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Lei Penal Espiritual

Atualizado dia 4/5/2017 9:04:24 AM em Autoconhecimento
por Antony Valentim


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Às vezes nos questionamos se há mesmo justiça divina, quando acontecem coisas que aparentemente não são justas, ou que nos causam aquela dor profunda, aquele sentimento de tristeza intensa, aquela opressão desesperadora. Mas há de se pensar: será que estamos sendo coerentes com a vida?
Há momentos em nossas vidas, em que temos a tola crença de que nossos atos não são vistos, nem registrados pela Justiça Divina. Nos esquecemos (ou não sabemos) que tudo aquilo que pensamos, sentimos, desejamos, maldizemos, ou fazemos, é perfeitamente registrado na contabilidade energética de nosso saldo de créditos e débitos da vida. Nada fica de fora. Nunca. Jamais. E se você não acreditar nisso, poderá constatar essa realidade através da própria experiência, e do tempo.
Tudo quanto fazemos, é como se fosse um plantio, que é sempre livre. Mas a colheita, é obrigatória. Quando não plantamos boas sementes, infelizmente teremos que colher frutos amargos.
Ao sofrermos, é justo e digno que recebamos o auxílio necessário para nosso reequilíbrio, mas esse artigo tem por objetivo levar a uma maior compreensão quanto ao mecanismo que nos leva a sofrimentos que poderiam ser completamente evitados.

- Se eu sofro porque minha amante não abandona o marido para ficar comigo, estou sendo tolo. Qual é a chance de não sofrer se eu mesmo me permiti correr um alto risco de viver uma "felicidade" que custaria a decepção de alguém? 
- Se eu reclamo que meu relacionamento está uma droga, mas vivo ameaçando o outro de que vou me suicidar se ela não ficar comigo, qual é a chance do relacionamento não estar uma droga? Nenhuma relação se sustenta por chantagens.
- Se eu esbravejo que minha namorada não me dá amor, carinho e afeto, mas ajo como quem quer receber sem dar, qual é a chance de eu não sofrer com esse tipo de atitude? 
- Se eu protesto dizendo que o meu par tem um "jeito de ser" que me irrita desde o começo, por que então me deixei envolver? Pois se cada um tem uma personalidade e um jeito de ser, que cabimento há em eu querer que o outro mude só para satisfazer minha vontade? Compatibilidade se mede percentualmente na Kabbalah: percentuais altos combinam; percentuais baixos não combinam, e não há nada o que fazer sobre isso a não ser ter paciência e tolerência.
- Se eu me queixo de que todos me abandonaram, mas usualmente eu trato as pessoas com rispidez, nervosismo e agressividade, por que a queixa se a consequência óbvia seria realmente que todos se afastassem de mim?
- Se eu sei claramente que aquela pessoa só está interessada em ter um relacionamento puramente sexual, e mesmo assim insisto em criar a expectativa de que isso um dia poderá mudar, se não mudar, que direito tenho eu de exigir compromisso do outro se a pessoa deixou claro que não o queria? 
- Se eu sofro um mal ou uma injustiça, mas em meu passado (de ontem, ou da vida anterior, não importa) eu já coadunei com tanto mal a outros, ainda precisarei, em plena Nova Era, me perder na inútil crença de que o mal que faço aos outros ficará por isso mesmo?  
- Se reclamo que um grande amor perdido não volta porque não me perdoa de modo algum, mas em minha consciência eu sei que em inúmeras vezes eu também não perdoei a outras pessoas, como posso ter a expectativa tão inútil de que a vida me dará algo que eu mesmo nunca pratiquei?
- Se me lamento pela minha mulher ter me deixado por outro, sabendo em minha consciência de que eu nunca me preocupei de verdade com os anseios, os desejos e as necessidades existenciais dela, como posso esperar um resultado positivo disso?

Parece que jogamos com a vida, sabemos que o risco de perder é altíssimo em nossas apostas mal feitas, perdemos, e depois nos revoltamos por termos perdido. Que coerência há em fazer coisas que sabemos ter alto grau de risco, esperando que nada fuja a nossos planos?

É o mesmo que soltarmos um copo de vidro em um chão de mármore, ele quebrar, e nos revoltarmos.

