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O Reino do Prestes João - I

Atualizado dia 7/9/2007 10:27:07 AM em Autoconhecimento
por João José Baptista Neto


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Matéria extraída da Revista Hermética 36
www.revistahermetica.org
Tradução autorizada para publicação no Site:
https://br.groups.yahoo.com/group/coracao templario
Por Narciso Lué


"A realidade mágica percebida por um menino ou a certeza de abrigar Deus no coração são as condições básicas para penetrar no Reino do Prestes João, um rei sacerdote que se deu a conhecer na Idade Média mediante uma carta dirigida a vários monarcas e a um Papa. Um reino fantástico explicado por seu autor, mediante uma surpreendente descrição de fauna e flora nunca vistas, céus diáfanos e seres humanos belos, paisagens maravilhosas por onde fluiam rios de mel e leite que conduziam belas e preciosas gemas em seus leitos.

Da existência desse fabuloso personagem se tem notícia desde o ano de 1164, quando chega a seu destinatário a que é, ao que parece, sua primeira carta. Tudo são dados que pouco contribuem para esclarecer a veracidade histórica do Prestes João, que muitos negam. Há aqueles que sustentam que os Magos do Oriente que chegam à Belém para obsequiar Jesus com ouro, mirra e óleos, são enviados do rei-sacerdote. Semelhante afirmação acelera o nervosismo dos historiadores que não conseguem relacionar a época do nascimento de Jesus com a da aparição do Prestes João, dez séculos depois. Para confundir mais ainda os historiadores, há outros que o identificam com o evangelista João, de quem se diz que jamais morreu e que apareceu em sua envoltura carnal durante a Idade Média.

Essa é a primeira aproximação ao Prestes João, uma vez que o aspecto histórico não é o que move nosso interesse. A tal respeito, devemos adiantar que consideramos esse tema relacionado com o mais puro do simbolismo tradicional. Não em vão é uma lenda nascida no Oriente, onde o lendário é a causa de arcaicas essências metafísicas que costumam ser explicadas pela analogia e pelo simbolismo, quando o uso dos exemplos baseados na imaginação especulativa resulta insuficiente para satisfazer plenamente a ânsia de trasladar a aptidão da inteligência para as paragens mais recônditas a que a condição humana é capaz de aceder.

Costuma-se também vinculá-la com outras lendas medievais de grande categoria como a do Santo Graal, que é assunto que já tratamos no nº 18 da Revista “Sob os Gelos”, de março de 2007. Ali desenvolvemos a partir de seu título um estudo que incita a ação do pensamento. De fato, em “O Cálice Sagrado e o Santo Graal” tratamos de mostrar a ligação dessas duas relíquias do Cristianismo. É de se destacar, por outro lado, que não pode ser casualidade que duas das mais exuberantes lendas medievais terminem por se encontrar através de um fio condutor claramente exótico e profundamente humano como o é a tradição germânica, que nesse caso aparece encarnada nas canções memoráveis de Percival. Quando essas coisas acontecem no curso da história temporal do homem é porque existe uma correspondência com o desejo cósmico da Criação.

As riquezas que a carta descreve motivou um grande número de expedições destinadas a encontrar essa maravilhosa terra situada na Ásia, além do domínio muçulmano, ou na África oriental. O certo é que, como era de esperar, jamais foi achada terra de tão exuberantes maravilhas. Essa busca nos ensina até que ponto o símbolo aplicado à lenda para desalojar o homem de seu pedestal de marfim, e ridicularizá-lo a ponto de arrastá-lo pela Ásia e África buscando um reino que não é mais do que um símbolo criado pelo cristianismo numa época de sua história sagrada na qual a presença de relatos fantásticos não tinham outra intenção que a de afiançar os dogmas de Cristo que estavam em discórdia com outras crenças infiéis ou heréticas. O cristianismo tinha naquela época seu olhar dirigido para o Oriente, onde têm origem as crenças tradicionais e onde desde sempre se cultivou uma Ciência Tradicional que tem a virtude, nada desprezível, de manter sem falhas a Sabedoria Primordial da qual bebem todas as crenças e civilizações. Desde que o cristianismo deu as costas ao Oriente e pôs seus olhos no magreb, nunca mais levantou a cabeça, renunciando à exaltação da fé, a favor do domínio da fé com a ajuda do poder político.

Os que confundiram a lenda com a realidade se lançaram na busca de gemas preciosas e, de ser possível, a dominação das terras desse reino mediante sua conquista armada. A ambição é sempre cega e agregamos que também torpe. Esses gastaram suas riquezas e boa parte de suas vidas perseguindo uma ilusão em terras desconhecidas, com desalento final e arrependimento oculto. De outra parte, a visão exterior do significado do reino de Prestes João é a que fomenta a investigação acerca do apócrifo e o autêntico, o historicamente possível e o inadmissível e, sobre toda outra intenção, a obsessiva de encontrar nos mapas a localização exata desse reino que não é outra coisa que a alegoria do Éden, descrito com imaginação sutil e por vezes tentadora para que os ambiciosos se lançassem a uma aventura de traço indefinido.

Quando o cristianismo se debatia entre a verdade de sua doutrina e um número crescente de opositores que desfaziam seus dogmas em disputas e polêmicas intermináveis, muito radicais especialmente com respeito à Trindade e à origem de Jesus, apareceu em meio a tantas almas encontradas a lenda do Santo Graal que para muitos é uma realidade desconhecida. Por nada renunciam a sua crença na existência real do Santo Graal, que está em alguma parte bem custodiado e prestando o serviço de sempre ao Corpo Místico de Cristo. No fim das contas a história do Graal, uma vez depuradas as tendências e consolidadas as distintas igrejas cristãs, é quase exclusivamente católica.

O que resulta evidente é que, enquanto a lenda do Graal se mantém viva e em distintos tempos históricos revive com força, a do Prestes João ficou reduzida ao interesse dos filólogos, historiadores, literatos e tradutores, sem maiores virtudes. E é assim a tal ponto que a do Prestes João soa aos poucos avisados como algo estranho e distante e, em todo caso, desconhecido. Por outro lado o Santo Graal é um tema que gerou tal quantidade de literatura, aceitável às vezes e no geral desprezível por comerciar com os símbolos sagrados do cristianismo, que poucos haverá que não a conheçam em maior ou menor grau.

Tomando por motivo essa questão entre histórica e lendária, René Guénon em sua obra Símbolos Fundamentais da Ciência Sagrada, pg. 80, ed. Paidós, 1995, afirma que “o simbolismo do desaparecimento do definitivo do Graal, arrebatado ao Céu, ou que haja sido transportado para o reino Prestes João, significa o mesmo”, o que dá uma idéia cabal da aproximação ou montagem natural dessas duas lendas cristãs em seu desenvolvimento, embora devendo-se reconhecer que suas raízes são mais antigas, como toda a tradição. Chegados a esse ponto resta resolver o quebra-cabeças. Que dimensão daremos ao Reino de Prestes João? Parece que não cabe outra que a de um símbolo cristão se, como é de praxe nesse caso, concordamos com a carta que se lhe atribui, renunciando a todas as outras considerações do simbolismo tradicional.

Continua.

Texto revisado por Cris

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