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Menos ou mais de cinqüenta metros? - Parte II

Atualizado dia 6/9/2006 1:49:00 PM em Autoconhecimento
por Fernando Cavalher


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Aqui entra a segunda pessoa que me chamou a atenção. Uma mulher, de fala forte e tranqüila, que fez a Quevedo uma pergunta. Não me lembro mais do conteúdo, mas questionava a opinião do padre a respeito de um assunto qualquer. O padre começou a responder: “No Antigo Testamento...” e continuou repetindo a opinião bíblica a respeito do assunto. Aí a mulher perguntou novamente, dando-me pronta esta parte da crítica do artigo: “Mas, padre Quevedo, não quero saber a opinião da Bíblia a este respeito, mas a sua opinião.” Que mulher inteligente! Percebeu rápido o jogo do padre. Que mulher generosa! Deu ao padre o direito de ter uma opinião pessoal. Generosa, pois deu a ele um direito que nem ele mesmo se deu.

Finalmente, entra em cena a terceira pessoa a respeito de quem escreverei aqui. Um umbandista (penso eu), mulato, olhos muito brancos, corpo forte, corajosamente vestido com os paramentos de sua religião – contra o terno batido do padre. Nenhum dedo apontando. Modos gentis e refinados. Voz calma, aveludada. Evidentemente compassivo, evidentemente amoroso. Não se elevou com os ares de sabedor de todas as coisas. Não se rebaixou: disse que era mesmo capaz de realizar trabalhos espirituais em um tom que mostrava que, para ele, isso é perfeitamente normal.

Padre Quevedo e ele eram os pólos maiores do debate. Pareciam, os dois, contudo, estar em dimensões diferentes.

Padre Quevedo estava tão ocupado em expressar as Verdades Inimputáveis de sua mono-religião que usava um monólogo: não deixava ninguém falar. Quando alguém começava a emitir opiniões – baseadas em seus próprios corações e não em Bíblias ou outros cânones – o padre interrompia com mais Verdades Últimas e repetia-se. “A menos de 50 metros...”.

O umbandista limitava-se a calar ou a pedir novamente a palavra.

O padre levantava-lhe o dedo. “A menos de 50 metros...”.

O umbandista não reagia a ele. Estava tranqüilo.

O padre atacava-lhe a integridade de sua religião. “A menos de 50 metros...”.

O umbandista apenas lembrava-lhe que a Lei brasileira o impedia disso.

O padre arregalava seus olhos vidrados, cheios de sangue. “A menos de 50 metros...”.

O umbandista sorria.

O padre mostrava os dentes ferozes. “A menos de 50 metros...”.

O umbandista meneava a cabeça.

O comportamento do padre foi tão humilhante, que ele mesmo saiu humilhado. O comportamento do umbandista foi educado, amoroso e gerou um contraste tão grande entre os dois! Havia um abismo.

O padre sequer ouvia o outro sacerdote. Apenas repetia-se: “A menos de 50 metros...”.
Não sou religioso, não sou católico, não sou umbandista. Sou um humanista: por isso admirei o comportamento do umbandista. Até hoje, por razões históricas, fui muito mais vezes a uma igreja católica do que a um centro de umbanda. Vou mudar meu comportamento: quando quiser ir a algum templo, irei ver os caboclos, os exús, os pretos-velhos e os orixás. A julgar por seu sacerdote, eles, com certeza, são muito mais humanos e conversarão comigo. Quanto ao padre: tomarei todo cuidado para jamais ficar a menos de 50 metros de distância dele.

O umbandista eu quero conhecer. Certamente, ele saiu da entrevista, foi para casa e tomou um banho antes de dormir. Provavelmente, com sal grosso.
Parte I

Texto revisado por Cris

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