Não quero aqui entrar no mérito de que aquilo que fazemos seja certo ou errado, porque erros todos nós cometemos, temos o direito de cometer, e todos nós somos passíveis de falhar muitas vezes sim: eu, você, cada um de nós. Seria ridículo de minha parte condenar quem erra, quando eu mesmo já errei inúmeras vezes na vida. Além disso, quem erra, quem cai, quem está naquele fosso escuro da solidão pelas próprias falhas, merece muito mais compaixão e compreensão, do que ofensas ou verdades sendo lançadas na própria face. O foco desse artigo não é condenar quem erra, nem massacrar quem fez más escolhas. Todos nós estamos sujeitos a isso e via de regra o erro, em última instância, é uma ótima forma de aprendizado.

Mas falo aqui é da expectativa errada em relação a alguma circunstância difícil provocada pela nossa própria escolha,e da falta de entendimento de que toda ação de hoje teve uma causa no passado, tanto quanto toda ação de agora terá uma consequência no futuro. Você pode errar mil vezes, é direito seu. Mas como uma das nossas maiores causas de sofrimento são expectativas não atendidas, você sofreria menos se compreendesse que as chances de uma expctativa positiva se realizar com um plantio negativo são mínimas. Entenda: você pode fazer a escolha que você quiser, certo ou errada, porque Deus lhe entregou uma coisa chamada "livre-arbítrio". Não tem problema algum exercer o seu da forma que você quiser. O problema é criar a expectativa de que aquilo tem 100% de chance de sucesso. Isso não existe. Temos que ter em mente que "colhemos o que plantamos".
Isso não é uma mera colocação filosófica, mas uma constatação de que existe um Código Penal Espiritual muito claro e objetivo.

Então, alguém dirá: isso significa que as terapias que me liberam de meus carmas não funcionam? Funcionam. Mas provavelmente não do jeito que as promessas mercantilistas divulgam. Vejo uma torrente de promessas de que a Terapia de Vidas Passadas X, ou a Regressão Y, ou o Reiki N, ou a Mesa Radiônica Z, ou que mil coisas, vão "resolver definitivamente" a questão de alguém. Nem sempre. Se a terapia proposta estiver desalinhada com a Lei Espiritual e do caso daquela pessoa específica, serão apenas promessas falsas. Exige-se muita responsabilidade para se propor um tratamento que garanta o resultado A ou B. Na melhor das hipóteses, tratamentos sérios que realmente funcionam são como empréstimos que a misericórdia divina nos concedeu para que eu salde meu débito, tenha um saldo de crédito para investir em minha reforma interior, e assim poder quitar meu débito total com a Lei.

Na Lei divina, não existe nenhuma necessidade de "apresentarmos provas" de "culpas" ou "inocências". Tudo o que fazemos fica como que gravado no HD interno de nossa consciência e é inalterável. A Lei Divina usa essa informação, tanto quanto nosso desejo de reforma íntima, para avaliar se merecemos ou não aquele empréstimo celeste com o qual pagaremos nossas dívidas, e ainda investiremos cada ato nosso em prol do bom e do justo, ainda que cometamos falhas ou tenhamos quedas nesse processo. Deus olha muito para "o desejo do coração". Nada é superior à Lei Divina, que tem seu Código próprio.

Esse "Código Penal" de ordem espiritual, foi resumidamente descrito na obra "O Céu e o Inferno", de Alan Kardec (Decodificador do Espiritismo) em seu Capítulo VII, e retrata "As Penas Futuras Segundo o Espiritismo". Talvez seja uma das boas formas (embora existam outras) de compreender a dinâmica de funcionamento do perdão, do sofrimento, da felicidade, da lei da ação e reação, de porque coisas desagradáveis nos acontecem, de como acionar a dinâmica de recursos positivos, como Deus nos vê, livre-arbítrio, orgulho, misericórdia, pós morte, imperfeições, tormentos, purgatório e tantas outras coisas que muitos de nós não compreendemos. Transcreveremos aqui tal conteúdo, com um breve aditamento de um esclarecedor vídeo de Divaldo Pereira Franco, o maior palestrante espírita brasileiro que percorre todo o mundo disseminando preciosos ensinamentos Cristãos.

Código Penal da Vida Futura

O Espiritismo não se apoia, pois, numa autoridade de natureza particular para formular um código fantasioso. Suas leis, no que toca ao futuro da alma, são deduzidas de observações positivas sobre os fatos e podem ser resumidas da maneira seguinte:

1º) A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as conseqüências de todas as imperfeições de que não se libertou durante a vida corpórea. Seu estado feliz ou infeliz é inerente ao grau de sua depuração ou das suas imperfeições.

