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Feminilidade e Ciclicidade: A flutuação das emoções da mulher na maré hormonal

Atualizado dia 8/16/2007 10:12:53 PM em Corpo e Mente
por Priscila Gaspar


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Ana Maria acorda mal humorada. Olha-se no espelho e sente-se horrorosa. Olhos fundos, pálpebras inchadas. A pele está oleosa e, apesar de ter mais de trinta anos, algumas espinhas estão surgindo. Os seios e o abdômen estão bem maiores do que ela julga ser “seu normal”. Sente-se “gorda”, cansada e seu apetite parece insaciável. Tem desejos por doces e chocolates. As roupas não lhe caem bem, parece que tudo aperta. No trabalho, o serviço não rende. As horas parecem não passar, não vê a hora de voltar para casa e se deitar. Está irritada com tudo e muito sensível, chorando com facilidade. Apesar de não se sentir bem, se uma amiga lhe pede apoio, Ana a acolhe e sensibiliza-se com seu problema, pois está aberta e sensível aos problemas alheios.

Dez dias depois, Ana Maria parece outra mulher: acorda bem disposta, admira-se no espelho sentindo-se bonita. A pele está luminosa, os cabelos sedosos. O inchaço desapareceu por completo, parece mais magra. Está alegre, bem humorada. Sente vontade de sair, rende mais no trabalho. Repara nos rapazes que ficam olhando pra ela, tem vontade de namorar. Se a amiga lhe pede apoio, sua reação poderá ser bem diferente: não está com disposição para acolher, nem para chorar junto. Mas pode estimular a amiga a reagir, uma vez que está bastante animada.

O que parecem ser relatos de duas mulheres, são apenas dois momentos distintos do ciclo de uma mesma mulher. No primeiro relato, Ana Maria está no período pré-menstrual, enquanto que no segundo está entre a menstruação e a ovulação.

O tempo todo, nós, mulheres, somos cobradas para que correspondamos a um padrão de mulher ideal, sempre bonita, segura, competente profissionalmente e, ao mesmo tempo, sensível e acolhedora. Os hormônios que facilitam o estado psicoemocional de sentir-se bonita e segura são os estrógenos, que predominam no início do ciclo. Ao contrário, a progesterona predomina no final do ciclo e aumenta a sensibilidade, o desejo de servir (ser mãe). Assim, como esperar que a mulher seja, ao mesmo tempo, dinâmica para tomar suas decisões de trabalho e acolhedora para com os problemas alheios? É natural, portanto, que num dado momento a mulher se sensibilize com o problema de uma colega de trabalho, aconselhando-a e, num outro momento, pense mais em si mesma e sequer tenha disposição para ouvir a amiga! Entretanto, na fase mais dinâmica, ela será uma excelente companhia para passear, dançar, ir às compras etc. Trata-se, pois, de saber escolher o que cada fase propicia de melhor e desfrutar disso, aceitando que não se sente a mesma em todos os momentos. Se ela cobra o dinamismo no final do ciclo, se frustra, assim como se acreditar que tem de acolher aos outros sempre.

Assim como as fases da Lua, as marés e as estações do ano, a natureza da mulher é cíclica, mutável. Cada parte do ciclo feminino tem seus encantamentos, da mesma forma que cada uma das fases da Lua e cada estação do ano, com suas características próprias e particularidades. Independentemente da fase, a mulher sempre merece atenção, respeito e carinho. Os ciclos hormonais femininos impossibilitam que Ana Maria ou qualquer outra mulher pense, sinta e aja como se fosse a mesma mulher todos os dias! Insistir em manter um padrão estável de estado emocional, de comportamento ou de aparência é colocar-se contra essa natureza. O padrão linear, tipicamente masculino não pode ser imposto às mulheres.

Hormônios não afetam apenas o corpo físico, mas também o psiquismo. O inverso também é verdadeiro: o psiquismo influencia as respostas hormonais! Sob ação do stress toda a produção hormonal se altera, daí os freqüentes atrasos e irregularidades menstruais diante de situações novas. Tanto fatos reais interpretados como ameaças pelo organismo, como as ameaças imaginárias (medos, fantasias, sentimentos negativos), levam a uma resposta neuroendócrina que visa preparar o corpo para situações de perigo.

Nas situações normais, o psiquismo e o corpo da mulher se manifestam ciclicamente, alternando períodos em que determinadas atividades são favorecidas em detrimento de outras. Em um mundo onde predominam valores tipicamente masculinos, as cobranças de produtividade e uniformidade nas respostas são enormes. No entanto, a ciclicidade tipicamente feminina não permite à mulher ter a constância masculina. Impor-se esse tipo de padrão é lutar contra a natureza cíclica do feminino, é não aceitar a natureza feminina.

Aceitar a ciclicidade implica também em aceitar todos os fenômenos naturais que dela fazem parte, especialmente a menstruação que é vista por muitas mulheres como um empecilho às suas atividades normais. A dismenorréia, que consiste em dores na menstruação, pode apresentar aspectos psicoemocionais associados ou não às causas orgânicas. Entre esses aspectos, salientamos: a recusa em ser mulher adulta; dificuldades em lidar com a possibilidade de ser mãe e também ressentimentos quanto à própria condição feminina (não gostar de ser mulher ou não aceitar o fato de que é mulher). Com freqüência estes aspectos necessitam ser trabalhados em psicoterapia onde são trabalhadas as crenças e emoções quanto ao “ser mulher”.

Aceitar a ciclicidade determinada pelos hormônios femininos não significa que somos escravas ou marionetes regidas por condições bioquímicas! Ao contrário, conhecer melhor a si mesma e suas flutuações psicoemocionais, permite ter mais controle sobre o próprio comportamento. Isso ocorre porque o fato de tomarmos consciência das condições hormonais e das naturais limitações fisiológicas é o suficiente para diminuirmos a auto-cobrança e, conseqüentemente, a frustração! Assim, aceitar que o feminino é cíclico e mutável é um passo fundamental para viver bem com sua feminilidade e seu corpo, desfrutando das vantagens de cada fase do ciclo e minimizando as desvantagens.

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Conteúdo desenvolvido por: Priscila Gaspar   
Priscila Gaspar é Psicanalista, Terapeuta de Regressão e Terapeuta de Casais, com especialização em Sexualidade Humana. Atende em psicoterapia individual e de casal.Contato: [email protected]
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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