O Quarto Trabalho de Hércules: O Javali de Erimanto

O Quarto Trabalho de Hércules: O Javali de Erimanto
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Autor Paulo Tavarez

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 10/28/2025 8:37:03 AM




O rei Euristeu, que impôs as tarefas a Hércules, mandou-o capturar vivo um terrível javali que aterrorizava o Monte Erimanto, na Arcádia. O animal era feroz, destrutivo, e ninguém se atrevia a se aproximar dele. Hércules subiu a montanha coberta de neve, encurralou o javali e o dominou - não o matou, apenas o conteve. Depois, levou-o vivo até Euristeu, que, tomado de medo, se escondeu dentro de um grande jarro.

Há mitos que falam de deuses e monstros, mas na verdade estão falando de nós. Um deles é o quarto trabalho de Hércules - quando ele precisa capturar o javali de Erimanto. À primeira vista, parece apenas uma caçada, uma aventura entre o herói e uma fera. Mas se olharmos com atenção, perceberemos que o verdadeiro javali está dentro de cada um de nós.

O javali representa o instinto bruto, a força animal, a raiva, o impulso que age antes do pensamento. É a energia vital em estado selvagem, o grito primitivo que habita o inconsciente. E o trabalho de Hércules é o mesmo que todos enfrentamos: aprender a dominar essa força sem destruí-la.

No mito, Hércules sobe a montanha de Erimanto para capturar o javali. Essa subida é simbólica - significa elevar a consciência. O frio das alturas representa o distanciamento emocional, o domínio da mente sobre o instinto. Quando conseguimos observar nossas emoções sem nos confundir com elas, o ar fica mais claro dentro de nós. A raiva deixa de ser explosão e se transforma em coragem. O medo deixa de paralisar e passa a orientar. O orgulho pode virar dignidade. Tudo muda quando elevamos o olhar.

Um detalhe essencial é que Hércules não mata o javali - ele o captura vivo. Isso nos ensina que o instinto não deve ser negado nem reprimido, mas compreendido e integrado. A energia que destrói é a mesma que pode construir. O problema nunca é a força, mas o uso que fazemos dela. Dominar o javali é aprender a canalizar a energia bruta para algo criativo, consciente, luminoso. É o princípio da polaridade em ação, mostrando que luz e sombra são aspectos de uma mesma energia. Aquilo que negamos precisa ser transmutado através de um processo de elevação vibratória - e isso só é possível a partir da conscientização, nunca da negação.

Todos temos um javali interior. Pode ser o medo, a raiva, o ciúme, a ansiedade ou qualquer emoção que nos desequilibra. Quanto mais a negamos, mais ela cresce. O primeiro passo é olhar para ela sem julgamento, reconhecer que essa força também é nossa. O herói não vence com ódio, vence com consciência. E a verdadeira coragem está em se aproximar daquilo que mais assusta dentro de si.

Quando reprimimos o javali, ele destrói tudo por dentro; mas quando o reconhecemos, ele se transforma em energia vital, em impulso de criação. O mesmo instinto que nos devora pode nos mover, se o colocarmos sob a luz da consciência. Hércules, nesse trabalho, representa o ego consciente; o javali, o inconsciente instintivo. O encontro entre os dois é inevitável - e é justamente esse encontro que nos torna inteiros. Não podemos fugir desse bom combate: o enfrentamento de nós mesmos. Em suma, o único inimigo que o homem passa a vida inteira enfrentando é ele mesmo.

Dominar o javali não é ser perfeito; é ser inteiro. Significa olhar para a própria sombra e perceber que ela também faz parte da luz. Não há iluminação sem atravessar a escuridão.

Na prática, isso quer dizer o seguinte: da próxima vez que uma emoção forte te invadir, não lute contra ela - observe. Quando sentir raiva, não a despeje; respire. Quando sentir medo, não fuja; olhe-o de frente. Cada emoção traz uma mensagem e um poder escondido. O que odiamos é o que ainda não aceitamos, e o que tememos é o que ainda não compreendemos. Quando entendemos isso, deixamos de ser vítimas dos instintos e passamos a ser condutores da própria energia.

O trabalho de Hércules é o trabalho de todos nós. Cada um precisa subir a própria montanha, enfrentar o próprio javali e perceber que a verdadeira força não está em vencer o monstro, mas em transformá-lo. A iluminação não é o fim da sombra - é a consciência que aprende a caminhar com ela. E quando isso acontece, o que antes era luta vira aprendizado, o que antes era medo vira luz, e o que antes era um javali furioso passa a ser a energia vital que move o nosso ser.

Euristeu, por outro lado, simboliza o ego, a mente comum, que governa, mas sem sabedoria. Quando ele vê o javali - ou seja, quando se depara com a força crua do inconsciente -, entra em pânico e se refugia dentro de um vaso de bronze. Esse vaso é o símbolo perfeito da estrutura mental em que o homem comum tenta se esconder: o raciocínio, as crenças, o controle racional. É o "refúgio" do ego diante do que não compreende.

Mas o vaso também é um símbolo de aprisionamento. Representa o medo de olhar para dentro, o medo de se deparar com aquilo que reprimimos. Euristeu é aquele que quer manter tudo em ordem aparente, sem lidar com o caos interno. Já Hércules, o herói da alma, é aquele que desce aos porões do inconsciente, enfrenta o caos e o traz à luz.

Quando ele entrega o javali ao rei, está, simbolicamente, apresentando à consciência racional (Euristeu) aquilo que foi conquistado e integrado nas profundezas da alma. O problema é que a consciência comum ainda não está pronta para lidar com tamanha força - daí o medo. O rei se esconde, como muitos de nós fazemos quando a vida nos obriga a encarar nossos próprios monstros.

O mito, portanto, fala da relação entre o herói interior e o governante exterior - entre a alma que busca a integração e o ego que tenta manter o controle. Euristeu se apavora porque ainda vive na ilusão da separação, no medo de si mesmo. Hércules mostra o caminho: dominar os instintos não é sufocá-los, mas compreendê-los, dar-lhes uma forma consciente.

Em outras palavras: enquanto o homem comum foge e se esconde no vaso da razão, o herói transforma o instinto em força criativa. E é justamente essa diferença que separa quem vive com medo de si mesmo de quem desperta para a plenitude do próprio ser.





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