2º) A felicidade perfeita é inerente à perfeição, quer dizer à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é ao mesmo tempo uma causa de sofrimento e de privação de ventura, da mesma maneira que toda qualidade adquirida é uma causa de ventura e de atenuação dos sofrimentos.

3º) Não há uma só imperfeição da alma que não acarrete consequências desagradáveis, inevitáveis, e não há uma só qualidade boa que não seja fonte de ventura. A soma das penas é assim proporcional à soma das imperfeições, como a dos gozos é proporcionada à soma das boas qualidades.

A alma que tiver, por exemplo, dez imperfeições, sofrerá mais do que aquela que tiver apenas três ou quatro. Quando dessas dez imperfeições só lhe restarem um quarto ou a metade, ela sofrerá menos, e quando nada mais restar, ela nada sofrerá, sendo perfeitamente feliz. É como acontece na Terra: aquele que sofre de muitas doenças padece mais do que o que sofre apenas de uma ou não tem nenhuma. Pela mesma razão, a alma que possui dez qualidades boas goza de mais felicidade que a outra que possui menos.

4º) Em virtude da lei do progresso, tendo cada alma a possibilidade de conquistar o bem que lhe falta e libertar-se do que possui de mal, segundo os seus esforços e a sua vontade, resulta que o futuro está aberto para qualquer criatura. Deus não repudia nenhum de seus filhos. EIe os recebe em seu seio à medida que eles atingem a perfeição, ficando assim a cada um o mérito das suas obras.

5º) O sofrimento sendo inerente à imperfeição, como a felicidade é inerente à perfeição, a alma leva em si mesma o seu próprio castigo onde quer que se encontre. Não há pois necessidade de um lugar circunscrito para ela. O inferno está assim por toda a parte, onde quer que existam almas sofredoras, como o céu está por toda a parte, onde quer que as almas sejam felizes.

6º) O bem e o mal que praticamos são resultados das boas e das más qualidades que possuímos. Não fazer o bem que se pode fazer é uma prova de imperfeição. Se toda a imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não só por todo o mal que tenha feito, mas também por todo o bem que podia fazer e que não fez durante a sua vida terrena.

7º) O Espírito sofre segundo o que fez sofrer, de maneira que sua atenção estando incessantemente voltada para as conseqüências desse mal, ele compreende melhor os inconvenientes do seu procedimento e é levado a se corrigir.

8º) A justiça de Deus sendo infinita, todo o mal e todo o bem são rigorosamente Ievados em conta. Se não há uma única ação má, um só mau pensamento que não tenha conseqüências fatais, também não há uma única ação boa, um só bom movimento da alma, numa palavra, o mais ligeiro mérito que fique perdido. E isso, mesmo entre os mais perversos, porque representam um começo de progresso.

9º) Toda falta que se comete, todo mal praticado é uma dívida contraída e que tem que ser paga. Se não for nesta existência, será na próxima ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquilo que se paga na existência presente não será cobrado na seguinte.

10º) O Espírito sofre de acordo com as suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no corporal. Todas as misérias, todas as dificuldades que ele enfrenta na vida corpórea são as conseqüências de suas próprias imperfeições, as expiações de faltas cometidas nesta mesma existência ou nas existências anteriores.

11º) A expiação varia segundo a natureza e a gravidade da falta. A mesma falta pode assim provocar expiações diferentes, segundo as circunstâncias atenuantes ou agravantes nas quais ela foi cometida.

12º) Não há, no tocante à natureza e a duração do castigo, nenhuma regra absoluta e uniforme. A única lei geral é a de que toda falta recebe uma punição e toda boa ação tem a sua recompensa segundo o seu valor.

13º) A duração do castigo está subordinada ao melhoramento do Espírito culpado. Nenhuma condenação é pronunciada contra ele por tempo determinado. O que Deus exige para termo dos sofrimentos é uma melhora verdadeira, efetiva, com um retorno sincero ao bem.

O Espírito é assim e sempre o árbitro do seu próprio destino. Pode prolongar os seus sofrimentos pelo seu endurecimento no mal e abrandá-los e até mesmo abreviá-los pelos seus esforços em praticar o bem.

