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O álcool e o entorpecimento da alma

Atualizado dia 5/12/2014 12:19:40 PM em Corpo e Mente
por Alex Possato


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Não é moralismo. Até porque eu gosto de beber. Gosto muito. Quando começo, não consigo mais parar. E sei que realmente é gostoso para nós, alcoólatras, sentirmos aquela sensação da mente ficando anuviada, as palavras fluírem mais soltas, as inibições irem sendo afogadas a cada gole que desce pela garganta, a libido aumenta… Temos a nítida sensação de que ficamos um pouco mais próximos daquilo que gostaríamos de ser, e que não conseguimos, quando estamos sóbrios. Os medos desaparecem, ficamos valentes, nos achamos mais bonitos, mais simpáticos, mais alegres, mais hábeis…

E os problemas, então? Quando entro no bar, estou lotado deles… Daí, olho para a primeira garrafa e vem uma sensação de euforia. Sei muito bem que, em breve, não haverá mais problema. Estarei feliz e… embriagado. Dificilmente alguma coisa resiste após a terceira ou quarta garrafa. Briga com a mulher ou com os filhos, dívidas, baixa autoestima, culpas, medos, impotência, ejaculação precoce, unha encravada… o álcool é realmente milagroso. Não resolve o problema, mas nos faz esquecer dele.

E lá pela sétima garrafa, quem sabe comece a bater o remorso. Já não sei exatamente qual é o problema… mas… sei que existe algo. E estou alguns reais mais pobre. Meu fígado mais detonado. Quero fugir do bar, e chegar em casa sem ninguém me ver. Vem a vergonha.  Que às vezes até tento disfarçar com um falso sentimento de “eu sei muito bem o que estou fazendo”! Mas no fundo, não sei.

Amor pelo sofrimento e peso do passado familiar
Vamos falar de bêbado para bêbado: a gente se amarra no sofrimento, não é mesmo? dizemos que bebemos para esquecer, mas no fundo, bebemos para lembrar. Lembrar o quanto nossa vida é injusta, nossos problemas são pesados, nosso passado foi cruel e o quanto temos vergonha e culpa por não conseguirmos olhar de frente para nossas questões. Não é isso? Não queremos acessar nossa raiva, nossa angústia, nossa conexão com essa infinidade de energia densa que transita em nossa mente, corpo e emoções, porém, ao mesmo tempo, não queremos largar este peso para trás. Mais que na bebida, estamos viciados em carregar emoções difíceis, que achamos que são nossas.

Mas vou lhe dizer uma coisa: estas emoções, esta sensação de estar levando um monte de “encosto” nas costas não são nossas. São dos nossos pais. Papai e mamãe ensinaram a gente a carregar problemas, porque eles não deram conta do deles. E atrás do papai e mamãe, estão os nossos avós… Quanto raiva não vista? Quantos vícios escondidos? Quantas amantes abandonadas? Quantas bebês, fetos e crianças perderam suas vidas e foram esquecidas? E a dor das mães que perderam seus filhos? Fracassos financeiros… Fora, claro, os bêbados e viciados do nosso sistema familiar… todos eles excluídos do convívio social e com suas emoções engolidas e não digeradas.

Pois saiba você, querido alcoólatra: estas emoções que não foram assumidas pelos nossos pais e antepassados, das dores que ocorreram e não há o que fazer com elas, continuam “vivas” no sistema. E você as carrega. Faz isso por amor, querendo, inconscientemente, ajudar seu sistema familiar a carregar o sofrimento. Você gostaria de ficar com todo o sofrimento do mundo, não é verdade? Mas não consegue…

A alma é feliz, livre… e sóbria
Vou contar mais um segredo. Este monte de sofrimento não é real. São lembranças que você tem de algo que nem tem conhecimento racional. São como filmes de terror que ficando sendo passados na sua tela interna, repetidas vezes… fazendo você detonar com sua vida. E você faz isso, porque aprendeu a sofrer com sua família. Mas imagine você: esqueça por um segundo estes problemas. Simplesmente feche os olhos, tente sentir a fragrância das flores, a suavidade das pétalas, o calor do sol… Ouça o som da cachoeira e mergulhe por um instante nestas águas. Ouça os cantos dos pássaros e o toque da brisa em seu rosto… Vamos, tente! você consegue!

E se consegue, pode perceber muito bem que o prazer também está aqui e agora, disponível em suas mãos. É lógico, papai e mamãe não ensinaram isso. Condicionaram você a acreditar no sofrimento. E na culpa. Tanto ensinaram você, que o simples fato de você saber, efetivamente, que merece e deve ser feliz, aqui e agora, e para isso não necessita de mais nada a não ser respirar e focar, que você tem imensa dificuldade em ficar firmado nesta paz. Firmado na sua alma. Que essencialmente é boa, amorosa e em paz.

Convido você a olhar para o passado, e perceber que tudo o que foi vivenciado, embora tenha deixado marcas, não tem mais sentido, no aqui e agora. Há que se ter coragem para olhar para suas emoções, sem buscar amortecer. Você entrará em contato com sua raiva. Seu medo. Sua vontade de morrer. Seu vitimismo. Sua sensação de impotência. Seu desejo e ganância. Seu ciúme. E se perseverar nesta observação, entenderá que tudo isso foi ensinado: pelo seu pai e pela sua mãe. São ecos do passado e também ecos do sistema familiar. E deixará passar, aos poucos… percebendo que a raiva, o medo, o vitimismo e tudo o mais vai deixando de ter sentido… eles vão sumindo, sumindo, perdendo a força…

Muito além desses ecos de sentimentos distorcidos, está a sua força de sobrevivência. Sim, você é um sobrevivente. E será um sobrevivente muito mais digno. Honrando a si e à sua essência. Honrando à sua alma pura e amorosa. Dessa forma, e somente dessa forma, você verdadeiramente honrará todo o sofrimento que houve no seu passado familiar. Não existe honra no sofrimento e na carência. A honra só existe no altruísmo, na perseverança, no compartilhar. Eu sei que você está me entendendo.

Tenho certeza de que você até poderá sentir vontade de beber, quando aproximar-se desse ponto. Mas será grande a tendência de não seguir o impulso. Porque resolveu escolher seguir um outro impulso: o impulso da vida. Do perdão. Da aceitação de si e dos outros. Do amor e da reconstrução. E se cair? Tudo bem. Você conhecerá o significado do grande “porre” que é poder olhar para trás com gratidão e paz. E para frente com alegria e fé. E recomeçará, confiante, outra vez. E outra vez.

Último recadinho: querido bêbado (irmão de copo)… pare de brincar. Pare de enganar sua família. Esse assunto é só seu. Chegou o momento de olhar de frente para as emoções escondidas atrás do vício. Para você poder amar o próximo de verdade, e fazer algo útil da sua vida. De verdade. Procure a ajuda de especialistas. Existem muitos grupos gratuitos. E outros pagos. Busque o AA. Faça terapia. Esta escolha depende somente de você. O caminho é árduo e irá até o final da sua vida. Não há escolha. Ou você para, ou você para. Porque o pior é que, se você não assumir cuidar de suas emoções distorcidas e do seu vício, seu filho irá assumir a carga por você. E seus netos também.

Grupo aberto “Alcoolismo: caminhos sistêmicos” clique aqui e saiba mais

O valor da contribuição sugerida para este grupo é totalmente destinado para a Casa Amigos da Vida
 


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Conteúdo desenvolvido por: Alex Possato   
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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