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A Vulnerabilidade do Estar

Atualizado dia 7/31/2017 9:59:51 PM em Psicologia
por João Carvalho Neto


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Todas as aflições que sentimos, na diversidade de fatores que marcam as dificuldades desses tempos de transição, parecem-me estar treinando o psiquismo espiritual do ser humano para abrir mão de seus apegos e aprender a se entregar ao fluxo da vida que é regido por um determinismo cósmico para além do nosso controle. Isso, na verdade, significa a diminuição do enrijecimento do ego para o alcance de uma maior flexibilidade que, em decorrência disso, diminuirá os sofrimentos oriundos da forma prepotente com que agimos sobre a vida.
As perdas ou o medo delas, as incertezas quanto ao futuro, a falta de estabilidade financeira e até da garantia da própria vida são elementos que exercitam nossa capacidade de entrega e superação, de adaptação e resiliência, de humildade e aceitação, características de individualidades mais maduras e conscientes, pois este será, cada vez mais, nosso estado mental futuro. É curioso que as religiões – que tiveram seu papel na elaboração dessa história evolutiva – acabaram por negar implicitamente a realidade que defendem, que é a da existência da vida espiritual. Digo isso porque quando as religiões, de qualquer natureza, fizeram a dicotomia da vida entre espírito e matéria, entre vida espiritual e vida material, acabaram por colocar a perspectiva espiritual sob uma ótima mais distante, apesar de mais conhecida.
Mais distante porque tem sido vista como uma etapa futura a ser vivenciada e, portanto, não pertencente ao presente. Ou seja: “existe uma vida que eu vivo agora e outra que me aguarda no porvir; então, o que eu tenho em verdade é o que se me apresente à percepção dos sentidos”.
Dentro desse olhar, a felicidade também não se apresenta pertencente ao momento atual, mas a uma esperança futura, criando uma predisposição de apatia diante dos desafios de superação e de negação à possibilidade de ser feliz, muitas vezes naquilo que chamamos de culpa, um sentimento que gera a tendência de autoflagelação, tão comum em pessoas dominadas pelas crenças religiosas.

Quero esclarecer neste momento que não estou a condenar as religiões, mas tentando entender as influências que se sobrepuseram à nossa liberdade de pensar e agir para uma autonomia mais definitiva. Acredito mesmo que, no futuro próximo, as religiões vão perder sua função e uma relação mais holística e intuitiva vai caracterizar a relação do ser humano com o poder criador, o que já se evidencia nas estatísticas de opção religiosa, onde o índice dos que não têm uma religião, mas são espiritualistas, cresce cada vez mais. Então, quando as pessoas tomam a felicidade espiritual futura como uma meta pós vida, mas distante, fazem com que a força das tribulações atuais ganhe pujança, sem uma real sensação do que essas tribulações têm a ver com sua história evolutiva e seu desenvolvimento espiritual.
Lêem e escutam falar sobre isso, mas não se percebem porque não se sentem espíritos, se vêem como corpos necessitados exclusivamente do contexto material. Até porque essas mesmas religiões, apesar de tentarem, não garantem imunidade aos sofrimentos da vida em um planeta como o nosso. Faz-se urgentemente necessário que avancemos para uma consciência mais espiritual da vida, em detrimento do ambiente em que estamos manifestos.
O Cosmos parece ser um grande organismo vivo, onde cada peça tem seu papel, por mais irrelevante que pareça, transitando ao sabor do destino entre as múltiplas dimensões do ser e do estar. Cada um de nós constrói algo para esse organismo ao mesmo tempo em que constrói-se a si mesmo, como indivíduo desse mesmo organismo.
Temos uma certa permissão de agir segundo a autonomia do nosso amadurecimento, mas estamos também sujeitos ao determinismo de leis que regem nosso caminho à revelia da nossa vontade. E isso não deveria trazer dor ou sofrimento. Só o traz porque não temos uma consciência plena e não nos sentimos dentro desse processo, apesar de muitas vezes conhecê-lo e, por isso, lutamos contra ele.
A vida foi criada para a felicidade; o gozo não é pecado mas atributo natural do viver. Mas o verdadeiro gozo está em se entregar ao fluxo do universo, sem apegos ou medos, deixando-se levar pelas correntes da vida, onde e em que nível estivermos, que um dia “vão dar em nada... nada do que eu esperava encontrar”. (Gilberto Gil, música “Se eu quiser falar com Deus”)

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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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