Uma condenação por tempo determinado, qualquer que fosse esse tempo, teria o duplo inconveniente de fazer o Espírito sofrer inutilmente depois de melhorado, ou de cessar antes que ele se libertasse do mal. Deus, que é justo, pune o mal enquanto ele existe, e deixa de punir quando o mal deixou de existir. Ou, se quisermos, sendo o mal moral a própria causa do sofrimento, este dura somente enquanto aquele subsiste e a sua intensidade diminui à medida que o mal vai desaparecendo.

14º) A duração do castigo estando subordinada ao melhoramento do Espírito, disso resulta que o culpado que não se melhorasse continuaria sofrendo sempre, e que para ele a pena seria eterna.

15º) Uma condição que é inerente à inferioridade dos Espíritos é a de não ver o termo de sua situação e acreditar que sofrem para sempre. Isso faz que para eles o castigo pareça eterno.(29)

16º) O arrependimento é o primeiro passo para o melhoramento. Mas ele apenas não basta, sendo necessárias ainda a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e as suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, porque desperta esperança e prepara a reabilitação, mas somente a reparação pode anular o efeito ao destruir a causa. O perdão seria uma graça e não uma anulação da falta.

17º) O arrependimento pode ocorrer em qualquer lugar e tempo. Se ele for tardio, o culpado sofre por mais tempo.

A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que são a consequência da falta cometida, seja desde a vida presente ou seja após a morte, na vida espiritual, ou ainda numa nova existência corpórea, até que os traços da falta tenham desaparecido.

A reparação consiste em praticar o bem para aquele mesmo, a quem se fez o mal. Aquele que não repara os seus erros nesta vida, por fraqueza ou má vontade, tornará a encontrar-se, numa outra existência, com as mesmas pessoas que ofendeu, e em condições escolhidas por ele mesmo para poder provar-lhes o seu devotamento, fazendo-lhes tanto bem quanto o mal que havia feito.

* Perpétuo é sinônimo de eterno. Dizemos: as neves perpétuas, os gelos eternos dos polos, e também se diz: o secretário perpétuo da Academia, o que não quer dizer que se trate de eternidade, mas somente de um tempo indeterminado. Eterno e perpétuo se empregam, pois, também no sentido de indeterminação. Nessa acepção se pode dizer que as penas são eternas quando entendemos que não têm duração limitada: são eternas para o Espírito, que não vê o seu fim. (N. de Kardec)

Nem todas as faltas acarretam um prejuízo direto e efetivo. Nesses casos, a reparação se realiza fazendo-se o que se deixou de fazer, cumprindo-se os deveres que foram negligenciados ou desprezados, as missões em que se tenha falido, praticando-se o bem reparador do mal que se fez. Isso quer dizer, sendo humilde quando se foi orgulhoso, bondoso quando se foi duro, caridoso quando se foi egoísta, benevolente quando se foi maldoso, trabalhador quando se foi preguiçoso, útil quando se foi inútil, temperante quando se foi dissoluto, bom exemplo quando se foi mau e assim por diante. É dessa maneira que o Espírito progride, tornando proveitoso o seu passado.(30)

18º) Os Espíritos imperfeitos são afastados dos mundos felizes porque perturbariam a sua harmonia. Permanecem nos mundos inferiores onde expiam as suas faltas pelas tribulações da vida e se libertam das suas imperfeições, até merecerem encarnar-se em mundos moral e fisicamente mais adiantados.

Se podemos conceber um lugar de castigo determinado é precisamente nos mundos de expiação, pois é ao redor desses mundos que pululam os Espíritos imperfeitos desencarnados, esperando uma nova existência que, permitindo-lhes a reparação do mal que fizeram, os ajudará a progredir.

19º) Como o Espírito conserva sempre o seu livre-arbítrio, melhora às vezes de maneira lenta e sua obstinação no mal é bastante tenaz. Pode persistir nessa situação durante anos e séculos, mas chega sempre o momento em que a sua teimosia em desafiar a justiça de Deus se abate diante do sofrimento, e então, malgrado a sua fanfarronice, ele reconhece o poder superior que o domina. Desde o momento em que manifesta as primeiras luzes do arrependimento, Deus o faz entrever a esperança.

Nenhum Espírito está na condição de nunca se melhorar. Se assim fosse ele estaria fatalmente destinado a uma eterna situação de inferioridade e escaparia à lei da evolução que rege providencialmente todas as criaturas.

