O medo é uma casa onde ninguém vai
Autor Paulo Tavarez
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/16/2025 6:38:43 AM
"O medo é uma casa onde ninguém vai." - Lenine
Essa frase do compositor Lenine sempre me tocou pela sua força poética. É a expressão de uma alma sensível, que reconhece na casa do medo um lugar evitado, sombrio, talvez inabitável. Mas, para mim, essa casa deve ser habitada. Sim, eu escolhi viver nela. Escolhi entrar nos cômodos escuros da minha própria alma, onde os ecos do que me assusta ainda ressoam. E hoje posso dizer: habite essa casa. Viva onde você tem medo de viver. Enfrente a escuridão. Derrube os seus próprios limites. Quebre a casca desse ovo frágil que você transformou em mundo - e descubra um universo muito maior.
Durante muito tempo, eu me vi imerso em convicções de fraqueza e impotência. Hoje percebo: essas ideias nasceram dos meus medos, das mentiras que aceitei como verdades. Talvez, em algum momento, eu não tenha tido escolha. Mas agora sei - eram apenas mentiras. Porque dentro de mim há uma força imensurável, e foi justamente a ignorância de mim mesmo que alimentou toda essa construção equivocada de fragilidade.
Eu mesmo criei uma personalidade fraca, conformada, incapaz de reagir, de impor limites, de mostrar os dentes quando necessário. Aceitei a canga da escravidão emocional quando recuei diante da vida, quando me curvei aos meus próprios medos e delimitei uma zona de conforto apertada demais para minha alma. E foi ali, sufocado, que entendi: ou eu me levantava, ou viveria eternamente acorrentado.
Foi então que comecei a usar minha raiva a meu favor. Sim, a raiva. Não o ódio - este é uma ilusão nociva, um desvio de energia. Mas a raiva verdadeira, visceral, que brota do meu sistema límbico como um sinal de que algo precisa ser enfrentado. Essa raiva é uma aliada. Foi ela que me fez dar um murro simbólico na mesa da minha vida e dizer: "Chega! A partir de agora, sou eu quem assumo o comando."
Habitar a casa dos meus próprios medos foi, para mim, olhar no espelho e encarar minha sombra. Foi nesse gesto - simples, mas imenso - que algo começou a mudar. Quando olhei para os conteúdos emocionais que estavam enterrados em mim, percebi que eles, sozinhos, começaram a perder força. A sombra, quando iluminada, não desaparece - mas deixa de controlar.
Tudo aquilo que me assusta, que me incomoda nos outros ou no mundo, está, na verdade, dentro de mim. As situações externas apenas ressoam com aspectos adormecidos ou reprimidos do meu inconsciente. Mesmo sem compreender totalmente suas origens, decidi olhar para esses conteúdos. Deixei que eles falassem. E, com o tempo, o que me assustava foi sendo reintegrado à minha totalidade. Ao todo que sou. Porque tudo que sou me pertence - até o que dói.
Percebi que fugir da minha sombra era inútil. Onde quer que eu vá, ela vai comigo. Então resolvi iluminá-la.
Hoje entendo que os meus medos têm forma, têm conteúdo, e mesmo que eu não os veja claramente, posso senti-los. E quando eles surgem, eu me coloco diante deles com coragem. Não fujo mais. Sinto. E percebo que eles não são eu. Eles não podem me tocar de verdade. E quanto mais eu os enfrento, mais fracos eles ficam - e mais forte eu me torno.
Decidi não mais amortecer o desconforto com distrações, drogas, prazeres efêmeros ou fugas disfarçadas de soluções. Não. Permanecer de pé diante de mim mesmo é o meu compromisso. Para lidar com os próprios medos, é preciso senti-los. Suportá-los. Olhá-los até que se dissolvam.
Ilumine-se.
Entre na casa do medo.
E descubra que ela sempre foi a sua casa também.
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