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Não Arredar Pé de Si

Atualizado dia 12/4/2008 12:08:17 AM em Autoconhecimento
por Isabela Bisconcini


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Lama Gangchen Rinpoche acaba de partir. Veio por duas semanas para São Paulo trazendo as Relíquias de Buda e montanhas de bênçãos, e quando ele está aqui milhares de coisas acontecem “todasaomesmotempoagora”. Ele é como uma televisão que pega 10 canais ao mesmo tempo. Na tela cheia, a eternidade, e nos outros canais várias cenas do relativo simultaneamente. De volta à vida pessoal, do meu pequeno canal de onde vejo a vida, fico com um pacote enorme de experiências por assimilar, sensações para repousar, a vida pequena para retomar, o coração por consertar - ou talvez para simplesmente deixar partido como está – e ao mesmo tempo uma sensação de "TANTO" , de preenchimento pleno, como ao ver uma jóia preciosa e enorme... caio arriada. 

Em minhas experiências com o Lama, posso dizer que o que mais vivi foram as sensações de desmoronar diante do amor dele. Isso não quer dizer só me derreter e dissolver diante do amor dele - isso acontece -, mas me refiro à experiência de ver as projeções, expectativas e desejos todos frustrados, todos caindo por terra, enquanto ao mesmo tempo, sinto a presença dele pairando como holograma de amor no ar. A presença do Lama sempre nos leva para os lugares mais difíceis de habitarmos internamente e ela acende uma luz ali. Quando isso acontece, eu particularmente, sinto uma dor enorme, e tem sido realmente um caminho aprender como lidar com tudo o que surge.

Sabe aquela sensação de fim de curso ou vivência de autoconhecimento, quando algumas pessoas se expressam publicamente, por exemplo, na roda do fechamento, dizendo que se sentem maravilhosas e você está em pedaços? Ou sabe quando ainda em cursos, algumas pessoas falam que viram isso ou aquilo e você não viu nada e se sente o mais incapaz? Quem nunca sentiu isso num curso de autoconhecimento?? Enfim, quando somos levados aos lugares difíceis de nós mesmos, a proposta é conseguir ficar lá, ou seja,  aceitar o contato verdadeiro consigo mesmo. Não exagerar, não se puxar para baixo aumentando a dor - o desafio mais difícil é soltar o sofrimento -, mas estar lá. Não afundar lá, ou morar nesse lugar, mas estar lá enquanto isso estiver acontecendo e, ao mesmo tempo, sentir e perceber que também há outras coisas acontecendo. Estar lá verdadeiramente permite o desdobramento da sensação.
A prática meditativa propõe este acompanhar-se de momento a momento. Tantra quer dizer continuum. A continuidade que acontece para sempre, eternamente agora... agora... agora... agora... agora... agora... agora... agora... agora... agora, e perceber que em meio a isso tudo, em meio à dor, à frustração, à expectativa fracassada, ao medo, à raiva, à tristeza há esse amor sem palavras. Não porque você o pôs ali ativa e voluntariamente, mas porque ele sempre esteve ali. Esse amor que é tudo, que envolve tudo sem palavras. E deixar-se acompanhar por esse amor e ficar nele enquanto tudo está aqui e está passando. E conseguir deixar passar. Deixar ir... deixar ir... deixar ir... agora... estou aqui... deixo ir... agora... aqui... deixo ir...

Minha primeira bobagem ao aprender o Budismo foi achar que tendo aprendido o ensinamento não mais sofreria, instantaneamente, não mais sofreria porque aprendi teoricamente que ele vem de querermos nos apegar ou rejeitar ... então, pronto, acabou meu sofrimento! Minha segunda (grande) bobagem foi acreditar que só por estar na presença do Lama nada mais daria errado... sem interferências, tudo daria certo. Eu realmente acreditava nisso: “do lado de um Lama o que pode acontecer de errado??” E é bem ao contrário... parece que tudo dá errado fenomenicamente e ficam infinitas interrogações na mente da gente... os mais espertos dão risada... eu sou das mais apegadas, sofro mais, choro pra chuchu. Os mais espertos dão risada... e monges dão risada de tudo, já percebeu???

O Lama lida num mesmo dia com casamento, nascimento, doença e morte. E nós somos levados a todas essas experiências com ele, sobretudo àquelas que temos mais medo: a perda, o deixar ir, o deixar ir... ver partir e deixar partir com paz. E ver que, querendo ou não, tudo está indo como a areia da ampulheta e sentir o quanto dói querermos prender... e mesmo assim a proposta é sentir e ver que não há separação entre os sentimentos, ver que casamento não é só momento de alegria, pode haver dor também ali, e morte não é só tristeza, pode haver leveza ali também. Em todos os momentos há vida, há morte, há alegria e tristeza também, e o rio flui. E o rio não pára. E enquanto isso você se acompanha cem por cento, CONTINUAMENTE, mindfullness, de momento a momento. Amando e deixando ir, amando e deixando ir... Como diz Lama Gangchen: "de momento a momento com paz... Uma hora de paz... De hora em hora com paz... Um dia de paz... Dia a dia com paz... Uma semana de paz... De semana em semana com paz... Um mês de paz... De mês a mês com paz... Um ano de paz... De ano a ano com paz... Uma vida com paz... De vida a vida com paz". Continuamente. Continua  mente ... E sem anteparos para si mesmo. Nu e sem arredar o pé de si mesmo. Sem saída, sem escape. De momento a momento, ou se preferir por toda a eternidade.

Enquanto isso, ele já está longe, longe e também bem perto aqui, dentro de mim e destas palavras e nos espaços entre elas. E eu, despedaçada nas minhas pretensões, desmoronada das minhas ilusões, mas ainda aqui, e permeada e banhada por todas as lágrimas de amor do flash da eternidade, que passa como estrela cadente. Tocada por esse amor que mesmo quando desmorona tudo ainda persiste... em todo lugar. Acho que isso deve ser aquilo que Shiva diz: ‘eu te amo mesmo quando te destruo’. E ainda assim preciso prestar atenção para não deixar queimar a comida no fogo.

Texto revisado por: Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Isabela Bisconcini   
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou.
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