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SOBRE O SUICÍDIO

Atualizado dia 1/4/2007 1:07:59 PM em Autoconhecimento
por Christina Nunes


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Embora tema complexo, e talvez inadequado para um início de novo ano, o trago à baila sensibilizada pela notícia da qual tomei conhecimento de modo tardio esta semana, acontecida em primeiro de agosto do ano de 1993 com um ator inglês que me encantou com sua interpretação magnífica do personagem Pierre Gringoire, o Poeta Maior em Notre Dame de Paris, na sua versão televisiva do ano de 1982 - Gerry Sundquist. Por razões que desconheço, nesse dia nefasto e já longínquo ele suicidou, aos trinta e sete anos, em Norbiton Train Station, Londres, Inglaterra.

No entanto, a intenção ao discorrer sobre tal assunto se prende, antes, à devida exaltação da vida. Este ator, ao que me parecia de escola sheakespeareana, era um excelente e talentoso artista, como se evidenciava neste e em outros trabalhos seus no mundo da arte dramática. A pergunta que fica é a razão de tal ato extremo - ou razões, provavelmente muitas, uma autêntica amálgama intrincada.

O que leva alguém assim, supostamente bem sucedido, famoso, com o seu trabalho reconhecido a nível internacional, belíssimo, a ver-se encurralado num beco sem saída tão absoluto a ponto de não achar nenhum respiradouro; a ponto de lhe ser mesmo indiferentes as suas grandes realizações como ser humano e como profissional, a admiração de muitos; o respeito e o reconhecimento pelo seu trabalho; e o amor de tantos que ficaram, certamente em estado lamentável de sofrimento decorrente da perda de um ser que lhes é caro, e que voluntariamente deixou os cenários do mundo desta forma brusca, intempestiva, e extremamente infeliz?

Desejo abordar um pouco esta questão do ponto de vista espírita - o único, a meu ver, que oferece sobre este complexo drama humano, diariamente presenciado em todo canto do planeta, alguma luz, algum esclarecimento lógico e plausível.

O que tudo indica é que os que assim envidam tal atentado crucial contra a sua expressão de vida, vencendo em si mesmos a maior das resistências, qual seja o instinto de sobrevivência que, em circunstâncias normais, nos leva a perseverar e lutar pela vida até o nosso último fôlego - estas pessoas se vêem vitimadas por um estágio de sofrimento crucial no seu universo íntimo: alguma situação desesperadora, seja de ordem material ou emocional; uma falência financeira crítica, uma perda amorosa aparentemente insuportável, ou mesmo um estado de tédio agudo: uma falta de objetivos avassaladora, para que estes indivíduos admitam a continuidade de uma existência que gradativamente perdeu as suas cores; que foi aos poucos se esvaziando, e paralisando numa letargia pétrea, aterrorizadora - e, com isso, perdendo todo o seu sentido.

Sim; o que testemunhamos nestes casos nos aparenta, na essência, um sem número de situações provocadas por um extremo qualquer de frustração intransponível, crônica - ao menos da ótica daqueles que não enxergam mais atalhos nem alternativas, a um tal grau alucinatório, que lhe sobra apenas uma via de mão única: eliminar a si próprios; a ilusão de que, acabando com a existência que lhes parece miserável e desgraçada a um tal ponto irreversível, extermina-se também este estado terminal de sofrimento, para o qual não encontram mais forças nem razões que justifiquem o ter que suportá-lo por mais tempo.

Lembro-me de um dos livros do Espírito André Luiz, psicografado pelo saudoso mestre Chico Xavier, onde ele se demora ouvindo a explicação minuciosa de um de seus orientadores da cidade espiritual Nosso Lar, a respeito do estado petrificado dos espíritos que aportam na vida invisível debaixo dos lastimáveis efeitos da sua crença arraigada, enquanto reencarnados, de que, uma vez transpostos os limiares da transição corpórea, tudo haveria de acabar-se. A situação dos que crêem firmemente no "nada" após a vida física, e que, obedecendo, na sua constituição de seres eternos, às iniludíveis leis que regem a Vida na sua expressão maior no Universo, atraem para si exatamente o estado no qual crêem intransigentemente, segundo os parâmetros da causa e do efeito. O orientador explica a André Luiz que aquelas almas que ali se encontram naquele aspecto inerte, enrijecido, como se de fato "mortas para a eternidade", não se acham mortas de fato - apenas que expressam em si mesmas aquilo em que crêem, e que defenderam durante todo o tempo dominados pela visão míope do funcionamento maior da existência, de que se dispõe durante o período de condicionamento sensorial rígido e limitante da reencarnação. Com o tempo, o lampejo de consciência, imbatível e inexorável, e que de si próprio se impõe, desde o minério adormecido nos primórdios da evolução, até os cumes de expressão vital dos anjos nas dimensões mais evoluídas do Cosmos - este lampejo também ali, naquelas almas enrijecidas, sobrepõe seu brado de convocação à realidade maior das coisas, que afinal os impulsionará ao despertamento natural, e à natural transmutação de seus conceitos noutros mais gratos, mais fidedignos à nossa gloriosa condição de filhos da eterna divindade.

Pois assim também se dá no funcionamento da Lei para com o suicida, este querido irmão de jornada merecedor da nossa melhor disposição amorosa, para lhe estender a luz da compreensão, da prece e do auxílio. Porque, se em situação ainda agravada ao se envidar tal atentado contra si mesmo em fase prematura da vida, se achará este indivíduo preso, durante extenso intervalo de tempo, à vivência inexorável daquele ápice de loucura e de sofrimento a que se abandonara na hora do gesto extremo. Como nada mais vislumbrara para além daquele instante; como nenhuma alternativa, nenhum atalho, nenhuma escolha a mais ou luz no fim do túnel admitia para si, de modo tão definitivo, o suicida fica, assim, preso dessa hipnose auto-imposta: enrodilhado na insistência voluntária do seu estado mórbido de alma, e na visão repetitiva implacável do seu gesto extremo de violência contra si, em busca de uma libertação que, para seu sumo desvario desde então, não encontra, agravando os sofrimentos tidos como insuperáveis, mas que, da forma mais lastimável, descobre serem passíveis ainda de agravamento num tal estado indescritível de tormento espiritual.

continua

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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