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Abraçar a sombra

Atualizado dia 4/28/2014 2:40:42 PM em Espiritualidade
por Mariana Montenegro Martins


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O outro só existe como tal quando deixo de me projetar nele. Só assim eu posso ver o outro como outro, autêntico e legítimo na sua alteridade. Do contrário, só existe o mesmo; o eu misturado com o outro. Projetando-nos de maneira inconsciente para fora, atribuímos ao outro o que na verdade existe dentro de nós. A outra pessoa se torna uma tela de cinema, para a projeção do nosso drama, da nossa ficção, às vezes até da nossa tragédia. Porque vemos frequentemente nos outros o que não aceitamos dentro de nós.

O que é negado, reprimido em nós, chamamos de sombra, de mal. Mas só haverá um verdadeiro sujeito, um ser integral, quando aceitarmos e abraçarmos as nossas sombras sem julgamento. Senão, só há contradição, desacordo, cisão interna. Só há luta que drena a energia da pessoa. Esta separação interna impede o encontro do ser consigo mesmo, e o afasta do seu direito humano à plenitude. Abraçar a sombra é aceitar o lado obscuro em nós, é aceitar todos os lados, sem fragmentação, trazendo-os à tona, à luz da consciência.

No início da caminhada do autoconhecimento, o que encontramos é um mundo de ruínas e de sombras dentro de nós. Mas se não fugirmos, se não nos negarmos a encarar os fatos e os fantasmas, através de um olhar de atenção e amor, podemos transformar a sombra, domar o leão que vive em nós, e fazer dele um aliado. A sombra é em si um potencial de maior consciência, de força, de vida. Quando a aceitamos, trabalhamos e integramos, conhecemos a Luz maior que existe além das dualidades. Mas devemos começar aceitando a matéria-prima que temos inicialmente para trabalhar: as sombras, os monstros, os escombros. É na queda que o rio mostra a força que tem.

Criticamos tanto o mundo porque não suportamos nosso próprio mundo interior; a guerra dentro de nossas próprias mentes, a confusão de nossos sentimentos, o caos em nossas vidas. Mas preferimos negar as sombras dentro de nós e construir uma identidade com base nesta negação, a encará-las de frente. É assim que construímos o mundo em que vivemos. Se existe uma guerra travada dentro de mim, e se ela é mantida inconsciente, será fatalmente projetada para fora com violência. Assim, as guerras são necessárias no mundo.

Por isso, o ser humano sobrevive de defesas; criando couraças e bloqueios. Porque faz continuamente o esforço para sufocar seu próprio mundo subterrâneo e interior. Para manter sua casca rígida e bem protegida. Só que o que ele não percebe é que o inimigo vive dentro dele, não fora. E que é ele mesmo que cria e cultiva o inimigo através da sua própria inconsciência. Faltará assim congruência; um acordo harmonioso entre o que ele é, a imagem que faz de si para os outros, o que fala, o que pensa, e suas ações. Por isso, o passo à frente é não temer a própria sombra. Não fugir dela, aprender a amá-la. Amar este trabalho, que é o de abraçar a própria sombra, encarar os fantasmas, e de repente, entre escombros, esbarrar com os ossos.

O encontro com aquilo que é indestrutível, com os vestígios da essência, do numinoso. Mesmo a Hidra tem uma cabeça imortal. Mesmo o mais hediondo dos monstros mitológicos, tem uma essência que não pode ser destruída. Não podemos sufocar nem destruir nossas sombras interiores. Podemos aceitá-las, trabalhá-las, erguê-las à luz. Abraçar a sombra entendendo que ela é uma parte de nós, só que ainda não trabalhada. Para que então seja possível transcender as dualidades, a luta, para que as defesas se tornem desnecessárias. Reconciliando-se consigo, respeitando o outro. Na nossa raiz absoluta de unidade, e na existência da nossa gloriosa alteridade.

Rumi dizia que nossa tarefa não é procurar o amor, é procurar e encontrar as barreiras dentro de nós que nós construímos contra o amor.

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Conteúdo desenvolvido por: Mariana Montenegro Martins   
Escritora, jornalista, educadora e terapeuta. Nascida no Rio de Janeiro, no solstício de verão, sob o signo de sagitário. Site: http://trilhasdoser.com.br/site/
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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