20º) Sejam quais forem a inferioridade e a perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm o seu anjo da guarda que vela por eles, vigia as expansões da sua alma e se esforça para despertar-lhes bons pensamentos, desejos de progredir e de reparar numa nova existência o mal que tenham feito. Não obstante, o guia ou protetor age na maioria das vezes de maneira oculta, sem exercer nenhuma pressão. O Espírito deve melhorar-se pela força de sua própria vontade e não por força de qualquer constrangimento. Deve agir bem ou mal em virtude de seu livre-arbítrio, sem ser fatalmente empurrado num sentido ou noutro. Se fizer o mal, sofrerá as suas conseqüências enquanto permanecer no mau caminho. Desde que dê um passo em direção ao bem sentirá imediatamente os seus resultados.

Observação: Seria errôneo acreditar que, em virtude da lei do progresso, a certeza de chegar cedo ou tarde à perfeição e à felicidade pode ser um encorajamento a permanecer no mal, esperando arrepender-se mais tarde. Primeiro, o Espírito inferior não vê a possibilidade de um fim para a sua situação; segundo, sendo ele o artífice da sua própria desgraça, acaba por compreender que dele depende fazê-la cessar e que quanto mais persistir no mal mais longa será a sua infelicidade, pois o seu sofrimento durará sempre se ele próprio não lhe puser um termo. Esse seria, de sua parte, um cálculo errado, com o qual se enganaria a si mesmo. Se, pelo contrário, segundo o dogma das penas irremissíveis, toda esperança lhe fosse negada, ele não teria nenhum interesse em retornar ao bem, pois isso não lhe daria nenhum proveito.

Perante esta lei cai igualmente a objeção referente à presciência. Deus, ao criar uma alma sabe realmente se em virtude do seu livre-arbítrio ela tomará o bom ou o mau caminho; sabe que ela será punida se praticar o mal; mas sabe também que esse castigo temporário é um meio de a levar a compreender o seu erro e de a fazer entrar no bom caminho, ao qual cedo ou tarde chegará. Segundo a doutrina das penas eternas, Deus sabe que a alma falirá, e assim ela já está previamente condenada às torturas sem fim.

21º) Cada um só é responsável pelas suas próprias faltas. Ninguém sofre penalidades pelas faltas alheias, a menos que para isso tenha dado algum motivo, seja provocando-as pelo seu exemplo, seja deixando de impedi-Ias quando podia fazê-lo.

É assim, por exemplo, que o suicida é sempre punido, mas aquele que, por sua dureza de coração, leva um indivíduo ao desespero e daí ao suicídio, sofre uma pena ainda maior.

22º) Embora a diversidade de punições seja infinita, existem as que são inerentes à inferioridade dos Espíritos e cujas conseqüências, salvo algumas nuanças, são mais ou menos idênticas.

A punição mais comum, entre os que são sobretudo apegados à vida material e negligenciam o progresso espiritual, consiste na lentidão com que se processa a separação da alma e do corpo e, portanto, nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na duração das perturbações que podem então durar desde meses até anos. Entre os que, pelo contrário, tendo uma consciência pura, identificam-se durante a vida corpórea com a vida espiritual e libertam-se das coisas materiais, a separação é rápida, sem dificuldades, e o despertar aprazível, sendo a perturbação quase inexistente.

23º) Um fenômeno muito frequente entre os Espíritos de um certo grau de inferioridade moral consiste em se acreditarem ainda vivos após a morte, e essa ilusão pode se prolongar durante anos, através dos quais eles experimentam todas as necessidades, todos os tormentos e todas as perplexidades da vida.(31)

(30) A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça que se pode considerar como a verdadeira lei de reabilitação moral dos Espíritos. É esta uma doutrina que nenhuma religião proclamou ainda. Entretanto algumas pessoas a repelem, por acharem que seria mais comodo poder apagar as suas faltas simplesmente pelo arrependimento, que só depende de algumas palavras, com a ajuda de certas fórmulas. Convictas de que assim estarão livres, verão mais tarde que isso não foi suficiente. Poderíamos perguntar-lhes se esse princípio não está consagrado na lei humana e se a justiça de Deus pode ser inferior a dos homens. Se elas ficariam satisfeitas quando um indivíduo que as tivesse arruinado por abuso de confiança, se Iimitasse a dizer-lhes que se lamentariam disso infinitamente. Por que, pois, querem elas recuar ante uma obrigação que toda criatura honesta deveria cumprir na medida de suas forças? Quando essa perspectiva da reparação for introduzida na crença popular se transformará num freio bem mais poderoso que o do inferno e das penas eternas pois ela se refere à vida atual e faz compreender a razão das penas por que o homem está passando. (N. de Kardec)

24º) Para o criminoso, a visão incessante de suas vítimas e das circunstâncias do crime é um suplício cruel.

