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HOMENAGEM A CLAUDIO WENDELL - 2

Atualizado dia 10/23/2006 10:58:49 PM em Autoconhecimento
por Christina Nunes


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Claudio Wendell... como ele mesmo se apresentou diante das nossas caras desconfiadas quando, sem a menor cerimônia, se postou na parte dianteira do ônibus com um estranho nariz de palhaço preso ao rosto. É mineiro de Belo Horizonte: um rapaz moreninho e magro, usando um gorro estilo cantor de reggae; ator, de um tal de grupo chamado "Os Retardados"... acabou um curso artístico qualquer lá, em Belzonte, e veio pra cá; para fazer o que vem fazendo todos os dias, dentro das conduções de passageiros que correm de um lado para outro, no tumulto da cidade... e o que ninguém, de início, conseguiu entender o que diabos era, logo de cara!

As pessoas, como eu, e a princípio, como pude notar, olhavam para ele de esguelha, quando cumprimentou a todos com um sonoro e estranhamente feliz "boa noite". Ninguém respondeu, como era de se esperar. As pessoas, em qualquer ônibus urbano, àquela hora da noite e metidas num engarrafamento cavalar e torturante, só pensam em chegar em casa! Algumas tentando enganar a passagem do tempo com leituras das mais variadas; outras, conversando; outras, como eu me achava ali, mergulhada em seus pensamentos, longe em espírito... umas, ainda, encarando a situação com enfado, de quem já está habituado a um sem número de visitantes extemporâneos em coletivos, vendendo balas, revistas, chocolates ou até mesmo tocando, em violão, musiquinhas religiosas ou populares; gente doente; gente que se alega com aids; gente paralítica, cega; crianças... todos, no fim das contas, pedintes das mais variegadas espécies, que compõem a fauna urbana que procura ganhar a vida como pode... Por isso mesmo, então, que a maioria, de início, nem deu atenção ao Claudio Wendell!

Mas mesmo assim, ele continuou falando. Após se apresentar, fez alguns mais se voltarem para encará-lo, em estranheza, ao anunciar, aparentemente sem nenhuma pressa, que estava ali para comemorar o aniversário de alguém que se achava dentro do ônibus. Eu mesma franzi o cenho; como assim, comemorar o aniversário de alguém?!

Foi a partir deste ponto que principiou-se a desencadear a insanidade dentro do coletivo, lançando-nos para fora da realidade infame e monótona de mais uma viagem de segunda-feira; jogando todos ali - os desconfiados e os descontraídos, os receptivos e os nem tanto, jovens, velhos, mulheres ou crianças - para uma outra dimensão que, em circunstâncias normais, é impensável de se admitir neste contexto cotidiano de viagem noturna de volta para casa...

Porque o tal Claudio Wendell, após dar início ao seu insuspeitado espetáculo particular com este aviso esquisito, aos poucos e imperceptivelmente, envolveu todo mundo no seu clima de hilaridade e de pilhéria.

Começou dizendo que, para a festa de aniversário que pretendia comemorar - da trocadora que a isso arregalou para ele seus olhos, em princípio estupefata - estavam presentes celebridades mundiais, sentadas ou de pé... E deu de entrevistar as supostas celebridades: uma mocinha sentada logo à frente, que batizou de Witney Houston... arrancando as primeiras gargalhadas no ônibus cheio... Depois, um rapaz ao seu lado, mudo feito uma esfinge, a quem nomeou Jean Claude Van-Dame... mais gargalhadas... e ia fazendo perguntas sem pé nem cabeça para cada "celebridade" que ia identificando no coletivo inicialmente estupefato, mas que foi paulatinamente desandando em risadas perplexas diante da cena inacreditável, em plena viagem irritante num ônibus, durante uma noite de segunda-feira!

E Claudio Wendell não parava, não dava tempo para se tomar fôlego: fez todo mundo cantar parabéns para a estupefata trocadora, batendo palmas; depois nomeou um dos passageiros de Gugu Liberato; quando mais gente entrava no ônibus, ele ia anunciando: "Temos agora Nelson Mandella! E Elba Ramalho! Hebe Camargo!" E ia entrevistando o pessoal atônito que ia passando pela roleta de olhos arregalados: uns poucos, sérios e enfezados; a maioria entrando e aderindo ao insólito clima criado dentro do veículo, sorrindo e respondendo com humor às perguntas estapafúrdias que lhes dirigia o estranho animador daquela festa exótica!

Massa, da fórmula 1! Thiago Lacerda! Nem eu escapei - Marilyn Monroe, por causa do tom louro dos meus cabelos, num momento em que já chorava de rir, quase a ponto de ter cólicas. A moça sentada a meu lado tentou, durante algum tempo, teimar em ler, estóica, o seu jornal, mas já desistira e o deixara de lado, e acompanhava a crise generalizada de gargalhadas que iam acompanhando cada entrevista e cada musiquinha ao ritmo de palmas ("lá vem o pato, pato aqui pato acolá"... e mandava o motorista fazer quá-quá... ao que o motorista, bem humorado, respondia lá na frente umas besteiras, também sem nenhum sentido...).

Do meio para o fim do inesperado "show", que consumiu quase a viagem inteira, divertindo a todos como se tivessem subitamente se transportado para uma viagem de férias ou para uma excursão das que, muitas vezes, são animadas desta forma pelos guias turísticos, Claudio distribuiu para cada um envelopinho, para que contribuisse com o seu trabalho quem pudesse ou quisesse, e com quanto pudesse... e, ao mesmo tempo, prosseguia com suas entrevistas e piadas com todas as "celebridades" presentes no ônibus: meras pessoas do dia-a-dia cansativo de uma cidade grande, cansadas em princípio, como em toda viagem de volta; talvez que desanimadas... mas, ali, naquela noite de segunda-feira, presenteadas, de inopino, com aquele espetáculo à parte, com aquele banho de alegria e de bom humor, em circunstâncias e local onde quase nunca tem lugar nada que não seja enfado e stress!

Este é, portanto, o meu homenageado: Claudio Wendell! Este digníssimo mineiro, ator de ruas... possuidor de um genuíno, divino, autêntico e mágico "dom": o dom de alegrar o espírito humano numa conjuntura habitualmente tão ingrata!

Sim! Em tempos de caos, de medo e de tumulto urbano, quando todas as pessoas se temem, e parecem desconfiar umas das outras. Quando quase não tem mais lugar o sorriso, a descontração, a troca amigável entre indivíduos que, perdidos no vendaval das grandes cidades, mal se apercebem e menos ainda se falam ou compartilham, numa volta para casa, momentos de alegria e de concórdia, por menores que sejam...

Que algum dia alguém... alguém com poder de decisão na vida artística... descubra Claudio Wendell e dê-lhe a chance de deliciar a muito mais pessoas com o virtuosismo de sua rara capacidade para fazer - e nas condições mais adversas! - o ser humano sorrir!

Nalgum ponto da cidade, para fora da ribalta iluminada de algum ônibus carregando trabalhadores e viajantes cansados e melancólicos - pobre ribalta de cidade grande! - a estas horas, deve estar se iniciando algum inesperado espetáculo: o espetáculo impagável de Claudio Wendell! E ele certamente está levando, ao menos temporariamente, estas pessoas a se esquecerem de si mesmas e de seus problemas e da noite sombria que as cerca, com seus dramas, com seu tumulto e com suas ameaças cotidianas...

Que Deus lhe guarde, Claudio Wendell! E vá em frente! O show não pode parar!

Com amor,

Lucilla
Zênite
https://www.zenite.recantodasletras.com.br
Elysium
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Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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