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O NASCIMENTO DO OLHO OCIDENTAL

Atualizado dia 3/3/2009 10:29:39 PM em Autoconhecimento
por GUIMARÃES ORTEGA


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A mitologia principia na origem do universo, na criação do cosmos, na eclosão do mundo como o conhecemos. Mundo este concebido por Deus, para servir de refúgio ao homem. E a partir da primária existência do homem é que se iniciam as primeiras controvérsias e as constatações que constroem e mistificam a sua história. Deus, embora seja um ser espiritual sem definição de sexo, é nitidamente masculino por ser pai, e não mãe. E como tal agiu em toda a amplitude de sua criação.
O cosmos, sua origem e sua evolução astrológica são nitidamente sexuais. O sexo está presente na mais remota referência à existência da vida no universo. E essa sexualidade advinda dos primórdios do mundo tem um simbolismo profundo quando transparece uma verdade: existe sempre um elemento sexual em toda a criação, seja ela derivada da natureza (considerando que o homem é parte dela), seja ela uma obra de arte.
A mitologia também retrata de forma bastante evidente a sexualidade. O culto aos mitos é nitidamente feminino no início dos tempos. A primitiva divindade é o símbolo da religião da fertilidade, é a deusa-mãe, assexuada e sexual, uma ditadora do sexo que tem dupla sexualidade, e assim mesmo é virgem, pois independe do homem. O mito do matriarcado tem sua simbologia na adoração das deusas, que remete ao poder materno originado na infância.
É nesse culto à grande-mãe, deusa da fertilidade e da harmonia com a natureza, que surge a castração como simbologia para a personificação do ritual que emerge no início dos tempos. O sacerdote muda de sexo para se tornar igual à sua deusa, podendo assim ser chamado de ela. O homem acaba sendo possuído pelo espírito feminino no culto à deusa e se transforma no xamã da espiritualidade que simboliza sua deusa-mãe.
Ainda não temos o olho da conquista, somente um breve olhar sobre os acontecimentos. Mas as mudanças são substanciais no Gênesis, onde o mundo acaba sendo reconstruído a partir da dinastia dos homens. Deus fez a grande mudança, e por ser ele nitidamente masculino, acaba criando o patriarcado. O que nos dá uma idéia clara da subordinação feminina, aceita naturalmente, pois a deusa-mãe e seus seguidores (homens e mulheres, aspecto que não tem importância na história e na fábula) tinham como característica a conciliação e a aceitação natural de tudo o que poderia acontecer no universo da sua existência. Mas é a partir daí que nasce a imagem do tratamento inferior dado à mulher, sistematicamente tratada – a mulher e todo o universo feminino – como sendo diminuta, submissa, impotente e dependente. Mistificada pela característica de ser mãe. O poder do homem é considerado social, conquistado pela força e pela postura animalesca do forte e soberbo sobre a fragilidade feminina. É um poder patriarcal, fingindo proteger a mulher em seu papel de mãe, que acaba se submetendo e aceitando seu destino perante a natureza dos homens.
Entretanto, o homem não pode esquecer nunca da sua condição de filho, nascido das entranhas da mulher. E para que ocorra seu nascimento é necessário que haja a penetração, a posse, a submissão. No simbolismo do coito, o homem é engolido pela mulher e submetido a uma degustação vaginal e urterina, da mesma maneira em que a humanidade é devorada pela mãe natureza. Por mais que seja masculino o homem acaba sendo ela, pois advém da mãe e é parte dela.
O olho começa a transparecer na sabedoria do conhecimento. Embora contemporânea em relação ao concretismo da deusa e ao poder exercido pelo homem na sua postura de ser superior (não adquirida, mas conquistada pela força), a história já está definida e nos mostra que a masculinidade é apenas uma sombra dentro do ciclo da mãe natureza. É uma postura, uma definição, que emana da grande-mãe como se fosse algo que fluísse dela própria, controlado e absorvido por ela. O culto à mãe continua existindo, mesmo quando o homem assume o papel de ser superior, conquistador e possuidor da sabedoria e da força perante a mulher, a natureza e o universo.
Freud definiu que o destino do homem é dirigir seu primeiro impulso sexual para sua mãe. O homem, quando encontra sua verdadeira esposa, na verdade encontrou sua mãe, retornando à condição de rebento uterino que depende da mulher em todos os sentidos, seja na amamentação, seja no aconchego, seja em sua condição de mais pura e verdadeira carência afetiva. O homem, por mais poderoso que transpareça é subserviente à mãe e ao casamento, e sua postura dominante é puramente uma ilusão social centrada na aparência, alimentada pelas mulheres que querem se sentir protegidas, enquanto cuidam de seus rebentos. Mãe protetora, mãe dominadora, mãe submissa e dona do universo, tudo ao mesmo tempo.
Mas o que transparece é o domínio do homem, pois a mãe é realmente servil e não necessita revelar-se como deusa ou rainha. Basta ser ela mesma. O homem é que precisa exibir-se, querendo dominar e ser um conquistador, assumindo as rédeas do universo e determinando o destino de seus pares.
E eis que se abre o grande olho para o conhecimento, através das artes e da sabedoria egípcia. O Egito não desenvolveu a literatura, mas soube transformar a arte do construtivismo em algo visível, palpável, com forma e efeito. Embora seja uma arte glíptica, esculpida e gravada em pedra lisa e polida, tem no olho seu grande aspecto apolíneo. Tem glamour, forma, definição e efeito estético. E transforma a mulher em objeto de adoração, de sublimação, de respeito e admiração.
A primeira mostra da arte ocidental exibe a mulher como um objeto totalmente sexual, cheia de contornos, volumes, formas. Um corpo pronto a ser cavalgado e possuído. Uma massa volumosa e fecunda, porém desprovida de rosto, cérebro, beleza e feminilidade. São somente coxas, seios enormes, barriga e nádegas, sem braços e com formas grandiosas e disformes. É uma montanha a ser galgada, consumida, mas não se move e não tem atitudes, pensamentos ou desejos.
Já no Egito a mulher tem glamour, beleza, poder. O Egito inventou a magia da imagem, a hierarquia, a perspectiva e a verdadeira postura do belo. Conseguiu demonstrar que a elegância e a sabedoria emanam do poder e da beleza. O Egito transforma em divindade a personalidade feminina, trazendo de volta a mulher e a deusa-mãe como símbolo da estética e da beleza. Não mais um símbolo gordo, frouxo e sonolento da forma materna e corpórea da mãe terra. Mas uma rainha esteticamente feminina, simbolizada pela sabedoria e pela vontade política, e desprovida do corpo volumoso que define a rainha-mãe. O Egito reinventou a feminilidade através da arte. E em toda a arte Egípcia o olhar está de frente, mesmo que a postura do corpo esteja canhestramente pintada ou esculpida de perfil. O olho é a imagem perfeita do belo. E enxerga muito além da retina, muito além da percepção. No olho que nasce da sabedoria ocidental a mulher é cérebro, antes de ser corpo. É sabedoria, antes de ser fecunda. No perfil da mulher egípcia todos os caminhos levam ao olho. E através dele acaba-se descobrindo a grandeza que emana do torso esguio e retilínio da mulher.

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: GUIMARÃES ORTEGA   
Escritor, jornalista, com nove obras escritas e cinco publicadas. Veja no item "produtos".
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