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O HOMEM DA NOITE

Atualizado dia 8/8/2007 3:45:38 PM em Autoconhecimento
por Marcos Spagnuolo Souza


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Acordei mais cedo que de costume. O sol ainda não tinha aparecido, estava escuro e as estrelas ainda podiam ser vistas lá no alto. Os cachorros que perambulavam pela rua e os que estavam nos quintais faziam algazarra, perturbando o silêncio, tirando a beleza da escuridão. Só escutava os latidos, que pareciam intencionais, para se vingarem dos homens. Fiquei com muita raiva dos cachorros, de todos os cachorros, que fazem questão de não deixar o homem viver no silêncio da noite. Cheguei à janela que dava para uma pequena praça pública, com algumas árvores, a grama mal tratada, os bancos quebrados e roseiras sem rosas. Sim, lá estava ele sentado, em um dos poucos bancos que ainda encontrava-se relativamente intacto. Aquele homem era conhecido pelo estranho nome de Hus, costumava ficar ali durante toda noite olhando para uma árvore e quando o dia amanhecia, levantava e ia embora, só voltando quando não se via mais ninguém andando pelas ruas a não ser alguns retardatários.

Coloquei uma camisa, vesti uma bermuda e fui sentar ao lado de Hus. Quando sentei ao seu lado ele se armou para levantar, então eu pedi para que ficasse pois queria acabar com minha curiosidade. Perguntei se ele não tinha sono, se não gostava de dormir e recebi em troca um olhar de indiferença; notei um impulso para se levantar novamente, que foi bloqueado pelo próprio Hus que resolveu conversar comigo.

Durante duas horas ele falou sem parar! Eu tinha vontade de levantar, sair correndo gritando: LOUCO! LOUCO! Mas me contive com receio de ser estrangulado, morto, retalhado e comido por aquele homem que não parava de falar. Minha cabeça estava quase explodindo, minha respiração estava a ponto de ser desligada e meu coração já batia tão forte que parecia que ia pular fora do peito, quando Hus ficou em silêncio, levantou e foi embora, desaparecendo na curva da esquina.

Continuei sentado naquele banco por muito tempo, recuperando o meu estado psicológico e físico. Prometi a mim mesmo nunca mais conversar com estranhos, principalmente com pessoas que não gostam de dormir e que gostam de passar a noite na praça olhando uma árvore.

Hus, o homem da noite, falou que no lugar daquela árvore tinha um ponto chamado alfa. O ponto alfa emitia uma vibração que era captada pelo meu “eu“, no mesmo instante, o meu eu recebia uma intuição eidética do nível beta, resultando, na minha consciência, a imagem da árvore. A árvore que eu estava vendo era um produto de minha consciência formada pelos estímulos originários de alfa e beta na estrutura do eu, surgindo a conscientização da árvore. A árvore e tudo o que eu estava vendo era um produto de minha consciência, sendo que os pontos alfa e beta são totalmente desconhecidos, estão ocultos para a nossa consciência. Todos os fenômenos, todos os entes são representações de outros planos de existência que são vedados para o nosso eu. A realidade que vemos não existe.

Diante de tanto mistério Hus salientou que deveríamos centralizar o nosso viver no desvelamento do eu. O eu é o aspecto mais importante a ser compreendido, pois é o receptáculo de alfa e beta e o sujeito da conscientização. Estamos vivendo em um universo de representações e deveríamos atingir as causas primeiras, responsáveis por tudo aquilo que estamos vendo. Hus falou que o nosso próprio corpo é uma representação. Toda conscientização tridimensional não é real, só é real a consciência.

Diante do que Hus falou procurei esquece-lo, mas a partir desse encontro, lá dentro de minha cabeça, pensava se a árvore estava em minha consciência ou se ela estava lá no jardim ou se ela não existia. Comecei a ficar louco, pois não parava de pensar no que seria o eu, o alfa e o beta. No banho, na privada, no bonde, em todos os momentos eu queria saber qual era a essência de cada objeto que eu via.

O pior aconteceu hoje à noite. Preparei-me para dormir, deitei, enrosquei com o travesseiro, fechei os olhos, rezei a Ave Maria, Pai Nosso e o Credo e fiquei esperando, bem quietinho a perda da consciência dos fenômenos físicos quando, de repente, passei a pensar se aquele quarto, aquela cama e o meu corpo eram ou não uma representação do meu eu. Resolvi levantar e fui sentar no banco da praça olhando para a árvore e perguntando a mim mesmo, qual seria o original foco da energia da representação "árvore". Depois de muito tempo pensando no grande enigma, se a árvore estava dentro ou fora de minha cabeça, noto que ao meu lado tinha sentado uma garota.

Faço menção de me levantar e ir embora com todas aquelas dúvidas, quando ela me pediu que ficasse, pois queria acabar com todas as suas curiosidades e me perguntou o que eu estava pensando. Depois que muito falei, fui embora, dobrei a esquina e desapareci do mundo porque descobri que eu não existo, que tudo é uma miragem e quando a miragem acabou desapareci na noite escura, deixando a moça sentada no banco da praça olhando para a árvore.

Texto revisado por Cris

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