HISTÓRIA DE UMA VIDA : VALEU A PENA?
Atualizado dia 1/6/2007 11:38:46 PM em Autoconhecimentopor Antonio Carlos Evangelista
Vamos à história.
Nascido em família humilde, em tenra idade foi internado em um colégio longe da família, sofrendo pela saudade, novo clima, pessoas estranhas; mas acabou se acostumando, quando concluiu o segundo grau.
Neste período teve a oportunidade de praticar quase todos os tipos de esporte, como basquete, vôlei, futebol, tênis, natação, corrida; aprendeu os princípios básicos do piano, a tocar bateria (hoje chamam “batera”) e participou da escola de cantores do colégio. Passou a participar das peças teatrais que se realizava para os alunos, tendo sido muitas vezes o ator principal. Aprendeu um pouco de marcenaria, sapataria e foi o melhor barbeiro da escola.
Voltando para perto de seus familiares foi obrigado a trabalhar para poder custear seus estudos; cursos especiais já que o nível superior conseguiu fazer o gratuito. Com muito trabalho e muito estudo para aperfeiçoamento a fim de conseguir alcançar um emprego condizente, ocasionou a impossibilidade de concluir o nível superior.
Optou por montar uma empresa de representações, inicialmente colocando no mercado inúmeros artigos em pouca quantidade, mas, com perseverança, passou para grandes quantidades e a clientes da alta estirpe: órgãos de economia mista, federais, etc. etc.
Mas, os representantes, notando que os valores arrecadados eram volumosos, ludibriaram-no com desculpas de que tiveram prejuízo, e outros mais arrojados, negaram-se a efetuar os pagamentos que lhe eram devidos.
Entrou com ações de cobrança judicial, mas sendo essas empresas de fora da cidade onde residia, os gastos tornaram-se enormes, tendo que desistir; além do mais, na duração dos processos (como é neste país!) a maioria das empresas foi à falência.
Passou, então, a trabalhar com manutenção predial atendendo a clientes em geral, em especial escolas, condomínios, órgãos militares, federais, estaduais, municipais e de economia mista. No início, ia desenvolvendo bem os contatos, serviços e pagamentos. Com o correr do tempo começou a surgir concorrentes que ofereciam supostamente serviços idênticos aos dele, em condições mais vantajosas do que ele podia oferecer. Vieram, então, as dívidas de manutenção empresarial, família e empregados. Para salda-las vendeu carros, jóias, imóveis, liquidando-as todas e recomeçando em local bem menor com pouquíssimos colaboradores.
Passaram-se 45 anos de atividades ininterruptas. Sem nenhum imóvel, sem nenhum automóvel, sem jóias, sem dinheiro aplicado. Ao contrário, sempre com débitos bancários a liquidar. Filhos criados, formados, exercendo suas profissões, cada um com sua família visando o crescimento financeiro. Ele, com sua companheira, lutando para sobreviver financeiramente e tentando resgatar suas dívidas com os credores. Aposentadoria que por mais de 4 anos vem tentando e somente agora, por intermédio de um Advogado, vê a possibilidade de ter concluído o processo, embora tenha tentado junto ao próprio INSS e até por meio da Ouvidoria desse Órgão, que ano após ano o informava estar providenciando uma solução.
Na realidade, nada acontecendo de positivo! Aí, ele parou sua narração e me fez essa pergunta: “VALEU A PENA?”
Então, fiquei a pensar com meus botões... Se pensarmos que com seus conhecimentos adquiridos na juventude, em vez de trabalhar e estudar, tivesse enveredado para uma das modalidades esportivas ou para a arte teatral ou para criar um conjunto musical podendo ampliar para uma banda, orquestra, criar uma oficina de consertos de calçados, partir para ser um cantor, um pianista, um baterista de conjunto ou até de uma orquestra, ou mesmo ser um ator de teatro ou de novela, cinema... Olhando por esse lado achei que seriam inúmeras as possibilidades de se realizar financeiramente sem tanto esforço podendo até ser uma celebridade.
Se fizermos um paralelo da vida desse meu amigo com as que nos apresentam hoje, vemos de imediato que, realmente, não valeu a pena! Olhamos para a música e vemos qualquer um, sem estudos, sem prática, cantando qualquer besteira, ser promovido a estrela, gozando com seus shows de cachês altíssimos que lhe proporciona adquirir mansões, carros, jatos, fazendas, etc. Olhamos para o teatro e vemos que a maioria vem de programas onde sexo ou mostrar o corpo é o centro da questão. Carinhas lindas e cabecinhas totalmente ocas, e logo depois estão fazendo parte de novelas ou sendo promovidas a globais percebendo salários de respeito.
Pelo lado do esporte, é claro, teria seus sacrifícios, seus treinamentos permanentes, mas para ele que já estava acostumado a tudo isso nada seria novidade. Entretanto, vejam o valor que é dado aos jogadores (diga-se de passagem, quase a maioria sem estudo algum): recebem altos salários, tendo o direito de a todo instante desfalcarem a equipe por dores, torções, gripes, e nada disso implica em não receberem seus altos salários. Isso se aplica no basquete, no vôlei, no tênis e assim por diante.
Fiquei, então, matutando: será que se esse amigo, em vez de lutar arduamente, tendo que trabalhar e estudar, casar, ter filhos, criá-los e estar hoje na situação mencionada, não partisse para uma dessas atividades, ou mais ainda, se dedicasse à política (que, aliás, não precisa de requisito algum) e depois de conquistar sua projeção, tanto social como econômica, aí sim, passaria a pensar em constituir uma família? Não teria sido melhor?
Foi quando cheguei à conclusão: valeu a pena?
Acho que sim, pois este amigo, com todos os percalços que a vida veio lhe aplicando, mostrou-se um guerreiro, não temendo a luta, não se dobrando à imoralidade, não se vendeu (como muitos fazem); criou, sim, com muito sacrifício, seus filhos, dando-lhes o que de melhor podia oferecer e que ninguém pode comprar: dignidade, moral, decência.
Valeu a pena? Sim, pois hoje este amigo é uma pessoa que não desanimará frente a qualquer obstáculo que surja. Sim, pois este amigo sabe dar valor ao que possui, tendo em vista que tudo o que conseguiu foi mediante muita luta, muita dignidade, muita persistência.
Valeu a Pena? Tenho certeza de que se de um lado poderia ser bem mais fácil a trilha de suas conquistas, do outro lado, é um ensinamento para todos nós que a qualquer obstáculo, fazemos uma lamúria, reclamamos, sem procurarmos enfrentar e transpor este obstáculo.
Valeu a Pena? Sim, pois esse meu amigo, tenho certeza, qualquer caída que sofra não o abala jamais, pois já está acostumado a levantar-se e a olhar para a frente.
Terminei minha divagação mais alegre, mais satisfeita, mais convicta de que temos que seguir esses exemplos que se apresentam e não ficarmos desanimados por qualquer obstáculo.
Texto revisado por Cris
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