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Autossabotagem

Atualizado dia 6/13/2023 9:34:37 PM em Psicologia
por Raphael Mello


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Esse é um tema muito comum em consultório. Mas não só em consultório. Em rodas de conversas com amigos, familiares, a gente sempre ouve essa história de autossabotagem.
Mas sempre que isso aparece eu me pergunto: o que será que se sabota? O que será sabotagem para esse indivíduo?

Obviamente que para cada um o jogo da sabotagem tem um significado, tem um lugar ligado a sua própria subjetividade, suas questões e consequentemente com a fantasia e a forma de gozar.

Em psicanálise, falamos muito sobre desejo. E desejo nada mais é -em tradução geral do alemão- “aspiração” - um movimento em direção à marca psíquica; ele não se mostra claramente, é cifrado e exige interpretação e está ligado às nossas pulsões. E se pensarmos que a autossabotagem está ligada a sabotar o próprio desejo? Ah, uma condição neurótica traduzida na frase: “quero, mas não posso” - quero namorar (mas algo interno me diz que não posso/ consigo); quero ser feliz (mas algo dentro de mim, me diz que não posso ser feliz). Seria um mecanismo de defesa? Um resistência a alcançar esse desejo?

Pode ser. E a partir dessas resistências podemos tecer uma linha de raciocínio: desejar, dá muito trabalho - por conta dos imperativos que vivemos - seja feliz com você mesmo; ame-se acima de tudo; seja feliz a qualquer custo - viver torna-se um ideal impossível de se alcançar e consequentemente passamos a nos sentir mais culpados por não atingir esses ideais vendidos por tantos gurus e coaches que acabamos desistindo do nosso desejo ou ficando até preguiçosos. A vida se torna um trabalho, com um ideal inatingível.

Sempre digo que para desejarmos é necessário que haja falta. Lembra daquele jogo “resta um”? Se todos os buracos forem preenchidos não haverá espaço para movimentar as peças. Ou seja, se preenchermos todos os buracos de nossas vidas, não será possível desejar - afinal, não é possível desejar aquilo que já temos. O que eu quero dizer com isso? Que para lidarmos com nossos desejos precisamos lidar com nossas faltas, nossos vazios, com apostas na vida - sem o ideal de garantia.

Desejar  e sustentar o desejo significa abandonarmos certas posições infantilizadas, que não fica arranjando culpados para tudo, mas que se responsabiliza pela parte que te cabe.

Isso significa inclusive, criar um “eu” anti-civilizatório - ou seja, que entende que é impossível agradar a todos, que é impossível ser amado por todos.

Eis o motivo de sabotarmos tanto nosso desejo, pois abandonar essa posição narcísica de aceitação do outro a todo custo, implica em se haver com faltas, vazios, angustias que evitamos lidar a todo o momento e por isso acabamos aceitando viver modelos impostos e pré estabelecidos.

Desejar e sustentar o desejo pode também ser libertador (liberta-dor) - pois quando agimos a altura de nosso desejo saímos de um processo de alienação de nós mesmos, nos soltamos de amarras que nos mantém nas demandas (dos outros) e nos ajuda a lidar melhor com essa falta que tanto evitamos sentir.

Não é uma trajetória fácil se haver com o próprio desejo, mas isso não significa que você morrerá. Pelo contrário, talvez seja a possibilidade que faltava para viver.

E lembre-se, tamponar todas a faltas por onde a vida sai é também tamponar os buracos por onde a vida entra. Sendo assim, faço um convite: vamos deixar espacinhos dentro de nós para os nossos vazios. Ao invés de tentar responder todas as perguntas, vamos namorar algumas interrogações. Vamos tentar não solucionar todos os problemas, mas parte deles. Vamos parar de preencher todo os espaços com metas, objetivos e planos e abrir espaço para poder desejar.

 E lembre-se: Quando sabotamos nosso desejo, estamos consciente ou inconscientemente morrendo em vida.
Texto Revisado

 

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Conteúdo desenvolvido por: Raphael Mello   
Olá, sou Raphael Mello, Sócio do Espaço Cântaros, Psicólogo, Psicanalista e Colunista de sites para autoconhecimento. Escrevo artigos voltados para temas como amor e relacionamentos. Atuo em clínica desde 2015 e trabalho a partir do inconsciente e suas singularidades.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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