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O ESTIGMA DO PECADO

Atualizado dia 7/16/2010 5:42:41 PM em Espiritualidade
por Oliveira Fidelis Filho


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O juízo de valor agregado ao pecado, a forma com a qual somos levados a entendê-lo, o constrangimento, transtornos e patologias psíquicas que o termo provoca, bem como as propostas de enfrentamento oferecidas pela religião, não emprestam elementos construtivos, libertadores, expansivos à vida humana, quer em nível pessoal ou coletivo.

O conceito de pecado só beneficia os que dele se utilizam como instrumento de tortura, intimidação e dominação, gerando um doentio "prazer" naqueles, em cujas mãos, carregam pedras em lugar de compaixão. Constitui um verdadeiro atraso na evolução humana. O efeito e estrago são claramente percebidos no sentimento e desequilíbrio emocional e físico.  

Crescemos - no mundo "civilizado" e cristianizado - sob o pesado fardo do pecado. Quando a luz da consciência emerge das profundezas da inconsciência, já o faz sob a maldição da perda da inocência. Acordamos com a noção perniciosa do pecado profundamente instalada. Tal deformação, entretanto, não é congênita e sim inoculada pelos pais, religião, escola e sociedade.

Estou inclinado a crer que a religião primeiro cria a infecção (pecado) em seus laboratórios (concílios) para depois forçar a comercialização do remédio (salvação) em suas farmácias (templos); cria o vírus gerando a necessidade do antivírus, promove o pânico para justificar o "toque de recolher". E como recolhem!

Reprimir, gerar e aprofundar a culpa, alimentar o medo, acenar com a promessa de um céu ou inferno eterno, constitui a essência do cativeiro e dominação religiosa. Cristo percebeu bem o cansaço que esta sobrecarga psíquica gerava.

Não admira que, massacrados por estas crenças negativas e opressoras, sejamos dominados pelo ódio e a inveja que alimentam o desejo homicida - a Síndrome de Caim. A necessidade de construir algum valor, movidos por egoísmo ganancioso e avarento, o que acaba sempre em confusão, gera a Síndrome da Torre de Babel. Tudo para que sejamos alcançados por imensas ondas de destruição, oriundas de pensamentos, sentimentos e atos degenerados - a Síndrome de Dilúvio. Com realidades como estas a humanidade convive, sabe Deus desde quando.

Uma coisa é certa: em relação ao pecado, quanto mais o atacam mais por ele são mordidos, pois tudo que é reprimido ganha força. Uma olhada, ainda que superficial, nas lideranças religiosas: pastores, padres, apóstolos, bispos e pretensos messias, revela-nos um mar de lama de fazer inveja ao mais sombrio demônio.

É hora, com enorme atraso, de tratar o pecado de uma forma diferente, pois até agora a tática não funcionou, piorou. Ao invés de odiá-lo, estigmatizá-lo, anatematizá-lo, melhor seria compreendê-lo. Tal abordagem propiciaria, no mínimo, desfazer preconceitos, geralmente frutos da ignorância.

Se partirmos da pressuposição que a história do Paraíso, de Adão e Eva, bem como os onze primeiros capítulos de Gênesis, são mitológicos, verdadeiros arquétipos a simbolizar a realidade humana individual e coletiva, em todos os tempos e espaços, daríamos um gigantesco passo rumo ao término de muitas incongruências. Isso destruiria as bases de muitos dogmas cristãos, mas e daí?

Contradizendo as verdades absolutas da religião, já concluímos que a terra é redonda e não chata ou quadrada, que gira em torno do sol e não o contrário, e pasme: com exceção a Giordano Bruno, sobrevivemos! Que o evolucionismo tem muito mais fundamento que o criacionismo ou a geração espontânea e, com exceção aos primatas, não ficamos mais ofendidos.

Mesmos os Criacionistas mais fundamentalistas - tipo George W. Bush, que tantos "benefícios" proporcionaram ao cristianismo e à humanidade - não obstante crerem que Deus seja criacionista, já admitem que foi Ele quem criou a evolução. 

É necessário um novo olhar para os primeiros capítulos de Gênesis, não como um fato ou fardo histórico descritivo e sim como um relato dramático, estruturado como resposta às dores do corpo e da alma, e aos inquietantes questionamentos que assombravam o autor de Genesis e, sejamos sinceros, ainda nos assombram.

Moisés não foi o primeiro nem o único a elaborar uma resposta para o mistério da criação e da vida. Galileu, Newton, Albert Einstein, Darwin, Freud entre tantos outros também o fizeram. O desafio continua!

Somos todos seres em evolução, em processo de adaptação e melhoramento constante. Provas disso podem ser percebidas para onde quer que se olhe. Portanto, tudo caminha sob a força gravitacional da Perfeição. Caminhamos na direção da Luz, do Amor, do insondável Mistério que, de um modo reducionista, chamamos de Deus.

Assim sendo, o "pecado" - errar o alvo - faz parte do processo. É da natureza de quem está em construção, em processo de aperfeiçoamento, de quem ainda não sabe direito o que faz.

Não é uma herança maldita, é natural ao processo evolutivo. Não é em função da natureza pecaminosa e sim da natureza evolutiva. Também não está circunscrito à moral e ética religiosa, pelo contrário, em todas as áreas do conhecimento humano e do agir há algo a ser melhorado, há alvos para acertar.

Pouco resolve sentir-se indigno, miserável, depressivo, ou mesmo arrependido diante de Deus; mais produtivo é perceber que dá para melhorar, que é possível ir e fazer melhor, e que é compensador, emocionante, aventurar-se na direção da Perfeição. Isso, sem culpa e sem culpar, sem medo de Deus ou de seus pretensos representantes.

Por mais que alguns se sintam ainda ofendidos, é mais produtivo, sensato, entender Adão e Eva como símbolos, metáforas, arquétipos do drama humano - de cada ser humano - e assumir, individualmente e como raça, a responsabilidade de caminhar rumo à expansão da alma e da consciência. Retornar ao Jardim do Éden pela porta do coração.  

Em lugar de sentir-se um pecador, que tal sentir-se filho da Luz, obra do gracioso Amor de Deus?

Em lugar do medo da morte, que tal aprender a morrer para tudo que amordaça a Vida?

Em lugar de almejar um céu após a morte, que tal trazer o céu para dentro da vida, aqui e agora?

Dedique-se ao silêncio, ore e medite; faça do próprio corpo o mais sagrado de todos os templos, produza pensamentos e sentimentos limpos. Purifique o coração e aprenda a ouvir a voz de Deus através da própria alma. 

Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Oliveira Fidelis Filho   
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
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