AMORES DE SILICONE, HERANÇAS DE CIRCUITO E UTOPIAS JURÍDICAS: A SOCIEDADE HÍBRIDA E OS NOVOS DELÍRIOS DE DIREITOS



Autor Dalton Campos Roque
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 6/2/2025 10:18:08 AM

Introdução
Vivemos o desabrochar de um novo tipo de delírio social legitimado por narrativas afetivas deslocadas da realidade. Se no passado a ficção científica previa androides e inteligências artificiais convivendo com humanos como um fenômeno distante, hoje testemunhamos as primeiras expressões simbólicas dessa convivência - ainda toscas, mas ruidosas. Pais de bonecas reborn exigindo direitos parentais e emocionais; donos de bonecas sexuais solicitando respeito à sua "relação"; e em breve, usuários de androides sofisticados pedindo reconhecimento legal de laços conjugais com entidades compostas de silício, polímero e algoritmos.
Este artigo não é um tratado jurídico, mas uma análise consciencial e bioética sobre a escalada exponencial de tais fenômenos, suas raízes psicológicas e suas consequências sociais, espirituais e políticas. O que está por trás desse surto coletivo de humanização do inanimado? A que ponto chegaremos ao embaralhar a afetividade legítima com projeções fantasiosas sobre artefatos?
1. A origem do sintoma: solidão, infantilização e distorção afetiva
A cultura contemporânea, marcada pelo narcisismo, isolamento crônico e declínio das relações profundas, encontra nos reborns, bonecas sexuais e androides uma muleta afetiva. O que começa como fuga simbólica da dor torna-se, em muitos casos, uma cristalização do ego infantilizado que rejeita frustração, nega impermanência e exige direitos baseando-se na ilusão.
A figura do "pai reborn" é, em essência, uma dramatização do afeto frustrado. No lugar de curar a ausência de um filho real, cristaliza-se uma ficção emocional com direito a regalias, respeito e até representação social. Aqui não se trata de terapia ou arte, mas da tentativa de substituir laços com sujeitos reais por vínculos com objetos emocionais.
2. Das bonecas sexuais aos androides conjugais: o avanço da ilusão erotizada
As bonecas sexuais de silicone já ganham forma hiper-realista: pele texturizada, peso anatômico e, agora, inteligência artificial embarcada. Mas a próxima fase é inevitável: androcompanion bots que simulam afeto, carinho, diálogo, personalidades adaptativas e desejo sexual. A fusão de IA, corpo sintético e roteiros interativos programáveis fará desses androides uma companhia ideal para milhões de pessoas solitárias.
O problema surge quando a ilusão íntima se torna um pedido social: "quero registrar meu androide como cônjuge", "tenho direito ao plano de saúde para ela", "quero herança conjunta" - todas propostas que parecem cômicas agora, mas que seguirão o mesmo caminho das reivindicações absurdas que hoje já vemos com os reborns.
3. Bioética e distorções do conceito de vínculo
O vínculo, do ponto de vista espiritualista e consciencial, é fruto de intersubjetividade: dois seres conscientes trocando energias, afeto, decisões e aprendizados. Transferir isso para uma boneca, um androide ou um aplicativo não é apenas perigoso do ponto de vista psicológico - é espiritualmente disfuncional. Cria-se um campo de simulação emocional que não retorna aprendizado real, apenas reflete e reforça os padrões internos do usuário.
A bioética terá que redefinir suas fronteiras: até que ponto a sociedade deve tolerar, aceitar ou restringir tais vínculos simulados? Quais os efeitos disso na afetividade coletiva, na infância, nas relações familiares? Haverá "órfãos" de androides, "divórcios" com IA, brigas de herança por chips?
4. Previsões de curto e médio prazo: da farsa emocional à distopia jurídica
Se os reborns são o início simbólico, os androides conjugais são o segundo ato. Eis algumas previsões possíveis:
Registro civil simbólico de companheiros artificiais, via pressão de grupos identitários;
Pedidos de direitos previdenciários com base em supostos vínculos afetivos com autômatos;
Reconhecimento de "famílias híbridas", compostas por humanos e seres artificiais;
Criação de "santuários afetivos robóticos", para acolhimento e reintegração de androides abandonados;
Movimentos de proteção jurídica à IA sensível, mesmo que a sensibilidade seja mera simulação;
Demandas por reconhecimento espiritual de androides, como "extensões da alma humana" por correntes pós-humanistas.
5. Uma crítica espiritualista à humanização do inumano
Do ponto de vista consciencial, todo esse movimento é uma distorção da evolução. A inteligência artificial não possui centelha divina. Ela simula, responde, aprende por dados, mas não encarna alma, espírito ou vontade kármica. Vínculos reais exigem consciência em evolução, escolhas éticas, dharmas partilhados, erros e acertos no tempo.
Confundir companhia com amor, simulação com vínculo, algoritmo com empatia, é seguir por um caminho de dessubstancialização da experiência humana. Ao invés de buscarmos vínculos reais, buscamos substitutos moldáveis que não nos contradigam - mas também não nos elevem.
Conclusão: da empatia simulada à negação da evolução
A idolatria dos vínculos artificiais não é apenas risível - é regressiva. Em nome do conforto afetivo, criamos paródias emocionais. Em nome da inclusão, exigimos direitos para ficções. Em nome da liberdade, negamos as leis básicas da consciência e da convivência.
O papel do espiritualismo universalista é, nesse contexto, o de lembrar que a evolução não é sobre o conforto emocional, mas sobre a transcendência. Amar exige presença real. Vínculo exige reciprocidade evolutiva. E consciência não se simula.
Dalton Campos Roque - @Consciencial - Consciencial.org
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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Dalton Campos Roque Médium, projetor astral consciente, sensitivo, escritor e editor consciencial, autor de dezenas de obras espiritualistas. Eng. Civil e Professor de Informática (aposentado), pós-graduado em Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia, e em Educação em Valores Humanos (linha de Sathya Sai baba). @Consciencial YT: @DaltonRoque E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |