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O SILÊNCIO, NINHO DA ALMA

Atualizado dia 10/31/2010 4:32:39 PM em Espiritualidade
por Oliveira Fidelis Filho


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"No princípio, criou Deus os Céus e a Terra".

Inicia-se assim o primeiro livro da Bíblia; entretanto, o que havia antes que a Terra existisse, ou o que fazia Deus antes da criação do mundo, é uma pergunta que continua a mexer com o nosso imaginário. Não obstante as muitas teorias nas mais variadas áreas do conhecimento humano, gosto de pensar que antes de tudo reinava o Grande Silêncio.

O livro de Gênesis, o primeiro de cinco livros cuja autoria é atribuída a Moisés, abre a coletânea dos livros sagrados cristãos com uma alusão poética ao mito da criação do mundo e, mais especificamente, da criação da Terra. Lemos, entre outras afirmações, que "a Terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: haja luz e houve luz."

Por entender que os textos supracitados não possuem a necessidade de ser histórico-descritivos, deleito-me com o privilegio de navegar livremente em suas simbologias, analogias transbordantes de Sabedoria e princípios universais oriundos do Logos Eterno.  

Mesmo nos dias atuais, com todas as datações de rochas e fósseis que cobrem bilhões de anos e incontáveis eras, persiste em muitos a crença na literalidade de tal relato da criação no livro de Gênesis. Mantêm-se assim as incongruências oriundas de tal paradigma interpretativo, perpetuando as desnecessárias contradições e polarizações entre a ciência e a fé cristã fundamentalista. O que é mais prejudicial e constrangedor, é que tal atitude é assumida em nome da defesa da fé - obviamente da fé daqueles que assim crêem - prestando um desserviço à expansão da consciência e da espiritualidade Crística, com o agravante de protagonizar situações que, se não fossem trágicas, chegariam a ser cômicas.

O famoso arcebispo irlandês James Usher  é um bom exemplo, quando em 1650 calculou, por conta própria,  todas as eras dos patriarcas e descobriu que a criação do mundo aconteceu às 15h30 do dia 23 de outubro de 4004 a.C; previu, ainda, o fim do mundo no ano de 1996, no mesmo mês, dia e horário ao da criação.

O que me move neste artigo, entretanto, é a expressão "a Terra, porém, estava sem forma e vazia", hoje formatada e deformada, além de perigosamente cheia. Felizmente, para sua própria limpeza, equilíbrio e beleza, a Terra de tempos em tempos se dá o direito de tirar os excessos, assumir um novo visual, ressurgir e desfilar na passarela de uma Nova Era.

Para um olhar menos atento, a expressão "sem forma e vazia" pode não ser atrativa, gerar imagens e sentimentos negativos, limitantes, confusos, caóticos, desalentadores. Entretanto, o fato de em sua origem a Terra, à semelhança de um recém-nascido, encontrar-se sem "formatação", significa que estava a espera de ser moldada e, como declara o texto sagrado, moldada pelo Divino Formatador, pelo Espírito Santo que sobre ela pairava.

Por "vazia" fica implícita a disponibilidade de infinitas possibilidades, do espaço aberto semelhante ao útero vazio a espera da concepção, da tela em branco a espera da luz e das cores do Artista. É no vazio que a criação tem seu berço acolhedor, sua potencialidade polinizada e libertada. No que tange a gênesis da Terra, o Artista é o Logos Eterno a quem o Evangelista João poeticamente se refere dizendo: "Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez". Tal dimensão, "sem forma e vazia", emerge do silêncio anterior às luzes e às vozes, que então propiciavam as condições ideais para a Criação do Supremo Artista, cuja matéria prima é o Amor e a Luz e... "Haja Luz!"

Somos frutos da Terra! Por mais que nos sintamos distintos e distantes, nós os humanos, somos feitos de húmus. Cada pessoa humana é um pedaço de húmus contendo o sopro divino. Também por isso as analogias entre o homem e a Terra são possíveis e recomendáveis: os princípios aplicáveis a Terra são também aplicáveis ao homem. Somos uma Unidade ainda que, infelizmente, cada vez mais perigosamente separados.

Assim como a Terra, que de tempos em tempos silencia e esvazia para se renovar, necessitamos também do silêncio que nos permite renascer e ser refeitos, a partir de novas e divinas bases. Para tal realinhamento com a natureza, interna e externa, capaz de nos devolver o equilíbrio e a harmonia, possibilitando-nos ser moldados pelas mãos do Amor e da Luz divina, necessário se faz como disse Jesus, "entrar no quarto e fechar a porta".

Fechar a porta tem a ver com a decisão de interromper o contínuo, crescente e intimidante caudal de luzes e de vozes provenientes de fontes puramente humanas. Significa parar de andar sob a luz e a voz de um ego desconectado e fragmentado, para deixar-se conduzir pela essência divina que nos habita; deixar de ouvir a mente e passar a ouvir o coração. Fugir dos tentáculos beligerantes do orgulho, para nos abrigar no refugio aconchegante e harmonioso da humildade. "Entrar no quarto e fechar a porta" diz respeito ao desafio da individuação, de mergulharmos em nós mesmos ao encontro da alma, da essência divina que nos habita, e uma vez neste recinto sagrado, refestelar a existência na comunhão com o Pai nosso, sentindo o coração aquecido e energizado pelo Sol da Justiça.

Entrar secretamente no quarto e fechar a porta é, também, optar pelo silêncio. Silêncio que acalma e purifica as águas inquietas e turvas da existência, possibilitando o renascimento do divino em nós. Possibilita ao Espírito Santo projetar a imagem de Deus nestas águas límpidas e tranqüilas, dando-nos o privilegio de refletir Sua iluminada, amorosa e pacificadora imagem. Creio ser esta a orientação que Jesus deu ao Rabi Nicodemos, desafiando-o a um novo nascimento, a "renascer da água e do Espírito".

Após o silêncio, a Terra encontrava-se "sem forma e vazia", totalmente disponível para ser modelada e fecundada pelo Espírito Santo. Se desejarmos ser remodelados e preenchidos de Vida, permanece a necessidade do silêncio. Do silêncio que nos faz esvaziados, que retorna o vaso a condição de barro e que nos permite renascer nas mãos do Eterno Oleiro; que nos permite ser banhados pela luz de Deus.

Infelizmente, até mesmo dos locais considerados sagrados o silêncio foi expulso sendo substituído pelo barulho; não surpreende a infantilidade e superficialidade espiritual tão presentes e a conseqüente proliferação de enfermidades físicas e psíquicas. Esquecemos que o silêncio é o ninho da alma.
Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Oliveira Fidelis Filho   
Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor.
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