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PRESENTES DE NATAL

Atualizado dia 12/23/2006 12:20:25 PM em Autoconhecimento
por Claudette Grazziotin


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Nesse momento neva inclementemente no Colorado, Estados Unidos e os órgãos governamentais retiram pessoas e carros das rodovias, alertam sobre os perigos, suspendem serviços, escolas cerram suas portas, aeroportos fecham, distribuem-se mantimentos e água para passageiros impossibilitados de decolar e aconselham à população a se manter em suas casas; aqui, um calor insuportável nos deixa sedentos, pegajosos, nos põe a nocaute. Uma estiagem devastante assola a região sul do Brasil e já estamos nos assemelhando ao sofrido nordeste pela falta de bom senso, boa vontade, previsão, disponibilidade financeira; enfim, pelo descaso e desatenção desrespeitosa das autoridades brasileiras para com seu povo.

Nesta ante-véspera da festa maior da cristandade, dentro da madrugada quente, insone e vagando pela internet, encontrei este texto de beleza simples e rara, escrito por Joseph. Suas palavras são de uma profundidade e delicadeza de sentimentos que só uma alma muito sensível e lúcida pode emanar. Elas tem o perfume sutil de um espírito que reconhece o valor das coisas cotidianas e essenciais da vida e tem um refinado discernimento para diferenciar joio de trigo, vivendo assim a liberdade de estar no mundo sem a ele pertencer.

Quis compartilhá-las com os amigos do STUM como um presente especial pela importância de sua mensagem, nesta época de consumismo equivocadamente desmedido, onde os bens materiais sobrepujam e atropelam sentimentos de fraternidade e amor, numa distorção de valores, triste e funesta.

Joseph, para ti, meu carinhoso obrigada mais uma vez, por outra preciosa lição de bem viver e ser feliz com o possível, o verdadeiro mundo perfeito. Obrigada por seu "Presentes de Natal".

Claudette

Presentes de Natal

"Hoje no almoço, meu amigo Jimmy comentou: "Você nunca reclama! Parece ter tudo na vida, seu mundo parece perfeito. Existe alguma coisa que você gostaria de receber neste Natal?"

"Meu mundo não é perfeito, Jimmy, mas aprendi cedo a aceitar as coisas como elas são. Nasci meio pobre mas me considerava meio rico com o que recebera. Nunca desejei coisas além do meu alcance, sempre achei que eu tinha o que havia de melhor e na medida certa. Certas coisas não mudam de valor na minha vida por mais que examine versões mais recentes e aumentadas. Não sou o consumidor ideal neste era de consumismo. Não é que eu feche a cabeça para aprender coisas mais novas e mais complicadas, ou para rezar novas ladainhas. Depois de ter percorrido alguns milhares de quilômetros nas estradas da vida, continuo a me sentir satisfeito com o meu mundo e seus limites.

As brilhantes luzes das grandes cidades deste mundo nunca tiveram aquele brilho preguiçoso e acariciante das velhas lamparinas-a-querosene do meu sertão. A pompa e as luzes de Londres, Paris ou Nova Iorque não me encantaram mais do que a simplicidade e paz da pequena vila onde cresci. Barulho e confusão nunca foram substitutos de paz e harmonia. Conheci gente importante, generais e presidentes, um rei ou dois, mas nenhum deles tinha mais dignidade do que meu pai, um homem feliz e alegre com jeito de menino, o monarca absoluto do reinado do Petrópolis onde nasci, um pequeno sítio coberto de flores, pássaros e borboletas - imensas riquezas na minha tábua de valores.

Conheci escritores, músicos e compositores, políticos e militares - nenhum deles me pareceu mais talentoso do que o Bem Lira, meu primeiro professor de vida. Mestre Bem Lira, agora andando de braços com os anjos, continua, para mim, mais profundo do que o Ghandi da Índia, mais engenhoso do que o estrategista Rommel da Alemanha, mais generoso do que Alfred Nobel da Suécia. Isto não é retórica - falo de coração, falo de barriga cheia.

Parte de mim continua ancorada num distante pedaço meio seco do Brasil, enquanto o resto de mim vagueia por um mundo mais molhado - o gostoso forró nordestino correndo na veia e nos pés enquanto escuto as doces valsas de Strauss. Vou observando muita coisa nova mas nada invejo, minha taça já está transbordando. Estou contente com a vida. Não quero ser rei, nem aceito ser vassalo de ninguém. Fale com a voz da razão e eu aceito sua opinião. Grite suas ordens e eu não obedecerei - como dizia meu professor Bem Lira na sua imensa sabedoria de homem analfabeto, "o mar também ronca mas eu mijo nele".

O cofre da memória continua sempre cheio até a boca com mil lembranças dos meus alegres dias de menino. Vivendo fora de minha pátria, sinto o rato da saudade roendo dia e noite o queijo do coração mas ele não consegue diminuir meu amor por minha terra nem meu respeito pela gente com quem aprendi as primeiras lições de vida, gente que me deu minha tábua de valores. Na minha tábua, ninguém necessita calçar um sapato de mil-e-duzentos dólares (ver anúncio de hoje no New York Times) para ser feliz, nem ter uma garagem cheia de autonóveis de luxo ou carregar no braço um relógio de dez-mil dólares, de ouro e brilhantes. Não vejo tanto valor nessas coisas; vejo ostentação e muita besteira, na linguagem simples da gente com quem aprendi a medir valores.

No meu ofício de comerciante naveguei pelos sete mares vendendo e comprando, observando e tomando nota. Não viajei para fazer turismo, viajei para ganhar o leite dos meninos e o pão-nosso-de-cada-dia. Meu barco está agora em porto seguro, minha missão cumprida. Meu mundo não é perfeito nem é completo, amigo Jimmy - mas é tão perfeito e tão completo quanto eu desejo, necessito ou mereço. O Pai Natal, o Papai Noel, o Santa Claus ou quem esteja encarregado de distribuir presentes pode passar pela minha porta sem bater - pode seguir em frente e deixar seus embrulhos na porta de quem melhor possa usá-los. Estou satisfeito com minha vida, tenho paz e amor. E isto basta, não quero mais do que isto. Chega!"

Joseph E. de Sousa - Colorado Springs, USA
Natal de 2004

Texto revisado por Cris

ILUSTRAÇÃO:Manitou Springs,CO
Sunnymede covered in a blanket of snow, Winter 1998
https://www.sunnymedebandb.com/images/smsnow.jpg


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