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MORTE E VIDA

Atualizado dia 8/10/2006 11:39:26 PM em Autoconhecimento
por Joäo Virginio Silva


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Dificilmente em meus bate-papos com as pessoas, livro-me da pergunta básica: “Que relação tem a morte com a vida?”
E como sempre respondo a mesma coisa: “Há alguma separação entre a vida e a morte?”
Por que será que a grande maioria de nós considera a morte como uma coisa separada da vida? Por que será que tememos tanto a morte? E por que será que se têm escrito tanto e tantos livros sobre a morte? Por que será que ainda existe na nossa cabeça esta linha de demarcação entre a vida e a morte? Esta separação é real, é verdadeira, ou ela não passa de uma arbitrariedade, de uma fantasia da mente medrosa?
Quando comentamos sobre a vida, geralmente falamos e entendemos que o viver é como um processo de continuidade, em que há identificação e apegos.
Eu e minha mulher, eu e meu marido, eu e meu depósito no banco, eu e o meu nome, eu e minha profissão, eu e minhas experiências passadas, eu e o meu corpo, etc. Eis aí o que entendemos por vida, não é verdade? Não conseguimos conceber a vida sem essas coisas.
Para a grande maioria, o viver é um processo de continuidade, concebido pela memória, consciente ou inconsciente, com muitas lutas, incidentes, disputas, experiências, etc.
Isso tudo é o que chamamos de vida - e em oposição à vida, há a morte, que põe fim a tudo isso. Tendo criado o oposto da vida, que é a morte, e tendo muito medo, nós começamos, então, a procurar a relação entre a vida e a morte. Quando conseguimos transpor o intervalo entre a vida e a morte com uma explicação razoável, ou com a crença na reencarnação, com a continuidade, na vida futura, como uns abestados, nós ficamos satisfeitos, não é verdade?
Cremos na reencarnação ou em alguma outra forma de continuidade do pensamento - até porque se alguma coisa continua, só pode ser os pensamentos e nada mais - o resto fica tudo por aqui mesmo.
Então, quando cremos na continuidade do pensamento, nós procuramos estabelecer uma relação entre o conhecido (vida) e o desconhecido (morte), tentando, desse modo, achar a relação entre o passado e o futuro. Quando fazemos a pergunta: que relação tem entre a vida e a morte? É exatamente isso o que estamos fazendo, não é? Estamos tentando achar a relação entre o passado e o futuro.
Na verdade, o que nós queremos saber é como lançar uma ponte entre o viver e o findar, esse é o nosso desejo fundamental.
Ora, pode o fim, que á a morte, ser conhecido, enquanto vivemos?
Acredito que, se você conseguir saber o que é a morte enquanto você está vivendo, certamente que você não teria mais nenhum problema com ela, não é verdade?
Só que você não sabe. E por não saber, ou melhor, por você não poder conhecer o desconhecido, enquanto está vivo, você tem muito medo.
Vivemos lutando para estabelecer uma relação entre nós mesmos, que somos o resultado do conhecido, com o desconhecido, que chamamos morte.
Pode haver relação entre o passado, que somos nós mesmos, e uma coisa que a mente não pode conceber e que chamamos morte? Por que separamos as duas coisas? Será que não é porque a nossa mente só pode funcionar na esfera do conhecido, na esfera do contínuo? Um indivíduo só se conhece como pensador, como agente, por causa de certas lembranças de sofrimento, de prazer, de amor, de afeição, de experiências várias que ele possui; só se conhece como uma entidade contínua, por causa disso tudo - do contrário, o indivíduo não teria lembranças de si próprio, como coisa existente.
Pois bem, quando essa coisa acaba, quando essa coisa chega ao fim, que chamamos de morte, há o medo do desconhecido; aí queremos então atrair o desconhecido para o conhecido, e o nosso esforço visa a dar continuidade ao desconhecido. Ou seja, nós não queremos conhecer a vida na sua totalidade - que inclui também a morte - nós só queremos saber como continuar a existir, sem nunca chegar ao fim. Não queremos conhecer a vida e a morte, o que nós queremos é saber apenas como continuar perenemente.
Só que nunca paramos para pensar que aquilo que continua - seja o que for - não tem renovação alguma. Aquilo que continua, não pode ter nada de novo, nada de criador, é sempre repetição. Somente quando termina essa continuidade, é que existe a possibilidade de existir aquilo que é sempre novo. Mas esse findar nos aterroriza, talvez porque não vemos que só acabando pode haver renovação, criação, o desconhecido, e não transportando de dia para dia nossas experiências, nossas lembranças e nossas desventuras. Só quando morremos cada dia para tudo o que é velho, pode haver o novo.
O novo não pode existir onde há continuidade, já que o novo é atividade criadora, é o desconhecido, é o eterno, é Deus. A pessoa, a entidade contínua que busca o desconhecido, o real, o eterno, nunca o encontrará - porque ela só pode achar aquilo que ela mesma projeta de si mesma e aquilo que ela projeta não é o real, não é o eterno. Só findando, só morrendo, para o ontem, para o passado, pode o novo tornar-se conhecido - e a pessoa que deseja achar uma relação entre a vida e a morte - que deseja estabelecer uma ponte entre o contínuo e o que ela pensa que existe além, está vivendo num mundo de ficção, num mundo irreal, que é projeção de si próprio.
Penso que é bem possível, enquanto vivemos, morrer - que significa findar, tornar-se nada. Penso que é possível, enquanto vivemos neste mundo, em que tudo é vir a ser mais ou vir á ser menos - onde tudo é um processo de ascensão, realização, alcançar resultados - acredito profundamente que é possível, num mundo assim, conhecer a morte. Também sinto que é possível desaparecerem todas as lembranças - não a memória de fatos, a lembrança do caminho de casa, etc., mas o esquecimento dos apegos internos, por meio da memória, a segurança psicológica, as lembranças que acumulamos, armazenamos, e em que buscamos a segurança e a felicidade. É possível sim, por fim a tudo isso, o que significa morrer cada dia, para que haja uma renovação.
Porque só assim se pode conhecer a morte, enquanto vivemos. Só neste morrer, neste findar, neste terminar da continuidade, há renovação, há criação, que é eterna.
Isso tudo significa que a morte não é o fim da continuidade, mas a própria continuidade. Aquilo que é contínuo não tem vida, já está morto e somente o que está vivo pode tocar a Eternidade e ver a face de Deus.

Texto revisado por: Cris

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