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Perdoe-me, mamãe

Atualizado dia 6/24/2008 2:38:43 PM em Autoconhecimento
por Alex Possato


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Havia um menino sorridente. Sim, acho até que ele era feliz. Basta ver as fotos... desde 1 ano de idade, risonho, olhos sonhadores, pele rosada, inocência pura. Ao pegar nas mãos de seu irmão mais velho, não percebia quanta amargura já existia no íntimo dele. E nem percebia que a própria presença causava dor e tristeza ao irmão. Tanto faz, a criança feliz e inocente apenas olhava os pássaros, sorria ao ver as traquinagens do gato, gargalhava com as piadas do vovô.

Papai e mamãe estavam separados, desde que ele nascera. E isso pouco importava para ele, pois na sua inocência, quem disse que casamento é para durar até o final da vida? Quem disse que necessitava do pai e da mãe juntos? Afinal, vovô e vovó supriam esse lado, ele não fora abandonado, de maneira nenhuma. Mamãe, ele nem lembrava direito da cara dela. Suas lembranças até os 6 anos ficavam perdidas na névoa do passado confuso, onde a briga entre os pais e a guarda dos filhos não lhe diziam respeito.

Ele era feliz, mesmo tendo que dividir com o irmão perturbado a atenção dos avós. E até entendeu quando os avós deram mais atenção ao irmão perturbado, afinal, ele era perturbado... e o menino era feliz. Talvez isso não combinasse com a família, talvez não fosse para ser assim... como ser feliz, se o papai casava e descasava, fazia filhos e abandonava, não provia um centavo, mesmo podendo? Nem estava sentado em volta do bolo de aniversário e na ceia de natal, como tantas vezes prometera?

Para o menino, tudo bem. Mas vovó dizia que papai não prestava... vovô dizia que tinha vergonha do próprio filho. E o pequeno começou a achar que não deveria ficar tão feliz, em solidariedade ao sofrimento da família. Mamãe, ah, esta era louca. Vovó contava, com aquele timbre de voz que deseja esconder o que vai ser revelado, que mamãe andava em frente ao tribunal com um cartaz escrito: roubaram meus filhos! E mais: não se incomodou em revelar os casos que mamãe tinha, nem as vezes em que ela ficara dias fora, deixando os filhos em casa, presos, trancados e sem comida. As crianças chegaram a comer casca de banana frita... É estranho: a criança feliz lembrava de dois fatos, apenas. Um, quando a mãe, com pompa e desprezo, jogou os ovos de chocolate que os avós enviaram, dizendo que estavam envenenados. Outro, que após um dia de febre, mamãe lhe trouxera um pacote de bolachas de maisena. Foram as bolachas de maisena mais gostosas que ele comera.

E, para falar a verdade, não havia motivos para deixar de ser feliz: nem o espancamento que a empregada evangélica promovera à base de cinta de couro, que rendeu até boletim de ocorrência; nada disso ficara registrado como mágoa no íntimo desse pequeno ser inocente. E ele foi crescendo. Ensinaram que o mundo é injusto, as pessoas erram e todos sofrem... Ele não via isso, mas acabou acreditando que deveria estar enganado. É verdade! Não tenho o direito de ser tão feliz, se o mundo é tão injusto!

Assim é que se faz, mamãe!

Olho essas palavras e elas fazem muito sentido para mim. Principalmente agora, em meu aniversário, quando olho o cartão de mamãe dizendo: perdoe-me! Ah, por que é ela que deve receber o meu perdão? Sou eu que peço perdão. Perdão por entupir a minha cabeça de crenças errôneas, de como devia ser papai, como devia ser mamãe, como devia ser minha família. Eu seria feliz se... isso ou aquilo. Mas basta olhar que eu era feliz, até o momento em que decidi concordar com todos que dizem que a culpa é dos pais, da família, da sociedade. Passei a fumar, beber, procurar a alegria em coisas fora de mim: prazeres, pessoas, amizades... Buscava desesperadamente ser aceito, porque queria resgatar a alegria, já esquecida num álbum de fotografia. Desejava ardentemente fazer uma família para dizer: veja mamãe! Veja papai! Assim é que se faz uma família! Mas papai olhou minha família e não se tocou nem um pouco. Nem mamãe... Meu irmão não pôde nem apreciar os sobrinhos, pois enfiou uma bala na cabeça aos 24 anos. E eu continuei infeliz. Não dera certo minha tentativa de mostrar como é que se faz... Meu grito de “assim é que se faz” se perdeu em meio às dores de não se sentir reconhecido, amado, acariciado...

Junto com o cartão recebi um livro, singelo, curto e poderoso, onde havia a frase: "Perdoar é se libertar do passado". E eu, que tantas vezes fiquei afirmando a mim e ao mundo: viva o presente, aja, faça, sinta o agora... meditei, vislumbrei, projetei, delirei, plantei bananeira... mas o presente sempre me escapava de alguma forma entre os dedos vacilantes. E descobri o porquê: eu não me libertara do passado. Não aceitei mamãe e suas alucinações, que nunca foram contra mim – ela também procurava o amor de seu pai. Não entendi papai, suas bebedeiras, suas mulheres e sua busca alucinada por... sua mãe, minha vovó. Achei que tudo estava contra mim, porque foi isso que me ensinaram, desde os cinco anos de idade e até hoje. Os pais são culpados. A primeira infância marca a personalidade da criança para o resto da vida. Procurei acreditar nisso, ao invés de resgatar minha felicidade interior que sempre esteve ao meu alcance. Simplesmente eu não queria olhar para a felicidade, mas focar nas razões de eu ser tão sofrido.

Perdoe-me, mamãe, porque ao lhe culpar, eu me culpava; afinal, sou seu filho. Ao lhe culpar, eu me amarrei e também fiz coisas absolutamente desprezíveis para que você “pagasse” na marra o mal que eu achara que você cometera. Perdoe-me, mamãe, por ter responsabilizado você por minha felicidade. Como alguém como eu ou você, com suas dores, alegrias e buscas, pode me fazer feliz? Como posso delegar a outro, quem quer que seja, a responsabilidade de me fazer feliz? Cometi até o pecado de buscar você, mamãe, em minha esposa... Felizmente, você me alertou a tempo.

E a frase que você proferiu, que já repetira tantas e tantas vezes, e eu nunca ouvira: “Lembro-me de passar em frente à casa dos seus avós, meio que escondida, e ao olhar para a janela, vi você, rindo, gargalhando... você era uma criança muito feliz...”. Obrigado por ter-me lembrado, mamãe. A felicidade sempre esteve em mim e tudo o que aconteceu nunca teve o poder de tirar-me desse estado. Descobri exatamente o momento em que decidi que não deveria mais ser feliz, porque disseram-me que o mundo sofria, todos sofriam e eu era responsável por isso.

Por você, mamãe, pelos meus filhos e minha família, não aceito mais isso. Não permito mais que o sofrimento torne-se novamente meu amigo. Não o quero. Não acredito mais na existência dele. A criança feliz voltou para nunca mais abandonar-me.

Alex Possato
Especialista em programação neurolingüistíca, consultor, empresário, autor do CD Lei da Atração e o Processo de Aprendizagem
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Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Alex Possato   
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica
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