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Somos todos grupo de risco

Atualizado dia 4/20/2020 10:10:49 PM em Autoconhecimento
por Andrea Pavlo


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Lembro-me de quando apareceu a Aids, nos anos 80. Eu era criança, não entendia direito o que estava acontecendo, mas me lembro de sentir medo. Milhões de reportagens sobre o tema, pessoas famosas pegando e morrendo muito rápido, era assustador. Lá pelas tantas alguém falou: “É doença de homossexual” - e eu respirei aliviada.
Eu era criança e meus pais gostavam um do outro, não seríamos afetados. Ufa! Uma criança respirando aliviada. Na minha cabeça, o que fazia essa doença ser de homossexuais era o fato deles apenas serem. Como se tivesse um gene que eles tivessem e o resto do mundo não, e que os fazia morrer. Não era por que, como descobri mais tarde, “eles eram promíscuos e Deus os castigava por gostarem do mesmo sexo”. Aliás, fiquei bem brava quando descobri que era por isso. Que Deus malvado! Enfim, mas muitas pessoas hoje têm AIDS. Fizeram uma campanha um tempo atrás dizendo que “quem vê cara não vê Aids” justamente porque ninguém se protegia quando dormia com pessoas que pareciam saudáveis. Ou seja, minhas elucubrações de criança preocupada nunca foram reais, não é mesmo?
Agora temos o Coronavírus. E ele começou com a promessa de matar velhos. Já ouvi bastante a frase “doença que mata velhos”. Então, com pais idosos e uma avó mais idosa ainda, tive que me preocupar por eles. Mas não por mim, não é mesmo? Eu não sou velha! Mas aí, parece que o grupo de risco começou a ficar esquisito. Um monte de velhinhas saindo da UTI, senhores de mais de 100 anos se curando da doença de boa. Ah, mas as grávidas não têm problema. Depois tem problema.
Agora, a desconfiança está caindo na conta das pessoas gordas.


Alerta vermelho! Sou gorda. E pior, depois da pastora Sarah Shiva dizer que “gordos não vão para o reino dos céus”, agora seremos punidos com o Coronavírus. E sabe por quê? Porque comemos demais e agora, finalmente, Deus vai nos castigar, como fez com os homossexuais nos anos 80!
Sim, a OMS é um pé no saco. Ela parece mais propensa a regularizar as ignorâncias ditas científicas do que a realidade. Alguém sabe como é feito um estudo científico? Pois é, eu já acompanhei alguns. E na maioria deles, as pessoas estão mais preocupadas com o dinheiro da bolsa, com os prestígios e com os títulos do que com o que realmente interessa. Sim, pode-se fazer um estudo sério, e graças a Deus existem muitos. O problema é que eles custam uma fortuna, dependem de um monte de burocracia e geralmente não se tem essa grana ou esse tempo, ainda mais no Brasil. No final, de 99% deles, você vai ler: ainda precisamos de mais estudos para confirmar se é isso mesmo – mas dito de uma maneira científica.

É a história do ovo. Se você fizer um estudo considerando A, comer ovo te mata. Se considerar B, ele te salva. Se considerar todas as outras letras do alfabeto, já viu. Fora que novas tecnologias são criadas todos os dias. O que não era possível saber nos anos 80, hoje é possível. O que quer dizer é: existem muitas verdade e a ciência é só uma delas!

Os estudos consideram dados concretos. Vamos supor que um grupo decide ver se morrem mais gordos em UTI do que magros. Eles vão pegar esse dado – geralmente o famigerado IMC – e analisar de acordo com isso. Ninguém vai testar o colesterol ou o triglicérides de uma pessoa que está na cama com Coronavírus, mesmo porque esses índices seriam falsamente afetados pelo estado do paciente. Ou seja, não tem nem como saber como estava a saúde da pessoa antes de adquirir a doença!

O preconceito é: pessoas que estão acima do peso costumam se cuidar menos. Já tem doenças preexistentes e acham que “já que sou gordo mesmo, vou comer mais um burrito”. A realidade é que são pessoas altamente afetadas pelo preconceito. As pessoas gordas nem coragem de ir ao médico tem, sofrem preconceito, podem ter problemas emocionais graves, ou seja, se ela é gorda ou magra – isso considerando o IMC que todo mundo sabe que é um índice muito fraco para medir a saúde de uma pessoa – não fala quase nada sobre ela. É a aparência e só.
O falecido Dr Alfredo Halpern dizia isso. Que mais vale um gordo saudável do que um magro insalubre. Um gordo que se mexe, come saudável na maior parte do tempo e é feliz tem muito mais saúde do que um magro, que come mal, vive estressado e não faz nenhum exercício.
Mas aí, como fica o preconceito? Eu, uma gorda que come bem e se mexe, estou condenada à morte por coronga? Sai pra lá jacaré.

O que vemos em pandemias e pestes de toda sorte, é uma tentativa de culpar alguém. Hoje colocamos a culpa nos chineses ou no capitalismo ou no fato de não cuidarmos do nosso planeta. Mas aí, os sacrificados serão quem? Ah, quem Deus está tentando tirar como mal exemplo. Quem comete os piores pecados – como gostar do mesmo sexo nos anos 80 ou gostar de macarrão agora, ou seja, sempre vai ter um culpado e alguém que vai expiar a culpa (cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo). Tudo isso para não enxergarmos que, na realidade, todos somos grupos de risco. Uns mais do que os outros, mas não nesses termos.

Os verdadeiros grupos de risco, quem está morrendo, é quem está na frente de batalha, como acontece em todas as guerras. Os médicos, enfermeiros, auxiliares de limpeza, garis, lixeiros, faxineiras dos hospitais, coveiros e, infelizmente, pessoas das periferias e pobres. Gente que não tem como honrar a hastag #ficaemcasa fazendo origami como os famosos. Gente que, se não for lá ver se acha uns trocados, vai ver a família morrer de fome. Essa é a porcaria do nosso país e é contra isso que devemos nos posicionar e não contra a China ou os gordos ou qualquer outra coisas.

Como diminuir os abismos sociais? Como fazer com que, num momento como estes, as pessoas tenham realmente escolhas? Formar um médico, algo tão necessário agora, é caríssimo. Não tem incentivo suficiente do governo, as pessoas querem, gostariam de ser mais não dá. A mensalidade de um curso de medicina gira em torno dos sete mil reais, quem pode com isso? A elite, a elite da elite, né? A mesma que pede Ifood e recebe no conforto do seu lar porque a auxiliar de cozinha foi trabalhar hoje e o motoqueiro entregou.

Ou as máscaras caem agora, ou nunca mais. Agora é a chance de olharmos para nós mesmos, no alto do nosso tédio hipócrita e perceber quais são as atitudes que precisamos mudar.
Como precisarmos olhar para todo mundo como igual, como pessoas que têm necessidades diferentes, diferentes desafios, mas são essencialmente humanos. Sentem dor, medo, raiva, fome. E se você não sabe o que é viver na periferia e passar necessidade, apenas se cale. Entenda que nesse momento você é pequeno demais para meter a colher onde não manja. Pseudocientistas, pseudoadvogados, pseudopolíticos.
Não sabemos como dar conta disso ainda, mas vamos chegar lá. Sou pequena diante de tudo e tudo o que eu faço é sentar no meu confortável apartamento e pedir meu almoço, bife à milanesa. De gordo. Com batatas fritas.

E tudo bem!
Texto Revisado
 

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Conteúdo desenvolvido por: Andrea Pavlo   
Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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