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Na Penumbra da Cripta

Atualizado dia 5/10/2007 10:14:47 AM em Autoconhecimento
por João José Baptista Neto


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Extraído de link nº34
Tradução autorizada para publicação no Site:
https://br.groups.yahoo.com/group/coracaotemplario


O texto abaixo, além de muito rico em simbologia, nos mostra que a devoção Mariana é também uma via de Iniciação. Estabelece também relações com as antigas Escolas de Mistérios onde as Iniciações eram dadas em locais escuros e subterrâneos em estreito contato com as energias telúricas.

Vale a pena ler!

Por Roland Berman

A cripta é esse lugar escuro sob a terra e que tão bem evoca por sua penumbra as sombras por vezes destrutivas e geradoras. É principalmente nesse lugar onde eram veneradas as Virgens Negras originalmente. Não antes que séculos mais tarde é quando serão retiradas daí para colocá-las nos santuários da superfície. Numerosas Virgens Negras levam nomes que evocam esse mundo subterrâneo. Para não citar mais que a mais célebre dentre elas, a Virgem de Chartres era chamada na Idade Média “A Bendita Dama Subterrânea” antes de ser conhecida pelo nome de Nossa Senhora de Sob-a-Terra, e esse nome voltará a ser encontrado em numerosas estátuas que foram descobertas nas grutas cuja cripta é uma figuração. Nessas criptas, a Mãe Universal se faz presente no seio da Mãe Terra, a Nova Eva, espera ali o peregrino na suave penumbra. A cripta é uma imagem do útero e, por Sua presença, essa imagem capta força.

A localização de preferência de Nossa Senhora, a Negra, é o lugar calmo e tranquilo em que não entram os ruídos do mundo. Qualquer um pode se recolher ali sem ser perturbado e distraído pelas pressões externas. É preciso tão pouca coisa para que o espírito flutue e se desvie de sua meditação! Pascal dizia: “Não é necessário o ruído de um canhão para interromper os pensamentos; basta o ruído de um cata-vento ou de uma polia”. Em outra parte dirá que o zumbido de uma mosca basta para fazê-los derivar, tão grande é nossa debilidade e frágil nossa capacidade de concentração. A cripta é verdadeiramente esse lugar onde a alma pode encontrar a paz em uma atmosfera propícia e elevar-se livre de perturbações para o mundo sagrado. “A cripta é o lugar do mundo onde alguém pode se encontrar em antecipação aos pensamentos e sentimentos, quer dizer, a mais íntima experiência de convicção”. Dom Jean Nesmy, "O Mundo das Criptas".

Houve toda uma evolução na utilização da cripta. No início, era a tumba de um santo ou de um mártir sobre a qual havia sido construído o santuário. Era, então, quase inacessível aos fiéis comuns. Era sobretudo o caso das igrejas românicas primitivas desde a liberação dos cultos com o édito de Milão em 313. Mais tarde, nas novas igrejas, as criptas continham simplesmente um relicário. Eram chamadas de confissões, essas tumbas ou esses relicários, já que aquele que ali repousava, ou cujas relíquias estavam assim conservadas e protegidas, havia confessado sua fé em palavras e em atos. A igreja em cima, na qual o altar se encontra normalmente no eixo da cripta, é como que sustendado por ela, por essa confissão, encontrando nela sua fonte e seus fundamentos. Encontra-se, então, orientada segundo os seis eixos do espaço.

No plano simbólico não há diferenças essenciais entre a cripta, a gruta e a caverna. Não há aí mais que um jogo de matizes secundários e podem ser considerados como praticamente intercambiáveis quanto à sua significação. As três são os emblemas de uma única e mesma “idéia” no sentido dado por Platão a esse termo. A única e verdadeira diferença que merece aqui ser sublinhada é que a gruta ou a caverna tem uma origem natural, enquanto que a cripta é feita pela mão do homem. Porém, essa diferença se apaga em grande parte e perde sua importância quando se sabe que com muita frequência as criptas foram construídas para simular a gruta antiga que foi, ela também, lugar de sepultura e de culto. Além do mais, não faltam templos nem igrejas, tanto no Oriente como no Ocidente, cujas criptas sejam, em sua origem, escavações naturais modificadas e arranjadas pelo homem para fazê-las mais adequadas ao uso litúrgico que lhe era destinado. Com frequência também o primeiro recinto para o canto dos clérigos da igreja era alojado em uma cavidade rochosa como, por exemplo, no Monte St. Michel. Estava logo atrás da elevação do edifício o recinto original que fora convertido em cripta.

Tradicionalmente esses espaços subterrâneos possuem uma dupla função. Em todas as mitologias é o ponto de contacto com o mundo ‘ctonico’, a porta de acesso ao mundo dos mortos, é o ponto de união dos dois universos. É isso o que encontramos na origem da cripta cristã. É também o lugar de volta às origens, o lugar de onde surge a energia primordial durante muito tempo considerada unicamente sob sua forma telúrica. É o lugar que deve permitir uma regeneração – “reencontrar as raízes” – e religar o alto com o abaixo. A gruta ou a caverna, e portanto a cripta, não podem se dissociar do conceito da Mãe Terra. É o lugar propício por excelência ao nascimento e à regeneração. É descendo às entranhas da terra que alguém pode se elevar ao céu. Fazê-lo não é outra coisa que materializar a investigação interior que deve ser feita: descer ao mais profundo de si mesmo para encontrar ali sua realidade e por aí aceder à verdadeira luz. Se o grão não morre, a que fruto poderia dar à luz? É pela enorme potência da imagem, pela escuridão e a profundidade do mundo físico que se podem encontrar os princípios metafísicos.

Estamos distantes de Nossa Senhora e da Virgem Negra? Não parece; todo novo nascimento e toda revelação passa por uma permanência nas entranhas da Imaculada Conceição, que tem o rosto negro não só do caos original senão que também da Tradição Primordial.

Por todas essas razões, esse lugar sempre teve uma função de centro, como expõe René de Guénon. A cripta é também, simbolicamente falando, análoga ao atanor do alquimista onde deve se produzir a transmutação da matéria vil em ouro puro, em ouro espiritual. Se queremos “modernizar” essa imagem, diríamos que ela simboliza o lugar da interiorização que permite à pessoa começar um processo de individuação.

Texto revisado por Cris

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