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DE MAGOS A BRUJOS

Atualizado dia 7/26/2010 4:25:27 PM em Oráculos
por Mani Álvarez


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“O espírito é a cambalhota do pensamento para o miraculoso;
é o ato de nos estendermos além de nossas fronteiras e tocarmos o inconcebível”.
Castanheda, O Poder do Silêncio


Yo no creo en brujos, pero que los hay los hay. Assim brincamos com algo que tem seu fundo de verdade.
Há pouco mais de um século (1894), um grande mistério foi levantado graças à tradução, por Wilhelm Kroll, dos “Oráculos Caldeus” atribuídos a um mago chamado Juliano . Consta de versos fragmentados obscuros e incoerentes, que sugerem uma comunicação em transe com “guias espirituais”, como modernamente se conhece. O estilo dos versos está bem de acordo com a prática dos oráculos oficiais existentes em Delfos, onde era necessário que alguém interpretasse aquilo que a sacerdotisa em transe murmurava. O mago Juliano teria tido essa função em relação aos Oráculos Caldeus.
Juliano era considerado um mago poderoso, que viveu no primeiro século da era cristã. Era consultado por governantes, invocava o espírito de deuses e seres mitológicos e, segundo algumas lendas cristãs, competia com Apolônio de Tiana e Apuleio, dois outros magos famosos, na exibição das artes mágicas.
Os fragmentos dos Oráculos foram estudados e comparados com a magia greco-egípcia de alguns papiros encontrados, dando origem à concepção de uma doutrina chamada Teurgia. A Teurgia consistia em complexas práticas de magia baseada numa relação com hierarquias de seres espirituais (Anjos, Arcanjos, Mestres, Divindades, etc), com o objetivo de obter concessões especiais, solução para problemas ou cura para doenças.
Até aqui, nada há que a distinga das outras práticas místico-religiosas que conhecemos, no entanto, existe uma diferença crucial em seu modus operandi. Enquanto as primeiras falavam sobre os deuses, a teurgia “agia sobre eles”. Se a unio mystica dos neoplatônicos era atingida por meio de uma disciplina severa da mente, a Teurgia, ao contrário, prescrevia rituais para o culto do fogo e do sol e para a evocação mágica dos deuses, através do uso de ervas e cristais, e possuía um grande conhecimento de astrologia.
Essa diferença de método era bastante criticada pelos filósofos gregos. Diziam que era uma loucura tentar manipular os deuses por meio de magia. Mas, os adeptos dessa escola argumentavam que a união mística encontrava-se não na razão, mas no ritual. O neoplatônico Jâmblico assim se referiu, defendendo essa prática:

“A união teúrgica só é atingida pela eficácia de certos atos inefáveis, realizados de modo apropriado, atos além de toda a nossa compreensão, pela potência de símbolos impronunciáveis que só são compreendidos pelos deuses (...) Mesmo sem esforço intelectual de nossa parte, os emblemas cumprem, por virtude própria, sua função” .

Ainda assim, a magia exercia um imenso fascínio sobre as mentes de alguns daqueles filósofos teóricos desesperançados, que discutiram, por tantos séculos, suas questões num nível elevado da razão e da lógica, e viam a cultura helênica declinar a olhos vistos. Inútil acusar os teurgistas de “fazedores de milagres”, “pessoas enlouquecidas”, que elaboravam “estudos pervertidos sobre certos poderes oriundos da matéria” .

Porfírio (séc.III), um discípulo de Plotino, relata uma sessão de magia à qual teria assistido num templo egípcio, “em terreno recentemente descoberto pela cheia do Nilo e ainda não pisado”, que o teria impressionado extraordinariamente. Um outro filósofo, chamado Proclo (séc.V), profundo conhecedor das artes mágicas, define a Teurgia como “[...] um poder mais elevado do que toda a sabedoria humana, englobando as bênçãos da adivinhação, os poderes purificadores da iniciação e, em uma palavra, todas as operações da possessão divina”.

Embora ele defendesse uma função mais elevada da prática teúrgica, que seria uma arte mágica aplicada com propósitos religiosos, havia também uma magia vulgar, que se utilizava de fórmulas e procedimentos de caráter profano, como técnicas de adivinhação e revelações sobre passado e futuro.
Nos comentários que faz aos Oráculos Caldeus, Proclo se refere ao uso de animais, ervas, pedras e perfumes como de uso mágico. Cada um dos deuses possui seu representante nos mundos animal, vegetal e mineral, sendo sua natureza de essência divina. Era conhecida apenas dos iniciados nessa arte a pronúncia correta das fórmulas e dos nomes que estabeleciam uma correspondência mágica com os deuses. Por isso, além do segredo, as fórmulas perdiam sua eficácia quando traduzidas para o grego ou outra língua qualquer.

Dessa vasta e complexa doutrina na qual confluem, por um lado, o conhecimento adquirido de outras realidades através de estados alterados da consciência e, por outro lado, o uso que desses conhecimentos foi feito, surgiram práticas que persistem até nossos dias e que foram, inclusive, incorporadas pela cultura e pelo cristianismo. Uma delas se refere ao culto às imagens. No Egito antigo as fórmulas sagradas eram escondidas dentro de estátuas, que adquiriam assim a qualidade de objeto divino. Com o tempo essa prática evoluiu para a arte de aprisionar deuses ou demônios no interior de imagens consagradas para este fim, com a ajuda de ervas, gemas e aromas. A partir do século I de nossa era, essa prática se expandiu para fora do Egito, passando do uso pagão das imagens para os amuletos e talismãs medievais. Afirmavam poder provar que “os ídolos são divinos e estão cheios de deuses”, desde que feitos sob determinadas condições astrológicas e consagrados devidamente; daí a crença tão comum do poder das imagens em prescrever o futuro, proteger dos males e das doenças, prevenir acidentes.

Enquanto os magos procuravam induzir a presença divina no interior de receptáculos inanimados, um outro ramo da Teurgia buscava apreender a presença de seres espirituais no interior do próprio corpo humano. Proclo afirmava a capacidade da alma deixar e retornar ao corpo, e que havia uma técnica capaz de induzir este fenômeno em condições especiais. Esta crença fazia parte, naturalmente, dos Oráculos Caldeus, mas também dos papiros egípcios. Alguns estudiosos reconhecem que este ramo da Teurgia é particularmente parecido com o Espiritismo moderno. O deus (ou o espírito) era visto entrando no corpo do médium, não como um ato espontâneo de graça, mas como resposta a um apelo.

As sessões assistidas por Proclo no começo de nossa era, no Egito, se iniciavam com uma purificação do médium com água e fogo; depois vestia uma cinta especial, apropriada para a invocação da divindade, a "lintea indumenta" dos magos, segundo Porfírio, ou o "purum pallium" de Apuleio. Essa indumentária constava de uma grinalda magicamente consagrada, uma longa capa e uma adaga especial para uso religioso. Segundo os narradores, a pessoa do médium podia se metamorfosear, tornar-se alongada, dilatada ou até mesmo levitar. Muitas vezes, as manifestações tomavam a forma de luminosas aparições, mas, na falta dessas, afirma Jâmblico, não havia certeza sobre a natureza do deus (ou do espírito) presente.

E assim, de magos a "brujos", o conhecimento sobre os poderes de nossa mente foram se expandindo, evoluindo para formas mais ritualísticas e próximas das necessidades humanas.

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