25º) Alguns Espíritos são mergulhados em trevas espessas. Outros são postos num isolamento absoluto, no espaço, atormentados pelo fato de não saberem qual a sua condição e o seu destino. Os maiores culpa dos sofrem torturas que são tanto mais pungentes quanto ignoram o seu fim. Muitos ficam privados de verem os seus seres queridos. Todos, em geral, passam por sofrimentos cuja intensidade é relativa aos males que praticaram, às dores e necessidades que fizeram os outros sofrer, até que o arrependimento e o desejo de reparação, venham trazer-lhes um abrandamento ao fazê-los entrever a possibilidade de dar, por si mesmos, um fim a essa situação.

26º) É um suplício para o orgulhoso ver acima dele, gloriosos e radiantes de alegria, os que ele havia desprezado na Terra, ao mesmo tempo que ele é relegado aos últimos lugares. Para o hipócrita, ver-se trespassado pela luz que revela os seus mais secretos pensamentos, que todos podem ler, não havendo para ele nenhum meio de se esconder ou se disfarçar. Para o sensual é um suplício passar por todas as tentações, todos os desejos, sem poder satisfazê-los. Para o avarento, ver o seu ouro desperdiçado e não poder retê-lo. Para o egoísta, ser abandonado por todos e sofrer tudo aquilo que os outros sofreram dele: terá sede e ninguém lhe dará de beber; terá fome e ninguém lhe dará de comer; nem uma só mão amiga virá apertar a sua, nenhuma voz compassiva virá consolá-lo, pois ele só pensou em si durante a vida e ninguém agora pensa nele nem o lamenta após a sua morte.

27º) O meio de evitar ou atenuar as conseqüências de suas faltas na vida futura é desfazer-se o mais possível dos seus defeitos na vida presente, reparar aqui mesmo o mal para não ter de repará-lo mais tarde e de maneira mais terrível. Quanto mais demorarmos a deixar os nossos defeitos, mais as suas conseqüências se tornarão penosas e mais rigorosas será a reparação que tivermos de fazer.

28º) A situação do Espírito, desde a sua entrada na vida espiritual, é aquela que ele mesmo se preparou durante a sua vida corporal. Mais tarde, outra encarnação lhe é concedida para expiar e reparar a anterior, passando por novas provas. Mas ele a aproveitará em maior ou menor grau, segundo o seu livre-arbítrio. Se não a aproveitar, terá um trabalho a recomeçar, e cada vez em condições mais penosas. Dessa maneira, aquele que muito sofre na Terra pode dizer que tem muito a expiar. Os que gozam de uma felicidade aparente, malgrado os seus vícios e sua inutilidade, pagarão caro numa existência posterior. Foi nesse sentido que Jesus disse: Bem aventurados os aflitos porque serão consolados. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V.)

29º) A misericórdia de Deus é sem dúvida infinita, mas não é cega. O culpado que ela perdoou não está dispensado de satisfazer a justiça, passando pelas conseqüências de suas faltas. Por misericórdia infinita é necessário entender que Deus não é inexorável, deixando sempre aberta ao culpado a porta de retorno ao bem.

30º) As penas sendo temporárias e subordinadas ao arrependimento e à reparação, que dependem da livre vontade do homem, acontece o mesmo com os castigos e os remédios que devem ajudar a curar as feridas do mal. Os Espíritos em punição não se encontram na situação dos antigos condenados às galeras, mas como os doentes no hospital. Sofrem a doença que freqüentemente decorre de suas próprias faltas e passam por meios dolorosos de cura de que necessitam, mas têm a esperança de ser curados e se curam tanto mais rapidamente, quanto observarem com exatidão as prescrições do médico que solicitamente vela por eles. Se eles prolongam os sofrimentos por sua própria culpa, o médico nada tem com isso.

