação Brasileira de Ayurveda.

É desse caldeirão de influências que saem os tratados médicos Caraka Samhita e Sushruta Samhita, publicados entre os séculos 2 a.C. e 2 d.C. Neles são descritos os conhecimentos de anatomia, fisiologia, fitoterapia e cirurgia que formam o substrato do ayurveda. "Os procedimentos cirúrgicos dessa época eram tão avançados que uma técnica chamada retalho indiano é praticada por nós até hoje exatamente do mesmo modo que o Sushruta Samhita ensinava", diz Deveza. O retalho indiano é uma cirurgia em que se usa um pedaço da testa do paciente ainda ligado aos vasos sanguíneos para reconstituir o nariz. Isso exige um conhecimento de anatomia muito grande, algo que só pôde ser alcançado porque os pioneiros do ayurveda dissecavam cadáveres, prática proibida na cultura ariana - e também na cristã por muitos séculos. "Nesse período, os indianos já conseguiam identificar vasos linfáticos, venosos e arteriais e fazer trepanações (cirurgias cranianas)", diz Deveza.

E qual foi o destino desse conhecimento tão avançado? Mais uma vez, a destruição. A era de ouro do ayurveda acabou entre os séculos 10 e 12, quando o norte da Índia sofreu invasões de muçulmanos que impuseram o sistema médico deles. Mas alguns textos foram preservados por monges que fugiram para o Tibete e o Nepal. E, quando o imperador mongol Akbar ordenou a compilação do conhecimento indiano no século 16, a tradição ayurvédica foi resgatada.

A última ameaça de extinção do ayurveda aconteceu com a ocupação da Índia no século 19 pelos ingleses que reconheciam como legítimas só as práticas médicas ocidentais. Mas a busca pelas raízes do ayurveda foi estimulada por Mahatma Gandhi durante o movimento nacionalista indiano, em meados do século XX. Ocorreu então um renascimento.
Hoje há 400 mil médicos ayurvédicos atendendo na Índia. Surgiu inclusive a Universidade de Ayurveda Gujarat, a única instituição universitária ayurvédica do mundo. O passo seguinte foi a chegada dessa tradição ao Ocidente - graças a divulgadores como Vasant Lad, primeiro, e Deepak Chopra, depois.

Hoje em dia, há um grande esforço acadêmico para compreender a medicina ayurvédica. Esse é o intuito de iniciativas como a 8ª Conferência Internacional de Ayurveda, realizada no mês passado na Universidade de Cambridge, Inglaterra, com o objetivo de promover o estudo do ayurveda "a partir das perspectivas histórica, literária, antropológica, sociopolítica, econômica, biomédica e farmacológica".

O emprego de tantas áreas do conhecimento para explicar um sistema médico se justifica porque, diferentemente da medicina ocidental, que pode ser compreendida por meio da visão analítica característica do pensamento científico, o ayurveda se baseia em uma concepção holística do mundo, na qual o todo não se resume à soma das partes. Um médico ayurvédico não vai tratar apenas sua cabeça, sua garganta ou suas costas. Para ele, as dores que você sente são sinais de um desequilíbrio que afeta todo o corpo.

Fonte: Revista Super Interessante, Edição 203, Agosto/2004

Texto revisado por Cris

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