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O Encontro das Águas, 2016

Atualizado dia 2/16/2016 10:37:39 PM em Espiritualidade
por Isabela Bisconcini


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Como alguém que trabalha em si e nos outros com processos de cura, transformação e crescimento, sempre me perguntei como é que isso se dá. Em que momento (e como) o sintoma, o sofrimento ou, em última instância, a energia negativa, converte-se em energia positiva? É preciso uma vida inteira de dedicação (ou muitas) para responder a essa pergunta.

Lama Gangchen Rinpoche criou o método de AutoCura NgalSo, em que Ngal é o lado da exaustão e degeneração e So o lado da regeneração e recuperação da energia vital (de corpo, palavra e mente). Ao pensar nisso, eu sempre imaginei um círculo (pela interdependência de causas e condições negativas) rodando num sentido (suponha, o sentido anti-horário) que precisa passar a girar (a interdependência de causas e condições positivas) no sentido contrário (horário) e me fiz a pergunta: como esse círculo vai parar de girar num sentido e passar a girar em outro? Em que momento algo pára de nos perturbar e passa a ser sentido como positivo? Ou, dito de outra forma: em alguns momentos nos sentimos péssimos e em outros nos sentimos em contato com a bênção, mas como criar esta ponte entre um estado positivo e um estado negativo, já que conhecemos as duas realidades, balançamos de um lado para o outro, mas não sabemos sair do lado negativo e ir para o positivo, ou integrá-los? Muitos ensinamentos e experiências de cura me ajudam a ir montando um quebra-cabeças de como a energia, em algum momento, converte-se. Esse é um longo tema, porém, dito de uma maneira bem simplificada, o que podemos perceber é que a cura, a dissolução da negatividade, está ligada a um ceder e a um alargamento.

Vivemos confinados na nossa visão da realidade, que é decorrente das distorções de nossa percepção limitada. Em algum ponto sabemos que a doença, o sintoma, é uma manifestação gerada por um padrão sutil de atitude, de comportamento em desequilíbrio (que pode ser até mesmo transgeracional), e que, por meio desta, um alargamento, ou um aprendizado e um crescimento também virá. Então, estamos indo do pequeno ao grande, do limitado para o maior. No livro Não Temas o Mal, de Eva Pierrakos e Donovan Thesenga, explica-se muito bem a dinâmica de funcionamento do nosso eu inferior e da corrente de negatividade em todos nós. Um livro, aliás, que é leitura obrigatória para quem está num caminho sincero de autotransformação.

Mas o fato é que nós, onde estamos, não conseguimos dirigir a transformação. Não temos poder e controle sobre isso. E o nosso ego sempre teima em ser o diretor da cena. Mas cura implica em amplificação, em perceber de uma perspectiva maior a própria situação onde, num dado momento, há uma redenção e uma interferência dessa instância Maior que emerge e, assim, dissolve o negativo, fazendo surgir uma liberação, uma compreensão em que temos um click, e nos percebemos parte de algo maior que nós. Dê você o nome que quiser. A Física chama isso de Vácuo Quântico, o Budismo chama isso de a nossa Verdadeira Natureza, as tradições ocidentais chamam de Deus, ou Eu Superior. Mas todos estão se referindo ao mesmo fenômeno, à mesma experiência. Cura tem a ver com rendição, reconhecimento da própria limitação, impotência em resolver uma situação (depois de ter feito todo o possível), que, então, passa ser resolvida dentro de uma esfera transcendente à qual não dominamos. Cura é diferente de remissão de sintoma, embora isso seja (só) o que queiramos. Nos processos de cura, há sempre um momento de rendição em que realmente sentimos a impotência de resolução e a questão é entregue a uma instância maior que atua (ainda que o cirurgião remova o tumor, ou, talvez, enquanto o cirurgião remove o tumor).

Ficou, então, para mim que cura implica em rendição, em entrega. Um momento de “não sei mais o que fazer” (depois de ter tentado tudo) e assim em se perceber incapaz de solucionar e entregar a questão para ser resolvida por aquela dimensão maior que nos abarca. Algo cede dentro de mim – minha onipotência – e eu percebo a total falta de controle que tenho sobre os fatos. Nesse exato momento, o ciclo se inverte e o giro encontra o sentido contrário.  É um processo bonito aquele de se entregar a uma dor, sentindo-a por completo. No fim da dor, há amor. Raramente chegamos a percorrer todo o caminho. Temos medo de ser tragados pela dor e não a sentindo, só a empurramos para debaixo do tapete. Mas há uma beleza enorme em percorrer o caminho, vivenciando por completo uma dor. De qualquer forma, a doença nos põe num lugar de honestidade e de indesejada impotência.