31º) As penas que o Espírito sofre na vida espiritual juntam-se às da vida corporal, que são a conseqüência das imperfeições do homem, de suas paixões, do mau emprego de suas faculdades, e a expiação de suas faltas presentes e passadas. É na vida corporal que o Espírito repara o mal de suas existências anteriores, que põe em prática as resoluções tomadas na vida espiritual. É assim que se explicam as misérias e as dificuldades que, à primeira vista, parecem não ter razão de ser, mas na verdade são justas desde que foram determinadas no passado e servem para o nosso adiantamento.(32)

32º) Deus, pergunta-se, não demonstraria maior amor por suas criaturas se as criasse infalíveis e portanto isentas das vicissitudes decorrentes da imperfeição? Seria necessário, para isso, que ele criasse seres perfeitos, nada tendo a conquistar, nem em conhecimentos e nem em moralidade. Não há dúvida que o podia fazer, mas se não o fez é porque, na sua sabedoria quiz que o progresso fosse uma lei geral. Os homens são imperfeitos e, como tal, sujeitos às vicissitudes mais ou menos penosas. Esse é um fato que temos de aceitar, desde que existe. Mas inferir disso que Deus não é bom nem justo seria uma rebeldia.

Haveria injustiça se ele tivesse criado seres privilegiados, mais favorecidos que os outros, gozando sem esforço da felicidade que os outros só atingem penosamente ou jamais poderiam atingir. A justiça de Deus brilha precisamente na igualdade absoluta que rege a criação de todos os Espíritos. Todos têm o mesmo ponto de partida; não há nenhum que seja, na sua formação, mais bem dotado que os outros; nenhum cuja marcha ascensional seja facilitada por exceção; os que chegam ao alvo passaram, como os outros, pela fieira das provas e da inferioridade.

Admitindo-se isso, o que haveria de mais justo do que essa liberdade de ação dada a cada um? A via da felicidade está aberta a todos, o objetivo de todos é o mesmo, as condições para atingi-lo são as mesmas para todos e a lei gravada em todas as consciências foi ensinada a todos. Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo para que cada um tenha o seu mérito. Todos são livres de trabalhar ou de nada fazer para o seu adiantamento. Aquele que trabalha bastante e com rapidez é recompensado mais cedo, mas aquele que se desvia do caminho ou perde o seu tempo, retarda a sua chegada e só pode lamentar de si mesmo. O bem e o mal são facultativos e dependem da vontade de cada um. O homem, por ser livre, não é fatalmente levado, nem para um, nem para o outro.

33º) Apesar da diversidade de gêneros e graus de sofrimento dos Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode se resumir nestes três princípios:

1º) O sofrimento é inerente à imperfeição.

2º) Toda imperfeição, e toda a falta que dela decorre, trazem o seu próprio castigo nas suas conseqüências naturais e inevitáveis, como a doença decorre dos excessos, o tédio da ociosidade, sem que haja necessidade de uma condenação especial para cada falta e cada indivíduo.

3º) Todo homem podendo corrigir as suas imperfeições pela sua própria vontade, pode poupar-se os males que delas decorrem e assegurar a sua felicidade futura.

Essa é a lei da justiça divina: a cada um segundo as suas obras, tanto no céu como na Terra.(33)

(31) As necessidades, os tormentos e as perplexidades da vida experimentados nas condições de uma existência fictícia, em que o perispírito falsamente repre-senta o corpo material, constituem uma situação bastante dolorosa para o Espírito. Foi dela que certamente se originou o dogma do Inferno material, com o corpo material mas invulnerável, a sofrer sem se destruir. (N. do T.)

(32) Ver o capítulo VI, Purgatório, números 3 e seguintes. Ver também o capítulo XX, Exemplos de expiações terrenas. — No O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, Bem-aventurados os aflitos. (N. de Kardec).

(33) Algumas pessoas argumentam que as imperfeições vêm de Deus, que nos criou imperfeitos. O princípio da evolução nos mostra que há vários graus de perfeição. Deus nos criou em potência, como sementes que têm em si mesmas todas as potencialidades futuras. Assim, criou-nos perfeitos. Cabe-nos, porém, atualizar, ou seja, desenvolver as nossas potencialidades a fim de atingirmos a perfeição em ato, como seres espirituais. Esse desenvolvimento depende de nós, do nosso livre-arbítrio, sem o qual não teríamos responsabilidade. E sem responsabilidade não seríamos perfeitos como seres espirituais. Veja-se o símbolo bíblico: Adão e Eva eram perfeitos na sua ingenuidade, mas ao desenvolver a razão passaram a agir por si mesmos e erraram. Os erros, porém, serão corrigidos na busca da perfeição. (N. do T.)

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Conteúdo desenvolvido por: Antony Valentim   
Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança.
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