Como pode você, um ser divino, sentir-se carente?
Autor Alex Possato
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 06/12/2012 16:01:28
Ontem à noite, altas horas, enviei alguns torpedos para a namorada e... nada! Então liguei, o telefone tocou, tocou, tocou e... nada!Pronto, bastou esse fato tão corriqueiro para a mente e o emocional entrar em conflito: ah...! Não gosta mais de mim! Está chateada, acho que fiz alguma coisa! E dezenas de outras idéias, permeadas por um sentimento de rejeição,raiva e mal-estar...
Você já passou por isso? Bem, o que posso dizer é que estes pensamentos e estes sentimentos são absolutamente normais, tá? Quando praticamos a meditação, aprendemos a olhar para o que se passa na mente, para as emoções que sentimos no corpo, e deixá-las passar. Olhamos, falamos olá, e deixamos ir. Não levamos a sério nossos pensamentos e sentimentos, porque eles não passam de reflexo condicionado. A mente, como um bom computador, reage de acordo com o que foi programado. Fatos onde a minha mente interpreta que estou sendo rejeitado, trazem a tona muitas cenas e emoções vividas nesta vida, onde eu me senti rejeitado, e daí o mal-estar se instala.
Durante minha jornada de auto-conhecimento, entendi que aquilo que sinto, atraio. É verdade, muito mais aquilo que sinto, do que aquilo que penso. Mas o ser humano já vem com uma programação original, quem sabe advinda dos antepassados e, talvez, de vidas passadas. Não sei, não posso afirmar. Só posso afirmar que, efetivamente, quando nasci já não tinha meu pai presente, que se fora para os braços de outra mulher... E depois, com os constantes problemas de mamãe, também me vi privado, muitas vezes, do cuidado dela. Se atraio o que sinto, e um bebê ainda não tem a mente racional desenvolvida para pensar, significa que já vim com alguns padrões instalados...
A psicologia entende que estas separações, na tenra infância, causam marcas profundas na psique da criança. Já a terapia de constelação familiar sistêmica demonstra que alguns programas, que chamamos identificações, já estão instalados na pessoa, fazendo com que situações desconfortáveis se repitam em nossa vida, pois estamos o tempo todo relembrando algo ou alguém do passado familiar que foi excluído, esquecido, abandonado. A terapia de vida passada acredita que estes padrões são heranças de outras vidas,onde nossas atitudes geram consequências no aqui e agora. Quem sabe esta programação era tão forte que, carmicamente, fez com que eu tivesse que nascer num lar onde o pai e a mãe, de certa forma, estiveram ausentes?
A carência é real?
Se a mente, os pensamentos e as emoções são programas, podem ser mudados, certo? Perceba em si mesmo: quantos medos que você tinha já não existem mais? Quantas dores e mágoas desapareceram? Se isso ocorreu, é porque eles não tinham uma realidade concreta, não é mesmo?
Durante nossa vida, diversas dores são despertadas, isso é inevitável. Perdemos muitas coisas. A cada segundo, uma parte da nossa vida física está indo embora. Relações terminam. Bens materiais desaparecem. Pessoas que amamos, morrem. A saúde vai indo, gradualmente, em direção à morte do corpo físico. Conscientemente, não é possível termos segurança absoluta de nada. Só isso seria motivo para nos sentirmos totalmente carentes, 24 horas por dia! Mas não é isso que ocorre. Conforme trilhamos a senda do auto-conhecimento,entramos em contato com um poder superior interno que nos apóia o tempo todo.Nos protege, orienta, conduz, nos enche de paz e confiança. Chame este poder com o nome que desejar. Mas que ele existe, ah... existe! E só de esbarrar neste poder, todos os traumas emocionais se dissolvem como castelos de areia.As dores do passado se tornam algo absolutamente tão comum, mas tão comum, quedá vontade de rir de si mesmo: como eu fui bobo em acreditar que era carente e abandonado?
Lógico, entendo que durante um tempo, é realmente difícil engolir estas dores. Eu vivi isso muito bem. Após tudo o que vivi na infância,tive um bom casamento durante anos, que depois também se rompeu, dolorosamente.Eu ainda estava vibrando a dor da exclusão, e tinha que passar por este processo. Para aprender que não perdi nada. Somente um casamento se foi. Mágoas curadas, raiva depurada, o que sobrou? Sobrou a história. E o aprendizado. E ainda o respeito pela parceira, a responsabilidade pelos filhos. Um jovem emocionalmente ferido, aos poucos, se transforma num adulto maduro. E bem humorado!
Na realidade, este ser confiante sempre existiu. Isso é o que somos, em nossa essência, quando conseguimos perceber nossa programação interna, e conseguimos nos afastar dos nossos pensamentos e das nossas emoções.Somos seres perfeitos e divinos, essa é a única realidade. Pema Chödrön, monja budista tibetana, nos diz: "Já temos tudo que precisamos. Não há necessidade de auto-aprimoramento. O opressivo medo de ser mau e o desejo de ser bom, a identidade a que tão amorosamente nos apegamos, a raiva, a inveja e os vícios de todo tipo nunca atingem nossa riqueza fundamental. São como nuvens que temporariamente encobrem o sol. Mas, o tempo todo, nosso calor e brilho estão bem aqui. Isso é o que realmente somos. Estamos a um piscar de olhos do completo despertar".
É isso... Bem... tenho que dizer que, logo que comecei a desencanar das minhas neuras de estar sendo esquecido, abandonado pela namorada, meu celular tocou: "desculpe-me amor, tinha esquecido o celular no carro. Agora vi suas mensagens"....
Alex Possato é terapeuta familiar sistêmico. Clique aqui e acesse seus próximos trabalhos
Avaliação: 5 | Votos: 12
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
