Se o teu olho te serve de escândalo, arranca-o!

Se o teu olho te serve de escândalo, arranca-o!
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Autor Paulo Tavarez

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 9/24/2025 11:19:15 PM


Para equilibrarmos nossa sexualidade, é necessário olhar o outro como uma expressão espiritual e não apenas como uma expressão sexual. Essa compreensão é fundamental para aprendermos a lidar com uma das mais poderosas forças da natureza humana: a sexualidade.

A sexualidade é uma experiência multissensorial: envolve tato, olfato, audição, visão e até a imaginação. Quando reduzida apenas à visão (como acontece, por exemplo, no consumo de pornografia), cria-se um desequilíbrio na vivência do desejo. Nessa condição, passamos a buscar nas imagens captadas pela visão todo o estímulo necessário para alcançar a excitação. É claro que isso gera distorções: ansiedade, seletividade excessiva, preconceitos e outros desequilíbrios psíquicos, que só aumentam com esse tipo de comportamento.

A visão, por ser um sentido extremamente poderoso, pode dominar e sequestrar os outros. Isso favorece fantasias desconectadas da experiência real, em vez de uma vivência integral, encarnada, de encontro com o outro. O excesso visual pode gerar uma hiperestimulação que condiciona o prazer a imagens, e não ao vínculo humano. Não é difícil perceber, a partir desses desequilíbrios sensoriais, a origem de distonias na sexualidade, como impotência, ejaculação precoce e até o desenvolvimento de vícios psíquicos mais graves, como pedofilia, voyeurismo, entre outros.

Ou seja, há aqui um empobrecimento da experiência sexual, que se torna unilateral e menos integrada.

A frase de Jesus: "Se o teu olho te serve de escândalo, arranca-o" (Mt 18:9; Mc 9:47), merece ser estudada com toda a profundidade que o tema exige.

Essa é uma linguagem hiperbólica de Jesus — ele não incentiva a mutilação literal, mas aponta para a necessidade de cortar radicalmente aquilo que nos escraviza e se torna uma pedra no caminho do nosso desenvolvimento.

Se olharmos no contexto:
  • “Olho” é símbolo da forma como percebemos e desejamos o mundo.
     
  • Jesus alerta que o olhar pode ser porta de queda, especialmente quando reduzimos o outro a objeto de desejo ou de escândalo.
     
  • “Arrancar o olho” significa moderar, vigiar ou transformar o olhar, para que ele não reduza a vida espiritual a impulsos cegos.
     
Nesse sentido, podemos retomar o ponto inicial: quando reduzimos o desejo ao estímulo visual, corremos o risco de cair em um uso desequilibrado da sexualidade. O ensinamento de Jesus pode ser entendido como um chamado para não deixar que um sentido, uma pulsão ou uma forma de olhar domine toda a experiência humana, conduzindo ao fechamento da alma.

Em resumo: a visão tem força enorme na sexualidade, mas, quando isolada dos outros sentidos e da dimensão relacional, gera desequilíbrio. Jesus, ao falar sobre “arrancar o olho”, pode estar justamente nos convidando a desapegar desse olhar aprisionado e reducionista, em busca de uma integração maior — entre sentidos, corpo, espírito e relação com o outro. Não à toa, ele também afirmou: “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz” (Mt 6:22).

Freud observou que a sexualidade não é apenas genital, mas marcada por zonas erógenas e também por objetos parciais. O olhar pode se tornar um desses objetos — chamado em psicanálise de escopofilia (prazer em ver e ser visto). O prazer visual (como na contemplação erótica) pode ser saudável, mas também pode se fixar, criando uma dependência do olhar em detrimento do contato real. É o que acontece em casos de voyeurismo ou no consumo compulsivo de pornografia: o sujeito reduz sua experiência de desejo ao ato de ver.

Esse já é um sinal de desequilíbrio — quando um único canal (a visão) monopoliza a experiência pulsional.

Lacan aprofunda essa análise:
  • Para ele, o olhar não é apenas ver, mas uma instância que nos atravessa — é o desejo do Outro que nos olha.
     
  • O “olhar” pode ser um objeto a, ou seja, algo em torno do qual o desejo se organiza.
     
  • Quando o sujeito se prende excessivamente a esse objeto (por exemplo, fixação em imagens eróticas), ele fica alienado em um circuito fechado, em vez de se abrir ao encontro com o outro.
     
Assim, o “olho que escandaliza” pode ser entendido como a fixação patológica no olhar, que prende o sujeito em uma repetição pulsional.

Para Freud e Lacan, o desejo humano é estruturalmente falta. Quando o sujeito tenta preencher essa falta apenas pela visão, cria uma ilusão de completude: “se eu ver, possuo”. Mas isso nunca satisfaz plenamente — gera compulsão e vazio.

O corte (que Jesus simboliza com “arrancar o olho”) pode ser lido, em termos psicanalíticos, como a aceitação da castração: admitir que não se pode possuir totalmente o outro pelo olhar, pois o desejo é sempre incompleto.
Texto Revisado



 

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Autor Paulo Tavarez   
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