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Ainda assim há vida...

Atualizado dia 1/17/2011 11:43:56 PM em Espiritualidade
por Andrea Palermo


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"Quando alguém se vai... Ainda assim há vida... Se alguém se vai, o dia, ainda que o sol brilhe, fica cinzento e amuado. O frio baixa a temperatura, nos deixando encolhidos, com o olhar perdido, como se uma chama dentro do coração tivesse se apagado... Essa chama pode até voltar a se acender e isso é o desejável , mas sempre haverá a falha deixada pelo alguém que se foi....
Se alguém se vai e nunca mais volta, por mais que a cabeça entenda que tudo nessa vida é provisório e passageiro, que os caminhos se cruzam e se descruzam, e que certas coisas são inevitáveis a alma leva um choque. E então, se veste do mais suntuoso negro, recolhendo-se, e ficando vazia e triste. Às vezes, os olhos vazam essa tristeza; outras vezes, não há ânimo nem para isso. E assim, coberta de negro, a alma contempla a vida, esperando... O tempo de voltar a sorrir, ainda que o sorriso tenha um traço leve de tristeza...
Se alguém se vai o dia tem mais horas, os minutos mais segundos, e tudo é mais demorado e difícil. Parece castigo... Às vezes, sente-se a densidade dos momentos passando, quase tão pesada que se poderia tocar com a mão. Nessas horas, chega-se a pensar que jamais se seguirá com a vida em frente, mas a vida segue, e quem ficou segue com ela.
Se alguém se vai, quase sempre vem a sensação de que não há mais chances. Fica-se pensando na conversa que não houve, na declaração que não foi feita, no carinho que deixou pra depois, nos erros cometidos, no desabafo que não foi externado, no amor que ficou pra ser sentido, no tempo que era pra ser vivido... E tudo isso vai formando um nó que tampa a garganta, interrompe a respiração e provoca uma sensação de abandono que só poderia ser deixada por aquele alguém que se foi, porque cada história é única.
Se alguém se vai, quem ficou percebe o imperceptível quanto mais o tempo passa. Começa a fazer falta aquele olhar de carinho ou reprovação, aquela voz invadindo a casa, aquela obrigação quase chata de ter que dar uma satisfação, um telefonema, aquele jeito de falar e abraçar; e no começo dá a impressão de que tudo isso ficará perdido em algum lugar inacessível. As datas especiais doem. A cumplicidade que só pode existir entre uma e outra pessoa que se gostam ficam sem sentido. A voz daquela pessoa ressoa em momentos inesperados e o coração dói . E quem ficou percebe que ninguém pode substituir o lugar daquele alguém que se foi...
Se alguém se vai, as dúvidas rondam a mente e a fé sofre um abatimento. Percebe-se que o mais forte, o mais abençoado e o mais saudável ser, um dia, sucumbe. Percebe-se que a existência é frágil. Vem a raiva, a impotência, o medo. Duvida-se da vida, da morte, de Deus, das pessoas, do amor. Assim como vem, vão e voltam sem resposta, porque não há respostas. E tudo isso pode virar amadurecimento ou amargura, dependendo de como quem fica escolhe vivenciar.
A Sensação é que o mundo todo acaba quando alguém se vai... E não dá a menor vontade de reconstruir nada. Nada.
Se alguém se vai, normalmente, se tem o carinho e a compaixão dos outros que ficam, e, passando pela mesma dor ou não, se preocupam em ser um consolo. O calor da alma dessas pessoas vai começa a esquentar a alma fria de quem ficou, a fazer efeito e recuperar o coração dilacerado. E é nessas horas que se percebe o valor que tem dividir a vida com outras pessoas em todos os momentos, porque são elas, e não o alguém que foi embora, que vão ajudando a levantar e seguir em frente.
Se alguém se vai... Quem ficou começa a trilhar uma longa caminhada... Uma estrada enlameada, escorregadia, escura, esburacada, que muitas vezes faz cair, machucar, e quase desistir de andar. A dor é tão profunda, e parece estar enraizada em um lugar tão inacessível, que parece que nunca vai sarar. Mas ela sara. Aos poucos, sara. E chega a hora de deixar o tempo fazer seu trabalho, de sorrir de novo, de deixar as lembranças serem somente lembranças, de tirar o negro da alma. E, de repente, o caminho, apesar de a cada dia ter mais uns passos de distância, vai se tornando cada vez mais leve. E quem ficou percebe que, na verdade, aquele alguém pode até ter ido, mas nunca deixará de existir, e isso é uma forma de vida. A mesma vida que segue por tantas outros caminhos que vão se cruzando, descruzando, e nunca voltam. E percebe-se que só se tem a agradecer a oportunidade de ter vivenciado essa pessoa que se vai... Mas sempre estará presente, de alguma forma. E então vem a paz...
Se alguém se vai... Coloque a salvo o seu coração, porque não há como evitar a dor. Mas você tem a escolha de como passar por ela. Todos nós um dia passamos pela dor de perder alguém que se vai. E todos podemos sobreviver... Você vai sobreviver. Acredite! Você é o único que não pode se deixar, então tenha certeza de estar verdadeiramente em você, aqui e agora."

 

Andréa Palermo

 



Obs: Esse texto, surgiu em 2003, quando minha mãe de criação faleceu e o que eu pensava ser uma "família" praticamente se partiu e eu me vi grávida e muito, muito solitária e deprimida (minha filha nasceu em janeiro de 2004)... Naquela época, eu não tinha pretensões de escritora e a internet era um luxo que eu me permitia para amenizar a solidão e participava de um blog de nome escritores anônimos, que não encontro mais...Eu assinava "Angel" quando era chique ter um nick assim...rss


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