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Carlos Prado o médico dos Andes - Parte II

Atualizado dia 9/5/2007 7:58:00 PM em Autoconhecimento
por Aos Filhos da Terra


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Carlos nos revela ser especificamente um Jampiri Quéchua; o termo tem dupla raiz etimológica, formado pelo verbo jamp, que em quéchua significa “curar”, acrescido de um sufixo aymara, ri, a designar “aquele que pratica curas”. Mas há muitas classes de curandeiros andinos, conforme variem as etnias ou os propósitos do trabalho praticado por eles. O jampiri corresponde ao termo aymara yatiri, a designar a mesma coisa. Os yatiri, os amauta e os qulliri, por exemplo, habitam predominantemente na região altiplânica. Não menos famosos são os kallawaya, cujo nome deriva de duas palavras aymaras, kulla, que significa “erva medicinal”, e waya, a expressar o modo característico com que levam suas bolsas ao ombro. Os kallawaya são feiticeiros temidos; antes viviam circunscritos à região de La Paz e do lago Titicaca; mas, como particularmente formam um grupo itinerante, têm se espalhado pelo interior da Bolívia e por países vizinhos, mesclando seus conhecimentos com os de outras regiões. Já nas zonas mais baixas dos vales estão radicados os pampa jampiri, os aysiri, os layqa e os paqo, entre outros. Nas regiões tropicais estão os ipaye, os povos de ascendência Tupi-Guarani e, além desses, os xamane. Apenas a esse último grupo étnico de sacerdotes caberia, portanto, precisamente chamar de xamãs, na América, visto que, curiosamente, o nome que os distingue coincide com o termo universalizado pela antropologia que, originariamente, é asiático.
Samans são propriamente os feiticeiros Tungues, um dos povos da família altaica que habitava a região centro-setentrional siberiana, no Paleolítico tardio, cerca de 20.000 a.C. O termo é aparentado do sânscrito sramana e do pâli samana, a designar o “homem inspirado por espíritos”, sendo aplicado a indivíduos especialmente marcados, reconhecidos como genuínos detentores do saber médico-religioso ancestral de seu povo. Uma questão polêmica é se durante as glaciações ocorridas, presume-se, entre 20 e 10 mil a.C., esses povos, seguindo seus rebanhos de renas, teriam migrado para a América cruzando o estreito de Bering, ou uma ponte terrestre existente entre os dois continentes. O romeno Mircea Eliade (1907-1986), historiador das religiões, por sua vez, vê traços evidentes de influências iranianas sobre o xamanismo da Ásia Central, e defende que o termo, mais remotamente, se origine da Mesopotâmia.
De qualquer modo, explica-nos Carlos Prado, os xamane andinos são curandeiros especializados no preparo de substâncias psicoativas, e se utilizam principalmente da ayahuasca. “Também nós jampiri”, continua, “assim como os yatiri e outros tantos, podemos nos valer em nossos rituais de beberagens alucinógenas, mas com outras propriedades, de acordo com a oferta da flora típica de nossas regiões”.
Esses grupos étnicos, entretanto, olham-se com mútua desconfiança no que tange aos conhecimentos secretos de cura que detêm, mas iniciativas de reunir, confrontar e fortalecer estes saberes têm sido esforços válidos mais constantes hoje em dia; daí a formação, por exemplo, da SOBOMETRA (Sociedade Boliviana de Medicina Tradicional) e de outras associações de natureza semelhante. A Escuela Inkari de Medicina Tradicional também se propõe à tarefa de encontrar aspectos comuns na heterogeneidade andina, no que se refere ao tratamento das doenças, por isso, Carlos Prado, fato inédito em sua cultura, vem preparando um livro, no qual pretende sistematizar as bases temáticas e culturais da medicina de seu povo, fundamentadas obviamente na cosmovisão andina.
Em termos simples, os povos andinos concebem a Mãe-Natureza, chamada Pachamama, como um universo dividido em três instâncias: Janaj Pacha, que é a “terra de cima”, todo espaço aberto que nos permite ver o sol, a lua, as estrelas e demais corpos celestes; Kai Pacha, ou “terra em que vivemos”, onde desenvolvemos nossos afazeres cotidianos; e Uku Pacha, ou “interior da terra”, o mundo subterrâneo. Cada um desses níveis acha-se habitado por inúmeras divindades, deuses maiores e menores de acordo com suas funções mitológicas. Impressionante, o cosmos andino tripartido bem como as características de seus respectivos deuses guardam incríveis semelhanças com a cultura grega, a fomentar outras instigantes teorias de que há 3 mil anos os gregos teriam atravessado o Atlântico e alcançado o império inca após cruzar o Pongo de Manseriche, também chamada Porta do Inferno, depois de terem subido o Rio Amazonas. As ruínas do palácio inca de Chavin de Huántar, por exemplo, exibem inúmeras correspondências com a arquitetura grega.

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