O Frio que Ensina, a Flor que Encanta - Com São João Batista no Coração
Autor Paulo Roberto Savaris
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 6/25/2025 9:31:20 AM
Há um tempo em que tudo desacelera — e não por preguiça, mas por sabedoria.
Hoje, o dia amanheceu envolto em silêncio e neblina. O céu, cinzento e calmo, não impõe tristeza, mas convida à escuta. Meus olhos percorrem o sítio como quem busca um sinal — e talvez encontre, como João no deserto, uma voz suave que prepara o caminho do coração.
As folhas secas sussurram histórias de outrora, e a cerejeira do Japão, desafiando o frio, floresce com delicadeza quase profética. Beija-flores dançam entre os galhos como quem anuncia que, mesmo no frio, a vida resiste em beleza. O ninho da pomba revela o cuidado silencioso da criação, e os citros, em amarelo vibrante, rompem a monotonia do inverno como a esperança rompendo o deserto.
Há um silêncio vivo nas coisas.
Os cães seguem o sol com preguiça sagrada. Os coelhos se aquecem como que em oração. As garças sobrevoam o campo em harmonia, escolhendo o galho certo, como quem sabe esperar o tempo de Deus. E eu apenas contemplo — feito quem escuta o anúncio de algo maior.
A natureza não reclama.
Aceita. Aguarda. Prepara-se.
Como João, que viveu no deserto, a terra se recolhe para depois florescer. Os grilos silenciam, as formigas descansam, e as abelhas sonham. Há fé no repouso, há missão em cada pausa.
O frio não é castigo — é chamado. Queima, poda, interrompe — mas também renova. Permite que a vida respire, que os ciclos se organizem. Ensina-nos a desacelerar, a olhar para dentro.
Em meio a cobertores, sopas e conversas mais lentas, reencontramos o calor que vem de dentro — e talvez a voz que clama em nosso próprio deserto interior. Como João Batista, que preparava corações, o frio nos convida à escuta, ao arrependimento gentil, à renovação sem alarde.
É preciso aprender a cuidar do solo — interno e externo. Regar com paciência. Aguardar com fé. Amar com ternura.
Cada estação é palavra de Deus soprada ao vento. Cada florada, uma promessa. E a cerejeira, que floresce no frio, nos lembra que a beleza pode ser resistência, e que a delicadeza é uma força que não grita.
Vivamos, pois, como João: preparando, anunciando, acolhendo. E entendendo que o frio que vem — seja da alma ou do tempo — é só mais uma forma de Deus nos ensinar a esperar a primavera com o coração em paz.
Um Sonhador, Caminhando com Francisco: Paulo Roberto Savaris é autor dos eBooks: Caminho de Francisco, Entre o Céu e o Silêncio e o Segredo da Simplicidade Franciscana na Amazon Série Descubra Caminhando com Francisco e do Blog Caminhando com Francisco, dedicado à educação, à escrita inspirada na espiritualidade e nos valores de simplicidade e amor ao próximo.
Texto Revisado
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