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FALANDO MAIS SOBRE A MORTE

Atualizado dia 11/26/2007 10:29:18 PM em Autoconhecimento
por Renato Liberman


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Continuando a abordar o assunto morte, perda e luto, segue mais um pouco do trabalho que venho fazendo.

Freud, o criador da psicanálise, muito influenciado pela crueldade da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), escreveu sobre a morte. Em 1915, em seu artigo “Reflexões para os Tempos de Guerra e Morte”, ele ressalta que falamos da morte como se nunca fossemos acometidos por tal fato, isto é, como se a morte só ocorresse ao outro e ainda assim como obra do acaso: “no inconsciente de cada um de nós está convencido de sua própria imortalidade”.

Em relação a encarar a morte, mesmo do outro, não somos capazes de concordar que quem sofre somos nós e não os mortos e por isso não há a necessidade de ser feito algo para eles. “A consideração pelos mortos que, afinal de contas, não mais necessitam dela, é mais importante para nós do que a verdade e, certamente, para a maioria de nós, do que a consideração pelos vivos.” (Freud, 1915)

Além de refletir sobre o encarar da própria morte, Freud, em “Luto e Melancolia” (1917), aborda a morte de alguém próximo, isto é, a perda e suas conseqüências para quem fica. O próprio Freud enfrentou, não uma, mas algumas vezes, a morte de frente. Tanto em relação à perda de sua filha, seu filho e seu neto, quando em adquirir um câncer em 1923 que o acompanhou até seus últimos dias.

Os estudos relacionados à morte e perda tiveram sua continuidade com outros autores de grande importância para a psicanálise e psicologia. Klein, Bolby, Winnicott, Segal e outros, deram continuidade aos estudos freudianos, acrescidos de importantes contribuições. Foi em 1917 que Freud escreveu seu estudo clássico denominado "Luto e Melancolia" que serviu como base e inspiração para esses outros trabalhos. É interessante apontar que ele chama a nossa atenção para o fato de que fugimos da morte ao invés de aproveitar a vida, refugiando-nos num mundo de fantasia e ilusões. (Oliveira, 2001)

De um modo geral, o luto é a reação à perda de um ente querido. Pode-se considerar também o luto como uma reação à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, o ideal de alguém, um objeto pertencente a este alguém e até mesmo uma outra pessoa que estivesse como “substituto” do falecido.

Estar de luto é lamentar a perda. Trata-se, segundo Freud, de um processo interior difícil, lento e doloroso de adaptação a essas perdas. De acordo com Judith Viorst em seu livro “Perdas Necessárias” (1988), o término dessa lamentação depende de diversos fatores, dentre eles o modo como sentimos nossa perda, da idade de quem perdemos, da nossa própria idade, de como ocorreu a morte, de nossas forças interiores e do apoio externo, além de depender de nossa história pessoal. É uma etapa necessária para superar a dor.

Segundo Bromberg (2000), o luto é “uma ferida que precisa de atenção para ser curada”. Para que haja esse processo de cura é necessário reconhecer e aceitar a realidade de que a morte ocorreu e que a relação com o falecido agora está acabada. Além disso, é preciso vivenciar e lidar com as emoções e problemas que resultam dessa perda. Tudo isso leva um período de tempo e depende exclusivamente de cada indivíduo e da sociedade em que este vive, pois cada cultura tem a sua maneira de encarar a morte.

Como ponto de partida, Freud diz em seus estudos que os sintomas ocasionados pela perda de alguém são comuns tanto ao luto quanto à melancolia: “a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar”. E acrescenta que no caso da melancolia há “uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação, culminando numa expectativa delirante de punição”.

Abraham, em 1924, trouxe uma grande contribuição para diferenciar o luto normal do patológico. Para ele, as auto-acusações dos melancólicos estavam mais ligadas à pessoa perdida do que a eles mesmos. (Bromberg, 2000). O processo psíquico do luto consiste na retirada da libido do objeto perdido, isto é, da pessoa morta. Porém o enlutado tem certa resistência a abandonar essa posição, o que pode levar à alucinação. Mas cada pensamento e cada lembrança são hiper-investidos e essa libido pode ir se desligando aos poucos até que se liga a outros objetos. Este seria o término do luto. Já o melancólico não consegue se desligar pelo motivo de que ele sabe quem perdeu, mas não tem idéia do que perdeu nesse alguém. (Oliveira, 2001)

No luto, perde-se alguém. Na melancolia perde-se algo em alguém e este algo está inconsciente. (Freud, 1974)

Se você está passando por essa fase de luto ou depressão após uma grande perda, seja ela por morte ou término de relação, saiba que não é o fim do mundo e que você não é a única pessoa que está assim, pelo contrário, não há quem não passe por isso. Essa é a vida. Essa é a morte.

Renato Liberman
Psicanalista

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Renato Liberman   
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