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Alcoolismo e constelação familiar

Atualizado dia 1/6/2014 11:26:01 AM em Corpo e Mente
por Alex Possato


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Hoje o meu papo é de alcoólatra para alcoólatra. 2014 entrando, você fazendo planos, querendo o sucesso, e talvez não perceba que um dos maiores impedimentos para a sua realização pessoal é o vício (se você não é pinguço, mas está lendo este artigo, perceba alguns dos seus vícios: droga, sexo, jogo, pornografia, pensamentos compulsivos, comida, cigarro, remédios, compras...). Vou ser bem direto: se você quer sentir-se feliz com o que faz, ter relações amigas e verdadeiras, ser sexualmente ativo e mais potente, estar mais conectado com a sua espiritualidade, é necessário fazer um acordo com a “cachaçada” interior.

Antes de mais nada, deixa eu falar uma coisa: eu e você somos viciados. Sou alcoólatra: bebo desde os 15 anos, parei por 10 anos, voltei, parei, voltei, parei... Você entende muito bem como é que é isso, não é verdade? Sou filho de alcoólatras. Neto de alcoólatras. Grande parte dos meus amigos foram alcoólatras. Tive relacionamentos com pessoas que precisavam de um alcoólatra como eu, para sentirem-se úteis. Então, muito do que eu vou falar, você já sabe... eu entendo você e você me entende... Somos iguais, somos irmãos. E algumas coisas, talvez você não saiba... E por isso, peço que você abra principalmente o seu coração, porque o meu foco é acender uma pequena chama de amor e esperança, para que você entenda e tome posse do imenso poder que possui, graças a tanto e tanto sofrimento que viveu (e talvez esteja vivendo).

Você, assim como eu, provocou muita dor a muitos, não é mesmo? Mas principalmente a si mesmo! A sensação de frustração, de não ser alguém decente, de usar os outros, de ser uma escória da humanidade, de não sentir-se merecedor do bem, da paz, do equilíbrio, do prazer sem aditivos, da espiritualidade, incomoda muito, em vários momentos. Principalmente no “day after”, aquele dia após a cachaça, quando você tinha prometido pra si mesmo nunca mais beber. Mas um alcoólatra é um ser humano sensível, muito sensível também.

É bem possível que você sinta um amor imenso, uma conexão tão próxima, mas tão, mas tão, mas tão próxima com o sofrimento, que você daria até a sua vida para acabar com todo o sofrimento da humanidade. E você está dando, porque o corpo não aguenta mais tantas porradas. Porém, o sofrimento da humanidade continua. E o seu, mais ainda. Talvez tenha chegado o momento de parar. Definitivamente. E isso, somente você poderá decidir. Sozinho.

Assumindo a responsabilidade por tudo

Um alcoólatra como eu e você coloca a culpa dos nossos problemas em alguém. Certo? Seja a nossa mãe, que foi uma mocréia, ou nosso pai, irresponsável. A família, que é um saco. Talvez a sociedade burguesa e nojenta. Ou o governo corrupto. Quem sabe a nossa companheira, que se faz de boazinha, quando o que ela mais quer é mostrar-se melhor: eu sei o caminho para você! Coitadinho...

Pois é. Vou te contar um segredo: dentro da nossa mente, existem dois personagens. Um, é um ser totalmente equilibrado, que não se identifica com os sofrimentos nem com os prazeres do mundo. Vou chamar esta parte de Eu Real. O outro ser é esta energia interna, viciada, que precisa do álcool e também de toda a nossa energia para sobreviver. Ela é sofredora, manipuladora, egoísta, às vezes raivosa, às vezes vítima, às vezes bem-humorada... Vou chamá-la de “Zé”. É o “Zé” quem lhe faz beber. É ele que, no último segundo, quando você tinha decidido não colocar um copo de cerveja na boca, com seu jeitinho sedutor e bacana, o convence a dar o primeiro gole. E aí, ferrou, não é mesmo?

Pois então. Você terá que entrar em contato com o seu Eu Real. E dar posse a ele. Entendendo que o “Zé” vai continuar com você... sabe até quando? Até o fim da sua vida! Pode crer! Mas você terá que assumir um acordo com o Eu Real e ir negociando com o “Zé”, até que ele perca a força. Pare de dominar você. Entenda uma coisa: é o “Zé” que ensinou a você que todos em sua volta são culpados pelo seu fracasso, pelo seu insucesso, pelos seus problemas. Ele também fala que você não presta, é ruim, viciado, um pobre-coitado... Por mais que você conquiste, você se sente assim... ou estou errado?

Já o seu Eu Real, não fala nada disso. Sabe que existe sofrimento. Sabe que existe prazer. Sabe que o mundo é como ele é, e você pode viver muito bem neste mundo. O seu Eu Real não o culpa de nada. Mesmo com todas as bebedeiras e cagadas que você fez. Não há culpa. É o “Zé” que também vê culpados e inocentes.

