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Os estudos de gênero

Atualizado dia 9/26/2006 2:56:35 PM em Autoconhecimento
por Fátima Cristina Vieira Perurena


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Na década de 60, ainda na de setenta, falava-se, no Brasil, em estudos sobre mulheres. À medida que avançavam os anos oitenta esta denominação ia sendo substituída por estudos de gênero, compreendendo este conceito, grosso modo falando, como a construção social do sexo biológico. E, mais do que nunca, ratificando o que Simone de Beauvoir já havia dito nos anos trinta sobre o “segundo sexo” – as mulheres não nascem mulheres, transformam-se em. Estes estudos de gênero, então, foram se avolumando em quantidade e qualidade, haja vista a produção intelectual de que se dispõe hoje, felizmente. Via de regra, entretanto, ainda estamos nos “estudos sobre mulheres”, entendendo, de forma equivocada, que o gênero se refere apenas a estas, esquecendo-se que os homens interagem com o sexo feminino e, que, portanto, também sobre eles é necessário o escrutínio científico.

Partindo-se do pressuposto que nascemos, todos, seres humanos, “marcados” quase como a ferro e fogo, por três grandes subestruturas, a classe, a etnia e o gênero (estando um imbricado no outro, portanto, não podendo ser vistos separadamente), praticamente desnecessário se torna afirmar o quanto, com o aprofundamento de trabalhos nestes campos, pode melhorar nossa compreensão das relações sociais e, conseqüentemente, de nós mesmos. Aos poucos, através de pesquisas feitas por alunos da graduação, vai se criando, aqui na UFSM, uma certa tradição de estudos de gênero, a partir da ótica das ciências sociais. E isto deve ser visto com muito bons olhos, posto que gênero está na agenda do dia, tanto a partir de organizações não governamentais quanto das governamentais.

Três alunas da segunda turma que se forma em ciências sociais neste ano estão finalizando suas monografias de conclusão de curso, sob minha orientação, a partir do olhar de gênero. Um trabalho teórico expõe o pensamento de Nancy Chodorow. Esta autora americana, psicóloga, influenciou toda uma geração de teóricas feministas, acabando por criar uma corrente – a do ponto de vista feminista e que tem na psicanálise sua fonte de inspiração. A rigor, segundo Chodorow, as relações de gênero seriam menos desiguais se os homens paternassem, ou seja, cuidassem de seus filhos, como fazem as mulheres.

A violência de gênero, definitivamente, está na ordem do dia, e sobre este assunto uma aluna mapeou os dados da delegacia da mulher de Santa Maria neste último ano. Neste mapa aparecem, com absoluta clareza, os motivos pelos quais as mulheres dão queixa de violência – de um lado, a lesão corporal e, de outro, a ameaça, mostrando, com isto, o quanto a violência pode ser simbólica. Não abasta agredir, é preciso ameaçar, desde tirar os filhos até dar cabo à própria vida da companheira. Talvez este seja o primeiro estudo, em nível de Santa Maria, com o olhar das ciências sociais, sobre violência contra mulheres com dados empíricos.

O terceiro trabalho, de cunho bibliográfico, é um estudo comparativo entre as mulheres que apoiaram o golpe de 64 através das chamadas marchas das mulheres em defesa da família e aquelas que fizeram parte dos movimentos guerrilheiros e que aconteceram especialmente na década de setenta. O que chama atenção, neste caso, é que tanto umas quanto outras tomaram partido, mais à direita ou à esquerda, para acompanhar seus homens mais próximos, sejam pais, irmãos, namorados etc, apontando, a partir deste dado, o forte vínculo imposto pelo patriarcado.

Sou absolutamente suspeita, já que esta é uma de minhas áreas de pesquisa preferidas, mas os estudos de gênero, por estarem mais fortemente vinculados ao nível das emoções, contrário à classe e etnia, podem contribuir de maneira mais contundente para a compreensão do comportamento social humano. São, finalmente, extremamente bem vindos.

Texto revisado por Cris

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