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Lidando com o dinheiro (contos que ouvi).

Atualizado dia 1/26/2007 11:41:33 PM em Autoconhecimento
por Roberto Perche de Menezes


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Não cheguei a conhecer minha mãe. Ela morreu quando nasci. Meu pai, desde então, tornou-se um homem solitário e obcecado pelo trabalho. A mim nunca faltou nada, a não ser, talvez, carinho de mãe e pai. Sempre fui matriculado nos melhores colégios e sempre fui expulso de todos. Mas, também, estudar para quê? O dinheiro que meu pai já juntara e que não parava de aumentar, daria para eu viver 200 anos sem trabalhar, e mesmo assim não terminaria.

Por isso estranhei quando, nos últimos tempos, o velho, já idoso, modificou seu comportamento comigo. Começou a fazer perguntas que nunca fizera sobre meus amigos, sobre namoradas. Queria saber como eu estava me alimentando e outras tonteiras que até achei que estava caducando. Mas nos negócios continuava o mesmo comandante. Tudo bem que tinha equipes e mais equipes, assessores, secretárias, mas não sei onde arranjava tempo e energia para tantos negócios.

Porém, de forma mais frequente e constante, começava a se incomodar sobre minhas noitadas e meu modo de viver. Chegou ao absurdo de me levar ao escritório central das companhias para que começasse a me iniciar no mundo dos negócios! Mas o que era isso agora?!

"Não demora muito e eu partirei, e você terá que tomar a frente das empresas. É muita coisa e você tem que começar a entender dos negócios. Você não tem nenhum parente, fora eu. É meu único herdeiro".
"Ora, pai", respondi, "primeiro que é mais fácil você me enterrar. Tem uma saúde de ferro. Segundo, que essas equipes tocam as empresas sozinhas. Aliás, o que você está precisando é de tirar férias".

Mas ele insistia e eu, para me livrar daquela marcação, viajava para o mundo todo. Até que um dia ele fez algo que achei que realmente estava ficando louco. Levou-me até uma casa e disse: "Os melhores advogados montaram um contrato em que essa casa será sua e você jamais a perderá." Entramos. Era um único cômodo, com um mezanino. E lá em cima uma forca. "Mas o que é isso?!" "Quando você não tiver mais para onde ir, só restará isso para você." Odiei-o naquele instante e achei que estava louco.

Quase louco fiquei eu, quando recebi a notícia de sua morte. "Como assim, morreu? Ele não podia ter feito isso!" "Mas fez e agora você tem que ser forte". Como sempre, estava tudo preparado. Velório, enterro, tudo. E nas semanas seguintes, papel para assinar, reuniões que eu não entendia nada, papéis para assinar. "Chega! Vou passear e vocês que administrem".

Quando voltei, não consegui entrar na minha casa. Uma empregada estranha me disse que a casa não era mais minha, assim como os carros e tudo o mais. Nas empresas, fui barrado. Eu vendera tudo e não era mais dono de nada. Meus cartões estavam bloqueados e eu não tinha mais nada. Mas, que absurdo! Será que não enxergavam que fui roubado? E meus amigos e amigas (?), então? Ninguém quis me receber. E eu que pagara tudo, por anos.

Sentei num banco de praça. Minha cabeça rodava e meu estômago doía. De fome! Eu, com fome e sem dinheiro! Aquilo não podia estar acontecendo. Estava escurecendo e eu não tinha nem para onde ir. Foi quando lembrei do maldito barracão. Aquele, pelo menos, seria meu. Bati, mas como entrar? Não tinha as chaves. Um senhor idoso veio da casa ao lado. Me olhou com pena e desprezo, e sem dizer uma palavra, me entregou as chaves. Entrei. Pelo menos teria um teto naquela sala vazia. E aquela corda lá em cima parecia me chamar. Analisei minha situação e me deu desespero. A fome aumentava, a cabeça zunia. Tudo bem! "Era isso que você queria, pois terá!" Subi até a forca, coloquei aquela corda áspera no pescoço e me atirei no vazio.

Levei um tombo danado! Caí sentado no chão e sobre mim desabaram papéis e mais papéis de títulos bancários em meu nome. Uma fortuna. Mas o maior tesouro veio na forma de uma carta de meu pai para mim.

"Querido filho,
Se você está lendo esta carta é porque chegou onde imaginei que chegaria. Eu e você erramos muito na vida. Nenhum de nós soube lidar com o dinheiro. Eu, num extremo, obcecado em ganhar e guardar, morri rico, mas vivi como um pobre. Você, no outro extremo, sem saber o devido valor do dinheiro, só desperdiçou. O dinheiro é quase como uma entidade caprichosa. Aquele ditado que diz que o dinheiro não leva desaforo para casa, é verdadeiro. Se você o menospreza e o desperdiça, ele vira as costas para você e você nunca mais o vê. Grandes fortunas foram perdidas assim. Herdar é direito. Manter ou aumentar o herdado, é mérito. Mas se você o adorar e elege-lo a solução de tudo, ele fará de você um escravo, e você será um pobre rico-pobre.
A sabedoria em lidar com o dinheiro é a mesma para tudo na vida: alcançar a justa medida. Não viva reclamando se aparentemente você tem pouco. Trate-o com respeito e será respeitado por ele, e ele virá até você, na medida das suas necessidades. Não confunda o ter com o ser. Não confunda riqueza com felicidade. Faça o dinheiro circular, sem comprometer sua segurança. Quem hoje compra o desnecessário, amanhã tem que vender o necessário.
Seja feliz com o que tiver, deseje progredir, sim, mas não se faça infeliz, querendo o que não tem. Todos merecemos uma segunda chance. Espero vir a ter a minha. Você está tendo a sua. Não a desperdice, pois não haverá outra.
Seu pai".


Este conto ainda não teve um final, mas já teve um bom recomeço.

Texto revisado por Cris

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