Vista-se para Deus
Atualizado dia 9/10/2009 3:38:39 PM em Espiritualidadepor Wilson Francisco
E onde estaria essa alma? Lá bem longe, envolvida em seus anseios de mulher mal amada, nos afazeres de casa, mal feitos, porque o tempo é muito curto, e o coração está todo dominado pelo desamor de um marido desatento.
Não, nem todos os homens são assim...
Na verdade, os homens também têm seus momentos de inexistir, de se afastar e procurar a si mesmos, apenas não confessam isso, são constrangidos.
Pois bem, sua alma estava por algum lugar, procurando algo que ela não sabia.
Sentou-se e ficou olhando os quadros, observando-me. Ela é da igreja Batista, nem tanto convicta de sua fé, mas, temente a Deus e realizando suas obrigações religiosas, uma vez por semana.
Contou-me de sua vida, um marido muito lindo, uma filha graciosa e que se destaca na escola e ela, trabalhando quase de dia e de noite, para dar conta das despesas da casa e da família.
O marido, dominado por medos e desacertos da infância, é dependente de pai, um vício que às vezes consome mais que outras drogas (não, não estou condenando os pais... sei que eles estão sempre prontos a ajudar e fazer o melhor por seus filhos).
Os pais, em geral, são bons, generosos, no entanto, às vezes uma visão distorcida sobre o filho, ou da vida, pode transformar esse ser encantador num carrasco ou num ser dominador que inviabiliza a existência do filho, quando este não consegue se emancipar emocionalmente, mantendo-se atrelado ao domínio ou costumes dessa criatura, o pai.
Portanto, a responsabilidade de ter no pai um ser que pode causar males na vida, é do filho, somos nós filhos que temos de nos desligar e, amando intensamente nossos pais, conseguirmos realizar nossa própria vida.
Conversamos muito e sugeri a ela um novo caminho, uma nova visão da vida. Antes de qualquer coisa, desincorporar-se dessa mulher "faz tudo", sempre pronta para servir a todos, sem servir a si mesma.
Busquei sua alma, trouxe-a para junto de si, para seu corpo, acoplando ambos, para que pudesse sentir a vida mais intensamente.
Sentiu-se bem, ficou confortável com sua alma se expressando. Seu olhar ganhou mais brilho, acertei a postura de seu corpo, soltando o tórax e descarregando de seus ombros, e costas, o peso de responsabilidades que não eram dela. E falei para ela da sua beleza, do quanto poderia fazer por si mesma, a começar pela roupa, vestir-se para passear em vez de se vestir para trabalhar, como sacrifício; trabalhar para ganhar dinheiro, ter prazer, ao contrário de antes que trabalhava para pagar dívidas.
Dias depois do atendimento, ligou cheia de alegria e viço nas palavras e no sentir, dizendo, ter tido uma experiência maravilhosa. Estava vindo para casa, já de noite, um homem mal aparentado, com expressão de dor e miséria me acompanhou; fiquei temerosa, apressei o passo. E quando cheguei num ponto da calçada, onde havia muita luminosidade, ganhei coragem para dar um grito e chamar alguém, para me proteger. O homem se adiantou e cortando a minha ânsia de gritar, falou-me, olhando nos olhos: menina, como você é linda...
Relaxei, Wilson, fiquei ali parada, o homem continuou seu passo, como se nada tivesse acontecido. Recordei suas palavras, sorri e agradeço a Deus, por aquelas palavras, ditas por um mendigo, mas eu sei, foi Deus quem falou comigo.
No próximo atendimento, ela chegou diferente, muito bem vestida, o olhar ainda mais expressivo e um andar solto e quase saltitante, de menina.
- Wilson, me vesti pra você, confessou constrangida.
Corrigi: não, minha amiga, você se vestiu pra você, para Deus.
Texto revisado por: Cris
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