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Os Sonhos não realizados

Atualizado dia 12/31/2012 8:23:09 AM em Espiritualidade
por Verônica Dutenkefer


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Quantas vezes a vida me fez recordar uma cena específica de minha infância. A cena é esta: tenho mais ou menos 6 anos de idade, estou deitada no sofá da sala aos prantos, gritando que quero a Susi (uma boneca que na época, correspondia ao que é a Barbie hoje). Minha mãe estava lavando o quintal da frente. Pacientemente ela tentava me explicar os motivos pelos quais não dava para comprar a boneca. E eu, cada vez mais desesperada, chorava e insistia que queria a Susi.
Minha madrinha havia morrido sem cumprir a promessa que me fez de me dar a boneca. E eu sou a quarta e última filha de uma família que pertenceu à classe economicamente não favorecida. Onde ser a caçula não significou ter mais privilégios. Meu irmão mais velho havia morrido aos 3 anos e meio, restando, então, meu irmão 9 anos mais velho e minha irmã, 3 anos e meio mais velha que eu. Eu era a criança que vestia, na grande maioria das vezes, roupas que meus irmãos mais velhos usaram e brincava com os brinquedos que também haviam pertencido a eles. Mas isso nunca me incomodou. O que me incomodou muito, foi não ter tido a Susi.

Bom, voltando à cena: eu gritava e chorava cada vez mais forte, insistindo em ter a Susi. E então, minha mãe, que já havia esgotado todas as possibilidades de me explicar os motivos pelos quais não havia possibilidade de atender minha súplica, parou de lavar o quintal, entrou na sala, pediu que eu a olhasse bem nos olhos e me perguntou: "Você quer ter essa boneca?" Eu fiz que sim e ela, então, declarou: "Você quer, mas você não vai ter". Virou as costas e foi terminar seu serviço.
Recordo que fiquei meio paralisada por um tempo, aí eu simplesmente parei de chorar, levantei do sofá e fui brincar...
Essa cena me veio várias vezes em que a Vida me disse não.

Sim, você sempre irá se sentir enraivecida, triste, frustrada e com medo, mas isso também passará.
Junto a todas experiências frustrantes que tive ao longo da vida, o tempo também me mostrou que aquilo que eu quis intensamente, e não consegui, não era bom para mim.
Ou porque aquilo que eu quis se revelou falso, traiçoeiro e me faria mal, ou porque a Vida tinha um presente muito mais valioso para me dar.

Você pode questionar se esse ensinamento não me fez desistir dos meus sonhos. E eu lhe direi que não. Pertenço, sem dúvida alguma, ao grupo de pessoas que acredita que temos de ir atrás dos nossos sonhos. Só que agora acrescento: lute pelos seus sonhos. Não desista. Mas conheça seu sonho profundamente, perceba se esse seu sonho irá realmente lhe fazer bem e confie na vida. Há também sonhos que dependem das escolhas de outras pessoas e não só de você. Descubra se esse sonho o está impedindo de viver.
A Vida tem a sabedoria sobre aquilo que você quer. E se ela está lhe negando, ou adiando, acredite, isso é o melhor pra você. Esse é um dos mistérios doloridos da Vida. Talvez um dia você tenha as respostas do porque não conseguiu, mas talvez não.
Tenho certeza de que minha mãezinha tinha o coração dilacerado quando teve de dizer aquilo para mim. Mas com sua postura e firmeza ela me mostrou uma das lições mais úteis na minha vida.
Quando alguém sempre a salva de todas as frustrações, está lhe tirando a possibilidade de conhecer sua própria força e poder.

Quase vinte anos depois, aprendendo um dos procedimentos terapêuticos em lidar e cuidar de nossa criança interior, eu comprei a Susi. Ela está comigo até hoje, mas essa boneca não é um brinquedo que, com certeza, eu iria brincar quando menina. Ela é um símbolo que conforta minha criança interior revelando que eu sobrevivi daquela dor e frustração, e me tornei uma mulher corajosa, batalhadora e feliz. Um ser humano que descobriu, junto a todas as conquistas e frustrações, seu real valor, poder e força.

Então, quando a Vida lhe trouxer um "NÃO", vá até o espelho mais próximo, olhe bem no fundo de seus próprios olhos, recupere a lucidez se recordando de quantos anos você tem e vá até aquele sofá, onde sua criança interior está chorando e fazendo birra, insistindo em ter aquilo que não conseguiu, e com braços gentis, mas com firmeza, mande ela se levantar.
Acorde e vá viver a vida que você está deixando de viver, ao insistir num sonho que ainda não pôde se realizar. Mesmo sem saber como, se erga e vá em frente.
Ao se debater e fazer birra, sua criança pode estar a levando a um buraco cada vez mais fundo e escuro.
Talvez, você nunca alcance esse desejo específico pelo que tanto sofre, mas se assim for, é porque não lhe pertencia.
Já ouvi muitas vezes as pessoas dizerem: "Ninguém perde aquilo que não tem". E isso é uma das verdades incômodas que você terá de ensinar à sua criança interior. Assim como terá de ensinar sua criança a descobrir seu próprio valor, sua fé, sua força e seu poder.

"Acorda vem ver a lua. Que dorme na noite escura. Que surge tão bela e branca. Derramando doçura!" (Dora Vasconcelos & Heitor Villa-Lobos)
Verônica Dutenkefer

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