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Consciência e amor transformam o medo

Atualizado dia 7/12/2013 11:42:24 AM em Psicologia
por Alex Possato


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O medo de amar é o medo de ser
livre para o que der e vier
livre para sempre estar
onde o justo estiver
Beto Guedes


Fui criado pelos meus avós paternos, com quem convivi, ininterruptamente, durante 8 anos. Enquanto meu avô tentava convencer minha avó que eu era um menino, e como tal, deveria jogar bola na rua, empinar pipa, rodar pião, brigar… minha avó, que mandava na casa, insistia que eu deveria limpar a casa, não me sujar, não ficar com as pernas abertas, não colocar os cotovelos na mesa, dormir cedo, não ver programas na TV… Ela sempre ganhava, e meu avô fazia aquela cara de “eu tentei”… Mas não muito, afinal, ele sempre obedecia minha avó.

O mais interessante é que anos a fio, tudo o que minha avó precisava do mundo externo era feito por ele. Até as visitas ela programava… e nunca ia. Lá ia o meu avô, eu ou às vezes o meu irmão – nunca íamos os dois juntos, porque “dava briga”…

Somente quando adulto, e bem adulto, percebi que a minha avó tinha medo do mundo. Medo das pessoas. Pânico de sair de casa. Na verdade, ela vivia escondida e amargurada. E tudo o que ela colocava como regras, na realidade, somente eram formas que ela achava, inconscientemente, de “defender-me” dos perigos que ela imaginava. Se eu fosse certinho e bonzinho, como ela rigorosamente exigia, o mundo não iria me ferir.

Mas o que ela não sabia, e a maioria das pessoas não percebem, é que os seres pequenos adotam as emoções mais profundas de quem está no papel de liderança. Canso de ver animais de estimação que possuem os medos, as manias, as folgas dos donos… As crianças são a mesma coisa: copiam, sem querer e nem ter consciência, tudo dos pais… ou pessoas que as criaram. Assim, por não saberem e não quererem ver seus medos e traumas, os adultos automaticamente transmitem aos filhos os problemas que eram exclusivamente deles.

Hoje, convidei minha mãe para uma excursão, uma caminhada em grupo. E ela disse: ahhhh… eu tenho problema com as pessoas… E percebi que, mesmo não tendo sido criado por ela, na realidade, a minha mãe também tinha a mesma característica da minha avó paterna: medo das pessoas.

A origem sistêmica do medo

A constelação familiar sistêmica mostra que situações de exclusão no passado familiar podem provocar traumas para alguns descendentes. Por exemplo: um imigrante que deixou, ainda criança, sua terra de origem, sendo separados dos pais, pode ter ficado com muito medo… depois, acabou “esquecendo” este medo, soterrando na mente inconsciente a emoção dolorosa de ter perdido os pais, talvez irmãos, a terra de origem, a língua, a cultura, o primeiro amor, os cheiros, gostos… Ele finge estar tudo bem. Mas esta emoção não é esquecida.

Um descendente irá nascer com uma inexplicável melancolia… com uma ligação com a terra de origem dos antepassados sem explicação. E talvez com muito medo de perder os entes queridos. Com medo do novo. Bem, este é somente um exemplo de como poderia surgir um medo sem haver traumas visíveis na vida de hoje.

É claro que minha avó estava identificada a algo do passado dela. E eu acabei também sendo influenciado e “carregando” este peso. Assim como carreguei o “peso” da minha mãe. Fazemos isso, inconscientemente, como se quiséssemos ajudá-los a carregar suas dores. E também para que, de alguma forma, fôssemos reconhecidos em nossos esforços.

A mente infantil é bem assim: ela quer ser vista: olhe pra mim! Me elogie! Me reconheça! Porém, quando estamos identificados com os pesos, com a dor, e com o sofrimento, não temos a menor condição de reconhecer o outro. Simplesmente, não enxergamos ninguém. Vovó não me via, plenamente. Tentava me proteger de algo que não existia. Estava preocupada com o “perigo” imaginário. E em algum momento, eu acreditei que existia esta ameaça.

Consciência e amor transformam o medo

Fato é: se não tem um perigo eminente ameaçando a sua vida, não há razões lógicas para você ter medo. Logo, se você tem medo, é um registro no seu sistema interno, que está dizendo o tempo todo: perigo, perigo, perigo! É um vírus no seu sistema, não é uma realidade, já que nada o ameaça. É algo do seu passado, seja da sua infância, mas como vemos na constelação familiar, é também do seu sistema. Algo que ocorreu com seus antepassados e não foi reconhecido.

Você não precisa saber o que aconteceu no passado. Nem na sua infância. Vovó estava enganada. Mamãe estava enganada. Eu estava enganado. Basicamente, deve somente entender o que falei acima: não tem lógica este medo. Nada o ameaça. E deve reconhecer que cabe somente a você “fazer as pazes” com esta energia, para deixá-la ir em paz. Deve perceber os benefícios que o medo lhe trouxe até hoje: protegeu-lhe de enfrentar situações de risco. Atraiu pessoas, companheiros, que o protegeram. Aproximou você de trabalhos “seguros”, sem grandes desafios. Perceba em você o quanto o medo lhe protege! E agora perceba o quanto ele lhe impede de ser mais, de fazer mais, de amar mais, de ganhar mais, de ter liberdade!

Está na hora de se despedir dele. Olhe-o nos olhos. Perceba inteiramente o seu medo, como uma mãe amorosa percebe um filho. Olhe cada detalhe do seu “corpo”, sinta a energia que percorre cada parte de si. Perceba as sensações mentais, as ideias. Deixe elas virem, e não se apegue. Lembre-se: nada disso é real. É só o seu sistema “contaminado” por uma ilusão do passado. Continue estável, com a energia da grande mãe amorosa que existe dentro de si. Respire, expire. Deixe todas as sensações passarem por você, e não se apegue. Se vier emoções, lágrimas, tristeza, dor, raiva, qualquer coisa, deixe vir. E deixe ir… Você agora não necessita mais desse medo. Mas despede-se com carinho deste “companheiro” porque ele foi importante para a sua vida, para a vida dos seus pais, dos seus antepassados. Ele faz parte de você, e deve ser honrado. E deixado.

Em algum momento, treinando este procedimento, você perceberá que se sente leve. Isso pode ser bem rápido, ou menos. Depende do quanto você está identificado com o “medo”. Perceberá que a energia intensa do “medo” se transformou, transmutou-se. Entenderá que todas as suas emoções fazem parte. São energias. E a energia pode ser usada para você conquistar, amar, ganhar, divertir-se, ter prazer, auxiliar, compartilhar… Em algum momento, entenderá que tudo o que viveu é somente uma escola para prepará-lo para servir, verdadeiramente, a si e ao próximo. O medo, enfim, apontava somente para… o medo de amar.

Alex Possato - constelações sistêmicas

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Conteúdo desenvolvido por: Alex Possato   
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica
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