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Todas as coisas vivas são sagradas

Atualizado dia 24/04/2022 23:07:03 em Autoconhecimento
por Marisa Petcov


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No interior de cada um de nós, uma luz brilhante marca o lugar onde nossa alma toca o universo. Aqueles que nunca olharam para seu interior vivem em trevas sem fim, sem perceber o potencial de sua alma. Outros sabem vagamente da existência dessa luz, mas nunca a alimentaram, fazendo-a lentamente se desfazer. Porém, alguns cedem energia para sua luz interior até que ela cresça em uma fogueira que ilumina as eras.
Uma dessas almas já vivera muitas vidas nesta Terra, cada uma mais virtuosa que a outra, até que nasceu, no corpo de uma menina chamada Miao Shin, o fogo imaculado intensamente ardente. Poderia ter sido a última vida daquela alma na Terra, mas Miao Shin tomou uma fatídica decisão e, como resultado, todos nós fomos abençoados.

Os pais de Miao Shin eram uma mulher gentil e bondosa e um homem violento e ameaçador. A garota tinha a bondade de sua mãe. Amava a plantas silvestres e todos os animais da floresta e, também, amava as pessoas, encontrando coisas boas em todas elas.

Entretanto possuía, também, a obstinação do pai.

Aos nove anos, Miao Shin caminhava sozinha em uma montanha das proximidades. Lá, encontrou uma mulher eremita, muito magra e quase sem cabelos, com os olhos inchados e salientes. A maioria das pessoas a teria achado repulsiva, mas Miao Shin viu a beleza interior da mulher. Ela se sentou com a estranha velha, como se as duas fossem o pôr-do-sol e a escuridão reunidos. Ali, ao lado daquela mulher, Miao Shin sentiu-se em paz.

A partir daquele momento, Miao Shin soube que se tornaria uma eremita. De volta para casa, ela aprendeu sozinha como meditar. A cada manhã e tarde, sentava-se em um alpendre, voltada para o sol, silenciando a tagarelice de sua mente. Nunca mais ela se perguntou sobre o que vestir ou como trançar seu cabelo. Em vez disso, o silêncio a preencheu com sua radiância.

Assim, ela descobriu sua luz interior.

Seu pai não ficou nada contente. Uma eremita na família! Isso era absurdo e embaraçoso. Ele zombou de sua busca espiritual.

- Ela tem nove anos! – ele berrou com a mãe de Miao Shin. Espere até que tenha quinze! Então, vai querer se casar!

O pai de Miao Shin não queria que sua filha se casasse para ela poder ser feliz, com um marido forte e filhos encantadores. Ele pensava apenas nele mesmo, querendo criados e riquezas. E sua filha, ele decidira, os conseguiria para ele. O pai de Miao Shin arranjou para que ela se casasse com um homem muito rico, que não era nem jovem nem bonito.

O dia do casamento se aproximava e Miao Shin nada perguntava sobre seu noivo. Ela não se preocupou com a roupa do casamento, não demonstrou qualquer interesse com quais flores decoraria a casa. Simplesmente, sentava em meditação por horas e horas, todos os dias, tentando achar o lugar onde sua alma encontrava o centro do universo. Às vezes, ela alcançava, na pura luz interior, uma calma profunda. Isso não durava muito, mas, Miao Shin sabia que a luz estava ficando cada vez mais forte.

Sua mãe discutia com seu pai.

- Ela não será uma boa esposa. – dizia a mãe gentil de Miao Shin. – Observe-a. Ela está apenas interessada na santidade. Não a force a se casar contra sua vontade.

Mas o pai não queria ouvir. Um casamento havia sido organizado; haveria um casamento. Uma simples garota não o humilharia diante dos seus amigos! Nenhuma filha sua iria fugir para se tornar uma eremita!

Sua raiva e lamúria não levaram a nada. A garota ainda sentava-se em silêncio. Então, o pai de Miao Shin fez outra tentativa: mandou-a para um convento. A insípida comida do convento e a companhia das enfadonhas freiras, pensou ele, certamente a curariam e a desiludiriam da santidade.

Porém, Miao Shin adorou o convento. Finalmente, estava com mulheres como ela própria! Elas usavam roupas simples e comiam comida simples. Por horas, elas sentavam-se juntas, silenciosamente, procurando pela paz e iluminação. Por horas, elas cantavam preces, baixinho. Isso era tudo o que Miao Shin queria. Suas meditações se tornaram mais profundas e intensas.

