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Amor como forma de transcendência e busca da completude

Atualizado dia 2/18/2010 5:23:50 PM em Espiritualidade
por Mirtes Carneiro


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Existem determinados momentos na vida em que se experimenta uma abertura da consciência a uma outra consciência, esta outra denominada por Rudolf Otto de numinoso. Este numinoso se refere a uma experiência onde não se sente os próprios limites; experiência de um ser finito que se abre para algo infinito. Esta experiência do numinoso pode ser vivida no encontro de um ser humano com outro ser humano, onde se esquece de si mesmo e ocorre a entrega. É uma experiência de eternidade no tempo onde ocorre a abertura do ser finito ao infinito; experiência transcendente, experiência de profundidade, experiência do numinoso que existe em todo ser humano. Segundo Jean-Yves Leloup, a experiência do numinoso pode ocorrer em um encontro amoroso, no encontro de um espírito com outro espírito, de um coração com outro coração. Esta experiência é a revelação de nossa natureza verdadeira.

O numinoso é um estado de alma. A experiência do numinoso é o ponto de convergência de todas as religiões, que é a busca do sagrado, do transcendente, de Deus. Rudolf Otto descreve no numinoso "o sentimento de ser criatura", que o ser humano pode experimentar quando compreende sua pequenês diante da majestade do divino.
Precisamos do outro, do sexo oposto para nos tornarmos inteiros. Nossa inteireza só poderá ser encontrada em um relacionamento. Segundo Jung, apesar de o homem ser ao mesmo tempo macho e fêmea (anima e animus), ele não consegue se sentir completo sem o outro. Procurar pela metade que falta é procurar-se a si mesmo, sua inteireza, é completar-se através do outro, para se fazer o Self.

Para Leonardo Boff a experiência mais fundamental do ser humano, é a do enamoramento. O sair de si e ir em direção ao outro, que produz uma experiência de êxtase. O amor como experiência de transcendência, o encontro entre duas pessoas que se amam. Existe uma fusão gratificante, onde é possível experimentar a unicidade e a completude.

Platão, em O Banquete narra um encontro entre amigos que decidem, através de seus discursos, tecer elogios ao amor e assim o fazem. Destacamos aqui a fala de Aristófanes que ilustra a busca de completude:

Com efeito, nossa natureza outrora não era a mesma que a de agora, mas diferente. Em primeiro lugar, três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um nome, desaparecida a coisa; andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino, enquanto agora nada mais é que um nome posto em desonra. Depois, inteiriça era a forma de cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo tanto das mãos, dois rostos sobre um pescoço torneado, semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos um ao outro era uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderiam supor. E quanto ao seu andar, era também ereto como agora, em qualquer das duas direções que quisesse; mas quando se lançavam a uma rápida corrida, como os que cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma roda, do mesmo modo, apoiando-se nos seus oito membros de então, rapidamente eles se locomoviam em círculo. Eis por que eram três os gêneros, e tal a sua constituição, por que o masculino de início era descendente do sol, o feminino da terra, e o que tinha de ambos era da lua, pois também a lua tem de ambos; e eram assim circulares, tanto eles próprios como a sua locomoção, por terem semelhantes genitores. Eram, por conseguinte de uma força e de um vigor terríveis, e uma grande presunção eles tinham; mas voltaram-se contra os deuses, e o que diz Homero de Efialtes e de Otes é a eles que se refere, a tentativa de fazer uma escalada ao céu, para investir contra os deuses. Zeus, então, e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não podiam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigantes, fazer desaparecer-lhes a raça - pois as honras e os templos que lhes vinham dos homens desapareceriam - nem permitir-lhes que continuassem na impiedade. Depois de laboriosa reflexão, diz Zeus: "Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. Agora, com efeito, continuou, eu os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, pelo fato de se terem tomado mais numerosos; e andarão eretos, sobre duas pernas. Se ainda pensarem em arrogância e não quiserem acomodar-se, de novo, disse ele, eu os cortarei em dois, e assim sobre uma só perna eles andarão, saltitando".
Logo que o disse, pôs-se a contar os homens em dois, como os que cortam as sorvas para a conserva, ou como os que cortam ovos com cabelo; a cada um que cortava mandava Apolo voltar-lhe o rosto e a banda do pescoço para o lado do corte, a fim de que, contemplando a própria mutilação, fosse mais moderado o homem, e quanto ao mais ele também mandava curar. Apolo torcia-lhes o rosto, e repuxando a pele de todos os lados para o que agora se chama o ventre, como as bolsas que se entrouxam, ele fazia uma só abertura e ligava-a firmemente no meio do ventre, que é o que chamam umbigo. As outras pregas, numerosas, ele se pôs a polir, e a articular os peitos, com um instrumento semelhante ao dos sapateiros quando estão polindo na forma as pregas dos sapatos; umas poucas ele deixou, as que estão à volta do próprio ventre e do umbigo, para lembrança da antiga condição. Por conseguinte, desde que a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral, por nada quererem fazer longe um do outro. E sempre que morria uma das metades e a outra ficava, a que ficava procurava outra e com ela se enlaçava, quer se encontrasse com a metade do todo que era mulher - o que agora chamamos mulher - quer com a de um homem; e assim iam-se destruindo. Tomado de compaixão, Zeus consegue outro expediente, e lhes muda o sexo para frente - pois até então eles o tinham para fora, e geravam e reproduziam não um no outro, mas na terra, como as cigarras; pondo assim o sexo na frente deles fez com que através dele se processasse a geração um no outro, o macho na fêmea, pelo seguinte, para que no enlace, se fosse um homem a encontrar uma mulher, que ao mesmo tempo gerassem e se fosse constituindo a raça, mas se fosse um homem com um homem, que pelo menos houvesse saciedade em seu convívio e pudessem repousar, voltar ao trabalho e ocupar-se do resto da vida. E, então, de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós, portanto é uma téssera complementar de um homem, porque cortado como os linguados, de um só em dois; e procura então cada um o seu próprio complemento. 
 

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Conteúdo desenvolvido por: Mirtes Carneiro   
Mirtes Carneiro CRP06/111130 Psicóloga e Psicanalista Atendimento on line Tel 11 9 8108-5021
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