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Você sabia que Dante Alighieri foi um Templário? Parte II

Atualizado dia 4/3/2007 9:33:44 AM em Autoconhecimento
por João José Baptista Neto


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O observador desprevenido poderia facilmente pensar que tais letras são simplesmente as iniciais das denominadas virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade junto com as correspondentes às virtudes cardeais: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança. Mas um instante de reflexão basta para compreender que não era possível que homens de tamanha ilustração, como os nomeados, admitissem ou cometessem o erro grosseiro de escrever em latim “caridade” (charitas) com K. A questão se tornou clara por obra de Aroux que identificou que, na realidade, se tratava de uma sigla absolutamente específica da Ordem dos Fedeli d’Amore. René Guénon pôde retificar um erro de Aroux e finalmente se chegou à solução do enigma. As letras mencionadas são as iniciais de “Fidei Sanctae Kadosh, Imperialis Principatus, Frater Templaris” ou seja “Consagrado da Fé Santa, Príncipe Imperial, Irmão Templário”. Como o mesmo René Guénon assinala, a denominação de Kadosh (Consagrado ou Santo) é uma palavra que se emprega até hoje em conexão com o Grau 30 da Maçonaria, grau que é templário por excelência. A denominação de Príncipe Imperial há que se vincular à marcante orientação gibelina da Ordem, o que quer dizer uma atitude de total apoio ao Imperador do Sacro Império Romano Germânico em confronto com o poder temporal usurpado pela Igreja Católica.

Mas o que merece um esclarecimento mais detalhado é o de Fidel Sancta (ou Fé Santa em italiano) que não guarda relação com o dogmatismo e crenças de nenhum credo religioso corrente e esotérico.

De fato, há boas razões para pensar como Guénon que a Fé Santa, filiação templária laica ou secular, era nos tempos de Dante algo que em alguma medida se assemelhava ao que mais tarde se conheceu como “Fraternidade da Rosa-Cruz”, se é que essa mesma não se originou diretamente dela. Para esclarecer um mal-entendido frequente esclareçamos desde já que os membros da Fé Santa se autodenominavam como Fedeli d’Amore, nome com o qual depois chegou a se denominar a própria Ordem. O simbolismo básico era de natureza astrosófica, semelhante por um lado ao que os Templários tinham assimilado dos cátaros.

Sem entrar em detalhes que não cabem aqui, digamos que esse simbolismo faz referência ao Trivium e ao Quadrivium que significam as “sete artes liberais”: Gramática, Lógica, Retórica, Geometria, Astronomia, Aritmética e Música. Naturalmente essas disciplinas eram encaradas na Ordem a partir de um enfoque sapiencial e iniciático, mais elevado em espírito e conteúdo que o saber profano. E isso tem ampla relação com as esferas e os ciclos planetários, aos que faz ampla alusão Dante na “Divina Comédia”.

Não obstante, quanto à estrutura de graus, ou seja, a hierarquia iniciática interna, os Fedeli d’Amore se separavam da estruturação em sete graus da Ordem do Templo, que se conserva até os dias de hoje. Essa estrutura de sete graus se originou, ao que parece, na Ordem dos Haschischin. Vale a pena assinalar isso, mencionando de passagem que existem distintos trabalhos sobre as analogias entre ambas Ordens. Voltaremos depois a respeito, mas assinalemos desde já que a estruturação da Fede Santa se fazia com base em um sistema de quatro graus que analisaremos em seguida. Convém, de passagem, recordar que outra das autodenominações que se davam os Fideli tinha por base a palavra Merzé ou Mercê (presente, graça, mercê) e que ainda hoje um alto grau maçônico, lamentavelmente caido em desuso, pretende ter uma origem ou filiação hermético-templária. Esse grau, aparentemente vinculado, pelo menos em seu simbolismo, com a Fede Santa é o dos “Príncipes de Mercy”. Assim sendo, o notável é que a melhor fonte para conhecer a fundo o simbolismo e o ritual dos Fedeli d’Amore é uma obra de Dante: a “Vita Nuova”. Contudo, o profano que a ler sem cuidado e inadvertidamente nada poderá captar nem entender.

Porém, o iniciado não poderá deixar de se deter em detalhes que logo revelarão a chave de toda a obra. Essa é genuinamente iniciática mas sua avaliação exige precisamente que ponhamos em prática o conselho do próprio Dante na “Divina Comédia”:
“O voi ch’avete li’ntelleti sani, mirate la dottrina [O vós que tendes o discernimento, olhai a doutrina]
Che s’asconde sotto ‘l velame de li versi strani”.[que se esconde sob o véu dos versos estranhos.]
Inferno, IX, 61-63


E as surpresas com a “Vita Nuova” começam a partir da primeira página, pois ali diz Dante algo preciso, inconfundível, que constitui, por excelência, uma alta verdade na ordem iniciática e metafísica:
“In quel punto dico veracemente che lo spirito [Naquele ponto digo de verdade que o espírito]
Della vita, lo quale dimora nella segretissima camera [da vida, o qual mora na secretíssima câmara]
Del cuore…” [do coração…]


Aqui o esoterismo se torna transparente em uma alusão direta à presença divina (átmica) na câmara etérica do coração de todos os seres. Deus está em nós mesmos: para buscá-lo e achá-lo não fazem falta enviados nem vice-deuses. Naturalmente que Dante não pôde continuar nessa obra sendo tão explícito: teria terminado nas garras dos fanáticos. Essa é a causa determinante por que emprega vez ou outra uma terminologia secreta que é precisamente essa linguagem em chave dos Fedeli d’Amore a que fazíamos referência antes.

Assim, por exemplo, uma ou outra vez Dante fala de “coração gentil” para dar a entender um coração purificado das paixões próprias da natureza inferior do ser humano. O vento tinha para os membros daquela Ordem o mesmo sentido que tem hoje a palavra “chuva” para os maçons: não falar pois há profanos que escutam. Todas essas medidas de prudência eram, como se disse, impostas pelo fanatismo e intolerância da seita católica. E reiteramos isso pois unicamente uma religião em curso e exotérica pode ser sectária (que corta, divide) já que separa e divide seus seguidores dos que não têm as mesmas crenças.

No nível iniciático não pode haver seitas, pois toda genuína fraternidade esotérica pratica o universalismo e postula a unidade, transcendendo assim toda possível divisão real ou fictícia entre os seres humanos.

Dizíamos que a “Vita Nuova” constitui uma verdadeira síntese a nível ritualístico e simbólico da “Fede Santa”, sob as aparências de canto a um amor sublime mas profano. Certamente seria muito ingênuo querer ver aqui um reflexo do amor do poeta por Beatriz, ou seja Bice Portinari, uma jovem que Dante conheceu em tenra idade. A obra tem, por certo, fins muito mais elevados e Beatriz, tanto aqui como na “Divina Comédia”, é um símbolo de Sophia, a Sabedoria Divina de natureza transcendente e, certamente, situada muito mais além de todos os dogmatismos sectários e idólatras. As investigações dos autores já citados permitiram pôr às claras que os quatro primeiros capítulos da “Vita Nuova” correspondem ao Primeiro Grau da Fé Santa, denominado FEIGNARE ou Aspirante. Os capítulos 5 a 13 se referem ao segundo Grau, PREGNAIRE ou Postulante. Nos capítulos 14 a 17 se velam simbolicamente ritual e doutrina do Terceiro Grau, ENTENDEIRE ou Ouvinte. Finalmente os capítulos 22 a 29 se centram no Quarto e último Grau, SERVUS ou Servidor.

Texto revisado por Cris

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