Sei que você sabe do que estou falando. Você sabe muito bem deste “ser” que está dentro de você, te manipulando o tempo todo. Está na hora de dar um basta nisso. E assumir a responsabilidade de tudo o que acontece na sua vida. Você é responsável. E você é capaz de fazê-la algo legal.

O sistema familiar do alcoólatra

O alcoolismo nasce em berços alcoólatras. Se não na própria geração, é só investigar: veremos, via de regra, pais, avós, bisavós, tios, primos, todos eles viciados. E mais: as pessoas que vivem com os viciados, mesmo que não tenham o vício químico, também estão dentro do sistema – geralmente os companheiros de alcoólatras são emocionalmente fracos. Todos estão doentes, sob efeito da química, e das manipulações emocionais e energéticas que um ambiente viciado provoca. Família de alcoólatra é um tal de sofrer aqui, sofrer ali, culpar este e aquele, vítimas e salvadores da pátria jogando um jogo que não acaba nunca... Para quem gosta de espiritualidade, ou tem sensibilidade, entende e percebe o “peso” que circula num ambiente de viciados. É um horror! Como ter um êxtase espiritual num lugar frequentado por energias sugadoras, manipuladores e totalmente ligadas ao sofrimento? Não dá, não é mesmo?

Em geral, a constelação familiar demonstra que nossas dores atuais estão ligadas aos excluídos da nossa família. Pessoas e situações que se perderam no tempo, e que nos influenciam até hoje. Crianças que morreram no passado. Abortos. Mendigos da família que se perderam por aí. Antepassados que quebraram. Mulheres traídas. Gente violentada. Ou pessoas que agrediram, torturaram, mataram e pisaram sobre as vítimas. Dinheiro e poder mal usado. Viciados e compulsivos de todos os tipos. Guerras, catástrofes. Tudo isso existe no nosso sistema familiar.

O alcoólatra tem uma conexão muito forte com o sofrimento. Com este lado sombrio da família. Ele “vê” a todas essas tragédias, e gostaria de salvar a todos. Porém, é uma tarefa impossível. Por isso, ele se anestesia com o álcool. E outras drogas. Por um amor absoluto e insano a algo que reina em sua própria mente inconsciente. E que faz parte do passado. Não tem existência no aqui e agora.

Essa é a parte mais difícil para o alcoólatra. Durante anos e anos, cultuamos o sofrimento e a ligação com este passado de dor, sem saber. E para parar de beber, temos que entender que não há nada a ser feito com este passado. Este sofrimento todo houve, e deve ser deixado.

Por isso, o passo primeiro para o alcoólatra se libertar é olhar para o sofrimento dentro de si. Deixar de querer anestesiá-lo. Parar de se enganar. Este sofrimento não existe no aqui e agora. Não há nada, neste momento, fazendo algum mal para você! E por que o sofrimento? É um eco do passado, só isso. É uma repetição mental e emocional, que fica girando em seu sistema, como a lua orbita em torno da Terra. Vai e volta. Vai e volta. E você, quer dizer, o “Zé”, diz: isso é verdade! Eu sofro! Eu sofro! Preciso beber! Preciso me aliviar...

Querido Eu Real. Olhe para este sofrimento. Olhe para o “Zé”. Olhe bem nos olhos deles. Sinta o sofrimento em si. E amarre-se na cadeira. Evite sair correndo para o bar. Ou a geladeira. Fique aí! Respire. Sinta o sofrimento. Respire mais uma vez. E mais uma vez. É chegada a hora de se libertar. Aos poucos. Se vier choro, tudo bem. Se vier tristeza, mágoa... tudo bem. Raiva? Ok. Você ama estas energias. Nós sabemos disso. Mas elas não têm mais sentido pra você, no aqui e agora. Incline-se profundamente, e sinta como se você estivesse deixando todo o peso que carrega, aos pés destas energias. Deixe tudo. Tudo o que você viveu. Todas as relações perdidas nestes anos, devido ao álcool. Tanto dinheiro gasto... Tanta confusão. Tanta dor. Deixe tudo. Se você tem pai ou mãe ou avós alcoólatras, imagine que está deixando estes pesos aos pés deles. Só na imaginação, ok? Deixe isso para eles. Tudo, tudinho. Diga a frase:

- Deixo para vocês o que pertence a vocês. E fico somente com o que é meu. Eu os liberto. Eu me liberto.

Entenda. Este é o início da sua liberdade. Você terá que se entregar de corpo e alma para dar força ao seu Eu Real, da mesma forma que entregou-se de corpo e alma para a bebida, para o “Zé”. Sua nova vida começou. Eu tenho certeza que você vai conseguir manter-se bem, feliz e sóbrio! Feliz 2014! Brindemos! Com guaraná!


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Conteúdo desenvolvido por: Alex Possato   
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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