Quando seu pai soube que Miao Shin estava progredindo no convento, ficou furioso.

- Arranque-a daquele convento! – ele ordenou aos seus homens, e eles o fizeram. – Tranque-a naquela torre. – ele ordenou, apontando para uma antiga ruína perto da estrada. E eles o fizeram.

Na torre, não havia ninguém com quem conversar e apenas arroz seco para comer. Miao Shin se devotou à sua própria disciplina. Pelas manhãs, rezava voltada para o sol nascente. Às tardes, rezava voltada para o pôr-do-sol. No intervalo, meditava sobre iluminação espiritual. Logo, ela viu a verdade luminosa por detrás das sombras desta vida.

Finalmente, o pai de Miao Shin viu a verdade, também. Percebeu que tudo que havia tentado apenas fez sua filha mais forte espiritualmente. Percebeu que. Mesmo que a forçasse a se casar, ela nunca seria uma esposa adequada. Se ela fosse enviada para a casa de um marido raivoso, ele nunca teria a riqueza que desejava.

Enfurecido, ordenou a seus soldados que matassem Miao Shin.

Os soldados, como se fossem membros da família, amavam e respeitavam a garota, mas tinham mais medo de seu pai. Assim, tiraram Miao Shin da torre e a levaram para a floresta. Eles caminhavam em silêncio, desconcertados devido ao que iriam fazer.

Miao Shin sabia por que eles marchavam de forma tão sombria para o interior da floresta. Ela sabia que seria morta. E sabia que fora seu próprio pai quem tinha dado a ordem. Mas ela não objetou. Em vez disso, caminhou silenciosa atrás dos soldados, seus finos punhos amarrados com uma corda forte, sabendo que havia sido um desígnio por trás de todas as coisas.

Os soldados chegaram a um espaço aberto por entre as árvores. Eles desembainharam as espadas. Miao Shin respirou profundamente, aprontando-se para a próxima vida. Os soldados elevaram suas espadas, todos juntos, no ar.

De repente, um tigre saltou da floresta. Ele era enorme, maior que qualquer outro tigre que já tinham visto. Com um movimento de sua longa pata dianteira, o tigre arremessou para longe as espadas dos soldados. Pegando Miao Shin em sua boca, correu através da floresta até chegar a uma profunda caverna na montanha. Ali, largou a garota no chão rochoso.

Miao Shin levantou os olhos para a enorme mandíbula do tigre. Ser rasgada pela fera era, contudo, pior que ser assassinada pelo ferro frio da espada. Mas ela suspirou profundamente e se preparou novamente para a morte.

O tigre desapareceu.

Miao Shin ficou sozinha na caverna escura. Ela olhou em torno para as paredes úmidas e gotejantes. Então, sem qualquer aviso, a caverna se dissolveu. Miao Shin flutuava como uma pena ao vento.

Ela aterrissou em algum lugar. Era um lugar escuro e sombrio, pior do que a caverna no interior da montanha. Diante dela, fantasmas flutuavam como fumaça. Acima deles, ela viu um homem imenso, com chamas dardejando de sua cabeça e de seus olhos. Era Yen Lo Wang, o Regente da Morte.

Ela estava em seu reino. Mas, ela tinha morrido? Ela não e lembrava de si mesma morrendo. Miao Shin tocou sua face com os dedos. Não – sua pele estava morna, ela ainda estava viva. Então, por que estava ali?

Miao Shin olhou ao redor para os tristes fantasmas flutuantes. Yen Lo Wang os segurava em suas garras. Presos dessa maneira, eles nunca reencarnariam. Nunca poderiam pagar por seus crimes ou procurar pela iluminação espiritual. Miao Shin percebeu que tinha vindo ali para realizar um trabalho sagrado.

- Wang – ela perguntou ao Deus -, por que você prende esses espíritos aqui em escravidão? Eles devem renascer novamente na Terra para mudar seus feitos ruins. Por que mantê-los aqui na tristeza, onde eles nunca poderão buscar por salvação?

O Deus olhou zangado. Chamas saltaram como cobras de sua cabeça. A garota ficou de pé diante dele, brilhando como uma santa. Ele não queria nenhuma santa ali! Ele abriu a boca para vociferar e levantou a mão para amaldiçoar. Mas, então, a paz caiu sobre ele como nunca sentira antes.

Miao Shin ficou de pé diante dele, meditando calmamente. Sua luz interior irradiou-se ao seu redor. Os fantasmas arrastavam-se para a radiância, flutuando na direção dela. O Deus da Morte viu e soube que não tinha poder sobre a garota sagrada.

