Você acha que os defeitos estão no outro?
Atualizado dia 10/18/2006 8:57:53 AM em Autoconhecimentopor Renato Liberman
Mas e as emoções e os desejos que surgem do nosso interior e que nos incomodam? Aquelas emoções como o ódio, impulsos como a agressão e idéias como a consciência de que um dia vamos deixar de estar vivos? O que fazemos para eliminá-los?
Na realidade fazemos o mesmo, isto é, ou os enfrentamos ou fugimos deles. Mas como fugir de algo que está dentro de nós e que nos acompanha onde quer que estejamos, e pior, a todo o momento?
Lembre-se, somos seres humanos e possuímos uma mente criativa. E esta mente (humana) encontrou uma forma de enfrentar este problema. Em psicanálise, chamamos esta forma de “fugir do que nos incomoda dentro de nós” de projeção.
Isto é, “projetamos”, colocamos no mundo externo, aquilo que é nosso e que tanto nos ameaça. Mas se somos o “projetor” quem ou o que será a “tela” onde será projetado o nosso conteúdo ameaçador interno?
Você já deve ter ouvido falar ou lido em algum lugar que “aquilo que eu não gosto no outro é algo que eu tenho e não quero enxergar”. Será que não queremos enxergar ou, na verdade, não conseguimos perceber que o que nos incomoda e nos ameaça está em nosso interior? E este é o mecanismo de projeção: não temos consciência de um desejo ou emoção ameaçadora que está dentro de nós, por isso projetamos em objetos externos (pessoas, coisas, animais, etc) e passamos a culpá-los pelo nosso sofrimento.
Vou dar um exemplo bem simples:
“Uma vez, um homem de 23 anos estava em consulta terapêutica quando diz que não era traidor. O terapeuta não havia dito nada, mas seu cliente acusou-o de ter insinuado a traição. Deixou o consultório e espalhou a todos os seus conhecidos que seu terapeuta era um traidor”.
O que aconteceu foi que o cliente, até certo ponto inconscientemente, deve ter percebido um conteúdo (idéia, desejo) seu de traição que, por ser intolerável a ele próprio, não podia admiti-lo conscientemente. Sua defesa foi projetá-lo em seu terapeuta (objeto externo).
Talvez você não tenha percebido ainda, mas quantas vezes fazemos isso com pessoas a quem amamos e respeitamos? Muitas vezes acabamos relações de amizade, casamento, etc., porque projetamos no outro algo que está em nós e ainda saímos da relação nos sentindo vítimas da situação.
Um outro exemplo muito comum é quando alguém afirma “...aquela pessoa não gosta de mim...”, quando na realidade é o oposto.
Veja abaixo mais alguns casos comuns:
“... eles só pensam em sexo...”
“... o governo não faz nada para melhorar...”
“... você viu o que ele fez para mim ... que pessoa má!”
E assim por diante. São pensamentos e sentimentos projetados no outro.
Também usamos muito a projeção quando temos amor por um ídolo qualquer ou quando ficamos tomando conta da vida de alguém, como se fosse a nossa própria vida e até falamos mal desta pessoa, mas há uma identificação tão grande que ciúmes, inveja, normalmente estão presentes nestes casos. “Não julgues”, dizia Cristo. O julgamento é o fracasso da compreensão.
Além de tudo isso, a projeção está presente nas religiões e nas superstições, mas é um assunto muito vasto que poderemos abordar em outra ocasião.
A única forma que temos de reconhecer em nós o mecanismo da projeção é através de um autoconhecimento profundo e não apenas com leituras de livros, pois estas nos ajudam muito, mas pelo próprio mecanismo de projeção e outros mecanismos de defesa do ego, as leituras são limitadas ao que queremos entender.
É hora de não reprimirmos essa sombra que emerge, e sim, tomarmos consciência dela, reconhecê-la e assumi-la. A sombra é que nos segura no avanço da vida. Na realidade todos nós devemos ir mais fundo para encontrar a tão sonhada liberdade que procuramos geralmente fora de nós e que se encontra tão pertinho, tão dentro de nós mesmos.
Ilumine a sombra e verá que ela desaparece e você se ilumina.
Texto revisado por Cris
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