No Reveillon de 2001, estava numa viagem com Lama Gangchen de barco pela Amazônia. Num dado momento, vimos o encontro das águas entre os rios Tapajós e Amazonas (a imagem da foto acima). Então Rinpoche disse: “é o encontro da mente do discípulo com a mente do guru”. O pequeno e o grande se encontram.

No Reveillon de 2016, estava em Abadiânia onde atua o médium João de Deus. Participei todos os dias da corrente de meditadores que ancoram o seu trabalho. Esta é uma experiência única. Isso significa ficar durante o período dos trabalhos que ocorrem na Casa, em dois turnos, manhã e tarde, sentada, de olhos fechados, em meditação e prece. Na verdade, Abadiânia e tudo que acontece lá merece um artigo à parte (ou vários) para tentar descrever o que se vive. Mas eu diria que sem que ninguém lhe ensine, você aprende sobre tudo. Você, quando na corrente (e não só na corrente, na verdade, mas em toda a cidade), tem a sensação do contato com a Presença Divina de forma muito perceptível e clara e tem compreensões muito alargadas sobre a sua vida, e de forma geral sobre o Humano, a Vida e a Morte. Então, era dia primeiro de janeiro de manhã. Era a primeira corrente do ano e fui desde o início inundada por uma torrente de Graça. A energia era muito, muito alta, o que significa dizer que eu sentia muito mais a vibração de amor e a presença dos Seres Sagrados do que a dor e o sofrimento das pessoas que passavam na fila em busca de cura, realização e do atendimento das suas necessidades e pedidos (quando estamos na corrente sentimos tanto uma coisa quanto a outra). Um sentimento de gratidão ia crescendo dentro de mim por poder estar em meio àquele tanto de bênção e amor. Era tudo muito forte. Sentia ondas de comoção muito fortes e estava muito tocada pela sensação do Divino. Quieta, de olhos fechados, em meditação, as lágrimas rolavam pelo meu rosto. A sensação crescia dentro de mim. Ao meu lado, ouvia que outras pessoas também se emocionavam. De repente, uma pessoa da fila, ao passar na frente da entidade, cai num choro muito forte. De olhos fechados, tudo que descrevo é a minha percepção sutil do que, sistêmica e simbolicamente, estava acontecendo. Ouço a pessoa chorando alto e agradecendo muito à entidade e ao plano espiritual por existir uma força de tanto amor como aquela atuando, de fato, entre nós. Era gratidão pura. Naquele momento aquele homem era a expressão, o veículo, do campo de todos nós. Ele agindo, entregava a minha gratidão e a minha reverência ao Divino. Ele chorava lá na frente, diante da entidade, as minhas lágrimas ao Divino. A emoção era muito forte. Todo o ambiente estava inundado por essa atmosfera de Graça e Amor. A entidade falava a ele: “se entrega mais”, “se entrega mais a este sentimento”. E eu, naquele momento, em silêncio e de olhos fechados, realizei o sentido do pequeno se render ao grande, do ego se entregar ao Eu Superior, do nosso eu pequeno e limitado se render e se entregar ao Divino dentro e fora de nós. Revivi o momento com o Rinpoche, na Amazônia, 15 anos antes, quando ele vendo os rios disse que era a mente do discípulo e do mestre que se encontravam no abraço das águas, abraço de União. A experiência da entrega daquele homem foi um ápice e depois disso, sincronicamente, os trabalhos da manhã acabaram. Os trabalhos da tarde já começaram partindo dessa vibração.

Estamos vivendo um momento real de cura coletiva, momento em que as águas do medo do nosso eu se rendem diante das águas do Grande Amor Divino, que amorosa e compassivamente se manifesta. 2016 tem essa qualidade de manifestação. A nossa percepção limitada e a percepção amorosa, mais elevada e mais ampla  -a percepção Divina- se encontram. É uma grande, grande bênção quando o pequeno e o grande se encontram e trabalham juntos. Milagres e milagres jorram. Isso está acontecendo.

Texto revisado
 

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Conteúdo desenvolvido por: Isabela Bisconcini   
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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