Ser conduzida para conduzir

Eu me preparei a vida toda para fazer o que estou fazendo agora, mesmo sem saber.

Conduzir almas... para o outro lado.

Ter conhecido tão cedo a morte, me fez despertar para o sentido da Vida. Quem eu era, o que estava fazendo aqui, qual a minha missão...?

Palavra esta que sempre me intrigou, pois eu tinha sede de realizar minha missão (afinal, em meu íntimo sabia que havia nascido com um propósito divino). Só não tinha tido ainda a clareza para tal...

"Como o afogado busca o ar" - parafraseando Yogananda, assim eu me joguei, mesmo sem saber, ao meu destino.

Me permiti ser conduzida (pelas mãos invisíveis do Criador) por entre vielas, vales escuros, montes e percalços no caminho.

Por muitas vezes, quase sucumbi. Já pensei em desistir inúmeras vezes, mas algo dentro de mim não deixava.

Era a Vida me chamando para um propósito maior...

Na minha vida tudo sempre aconteceu mais tarde e assim, me tornei mãe aos 36 e depois aos 39 anos... Ambos planejados, porém, com muito medo de me entregar à maternidade.

Medo de errar, de criar traumas, culpas sem fim por mais que eu buscasse dar o meu melhor...

Até que me rendi, sabia em meu íntimo que não seria a mãe perfeita que vive somente para o lar, os filhos e abdica de sua vida profissional (pelo menos na minha idealização de perfeição materna era essa a definição que eu tinha).

Até que me dei conta que esse foi o script da minha mãe (que abdicou de sua vida profissional para cuidar de nós e ela era perfeita para mim!).

Descobri, de um jeito meio torto, o ensinamento sistêmico que Bert Hellinger nos deixou:

"Mãe, você é a mãe certa para mim!"

Com certeza absoluta, nesse reconhecimento, posso eu agora descansar dos meus auto-julgamentos e condenações (que não ajudam em nada) e servir como eu posso: sendo mãe, esposa, dona de casa e também terapeuta, professora, escritora...

Cada faceta de uma parte do meu ser materializada, reconciliada internamente, com aquilo que por tanto tempo rejeitei e excluí: "tentar ser diferente da minha mãe" em muitas coisas.

Até que percebi o quão incrível ela é, exatamente desse jeitinho meio turrona, meio atrapalhada e que essa é nossa marca registrada: meio bruxa (meio bruta, às vezes), mas com um imenso amor! Amor gigante que ficou evidente ao presenciar os 90 anos da minha avó materna.

Pude compreender e me reintegrar a essa linhagem tão poderosa de mulheres-mães, verdadeiras leoas, matriarcas, que precisaram se virar nos 30 sem a presença do masculino (mãe e avó, ambas ficaram viúvas jovens).

Reconhecendo minha origem e força, hoje posso fazer diferente e falar no meu coração: "assim como vocês, eu também".

"Mas, agora eu vejo e reconheço sua grandeza e minha pequenez"...

Peço que me abençoem humildemente para que eu possa conduzir e ser conduzida, nesta estrada da Vida, conectada ao fio amoroso que nos une... Honrando e vivendo.

Amém! 

Ana Carolina Reis

@aurorapachamama