- Leve-os! – disse. Ele não foi gentil, mas não estava mais raivoso. – Leve-os com você.

Miao Shin abençoou os esvoaçantes fantasmas. Eles flutuaram para cima e desapareceram. Na Terra, eles reencarnaram nos corpos de bebês recém-nascidos, prontos para viver novamente e corrigir os erros que cometeram em outras vidas.

Miao Shin pestanejou. Imediatamente, estava de volta à caverna na superfície da Terra, para onde tinha sido carregada pelo tigre divino.

Ela se sentou e começou a meditar, sentindo a luz crescendo como a água em um pote sob a cachoeira. Quando o pote estava quase cheio, ela abriu os olhos.

Diante dela estava o Buda! O rosto dele estava alegre e gentil.

- Miao Shin, você atingiu a iluminação espiritual. – ele disse, com sua voz cheia e serena. – Você está muito perto de se tornar uma manifestação de tudo aquilo que é divino, porém seu pai quer impedi-la. Portanto, você deve se esconder. Vá para a ilha sagrada de Polata. Lá, encontrará o silêncio que precisa para se tornar perfeitamente sagrada.

A garota concordou melancolicamente com a cabeça. Ela estava ansiosa para cumprir suas tarefas até a iluminação.

- Mas, primeiro – disse o Buda, - você deverá comer este pêssego que vem do Jardim do Paraíso. Você ficará sem fome ou sede.

Ela comeu o doce e suculento pêssego e se sentiu satisfeita como nunca tinha estado antes. Um dragão apareceu à entrada da caverna. Miao Shin montou nele e voou através do oceano para a Ilha de Polata.

Na Ilha de Polata, Miao Shin fazia as mais rigorosas preces e meditações.

Depois de nove anos, estava mais sagrada do que quando chegara. Um dia, sentou-se em meditação em sua ilha, olhando de uma alta colina para o mar. Enquanto meditava, começou a brilhar a partir de seu interior. Tornou-se uma bodhisattva, uma quase Buda, um pessoa de poderes mágicos e total bondade.

Durante muitos anos como bodhisattva, Miao Shin ajudou as pessoa onde quer que ela fosse capaz. Sua sacralidade aumentava com cada ato. Finalmente, estava suficientemente forte e pura para retornar a sua casa, sabendo que poderia nunca mais ser livre como fora até agora.

Sua mãe morrera há muito tempo. Mas seu pai ainda estava vivo – seu pai, que atrapalhara suas preces e havia tentado matá-la. Quando viu sua luminosa filha, irradiando poderes mágicos, ele estremeceu de medo.

- Eu sou um homem velho! – soluçou. – Não me machuque pelo que fiz a você.

Miao Shin confortou-o.

- Eu não venho para machucá-lo, mas para curá-lo. – ela disse. E lhe mostrou uma pequena pérola da Deusa ainda em seu interior e lhe contou sobre o caminho para a iluminação.

Ela permaneceu ali por poucas horas e, naquele momento, salvou seu pai.

Com aquele ato, Miao Shin tornou-se tão sagrada quanto Buda. Ela estava à beira de desaparecer deste mundo para sempre, passando para um lugar de luz e paz eternas, unindo- se com o poder mais profundo do universo. Ela sentiu que o poder surgia em seu interior e o contorno de seu corpo começou a se dissolver. Mas, então, reunindo toda a força que tinha, ela resistiu.

- Eu não quero isso! – ela disse para a luz universal – As pessoas ainda estão infelizes. Em todos os lugares, eu vejo tristeza e sofrimento. Eu desejo ficar na Terra até que todas as coisas vivas sejam sagradas.

Ela tinha trocado a vida de Buda pela disposição de ajudar os outros!

E ela teve uma chance imediata de praticá-lo: do outro lado do mundo, uma menina estava chorando, pois havia sido surrada por um vizinho.

- Kuan Yin Pu’as! – rezou a menina em seu pequeno quarto. Eram palavras que nunca tinham sido pronunciadas antes daquele momento. – Oh, sagrada Kuan Yin.

Assim, Miao Shin, a garota que procurou por bondade, tornara-se Kuan Yin, a fonte de toda misericórdia do mundo. 

Baseado no livro Garotas selvagens – O caminho da Deusa jovem – Patricia Monaghan

Marisa Petcov

Sacerdotisa e Mestra em diversos sistemas de cura

Contadora de histórias

Comunicadora da MKKWEB RADIO

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