Desvendando o Impacto Invisível dos Sentimentos nas Decisões Financeiras




Autor Valter Cichini Junior
Assunto PsicologiaAtualizado em 7/29/2025 2:27:09 PM
Você já parou para pensar por que, às vezes, fazemos compras que extrapolam o orçamento, mesmo sabendo das consequências? Ou por que sentimos uma angústia inexplicável ao lidar com contas e investimentos? Muitas vezes, acreditamos que nossas decisões financeiras são puramente racionais, baseadas em lógica e planejamento. Mas será que é só isso mesmo?
A verdade é que, por baixo da superfície das planilhas e dos cálculos, existe um mundo de emoções e sentimentos que silenciosamente guiam nossos passos no universo do dinheiro. A psicanálise nos ensina que muito do que fazemos, inclusive na nossa vida financeira, é influenciado por forças que nem sempre percebemos conscientemente.
Este texto é um convite para olharmos juntos, de forma simples e sem jargões complicados, para essa dimensão invisível. Não é preciso ser um especialista para começar a entender como nossos sentimentos, muitas vezes vindos lá da nossa história de vida, moldam a forma como lidamos com o dinheiro hoje.
Pense no inconsciente como a parte submersa de um iceberg. É imenso, poderoso e, na maior parte do tempo, invisível aos nossos olhos. Lá residem memórias, desejos, medos e padrões emocionais que foram se formando ao longo da nossa vida, especialmente na infância. São essas forças ocultas que, frequentemente, assumem o volante quando tomamos decisões, inclusive as financeiras.
Nossa relação com o dinheiro não começa quando recebemos o primeiro salário. Ela começa muito antes, nas primeiras experiências de troca, de receber e dar, de segurança e de falta. As emoções vividas nessas fases iniciais – alegria, medo, segurança, ansiedade, culpa – vão criando um roteiro interno que seguimos, muitas vezes sem perceber, ao longo da vida adulta.
Como era a relação com o dinheiro na sua casa enquanto você crescia? Havia abundância ou escassez? O dinheiro era motivo de alegria, de brigas, de silêncio? As mensagens que recebemos, diretas ou indiretas, sobre o valor do dinheiro, sobre merecimento, sobre segurança, deixam marcas profundas.
Imagine alguém que cresceu em um ambiente de muita instabilidade financeira. Essa pessoa pode se tornar um adulto extremamente poupador, com medo de gastar cada centavo, vivendo numa constante sensação de que tudo pode faltar a qualquer momento. Ou, pelo contrário, pode desenvolver uma compulsão por gastar, numa tentativa inconsciente de preencher um vazio ou de buscar a segurança que nunca teve.
E aquela pessoa que, na infância, recebia presentes caros como substitutos para a falta de atenção ou afeto dos pais? Ela pode aprender a associar o ato de comprar ou de ter bens materiais com amor e validação, buscando no consumo uma forma de se sentir valorizada ou amada.
Ou ainda, quem presenciou o dinheiro sendo usado como forma de controle ou poder dentro da família? Pode desenvolver uma relação de ansiedade, rebeldia ou até mesmo de autossabotagem financeira, como uma forma de lutar contra esses padrões antigos.
Percebe como as raízes são profundas? Não se trata de encontrar culpados, mas de compreender as origens dos nossos padrões atuais.
Esses ecos do passado se manifestam de diversas formas no nosso dia a dia financeiro. Reconhece alguma delas?
Compras por impulso: Aquele alívio momentâneo ao comprar algo novo, muitas vezes para lidar com sentimentos de tristeza, ansiedade, tédio ou vazio. É como um curativo rápido para uma ferida emocional mais profunda.
Medo da escassez: A dificuldade em gastar dinheiro, mesmo quando se tem o suficiente. A pessoa pode acumular recursos, mas não consegue usufruí-los, vivendo sempre com medo do futuro e da falta.
Dinheiro como status: A necessidade de usar bens materiais ou demonstrações financeiras para se sentir aceito, admirado ou superior. A autoestima fica atrelada ao que se tem, e não ao que se é.
Dificuldade em falar sobre dinheiro: O assunto se torna um tabu, carregado de vergonha, culpa ou medo de conflitos. Isso pode impedir conversas importantes com o parceiro, a família ou até a busca por ajuda profissional.
Autossabotagem financeira: Comportamentos como endividamento crônico, investimentos arriscados sem planejamento ou a incapacidade de guardar dinheiro, mesmo quando há condições. Pode ser uma forma inconsciente de se punir ou de repetir padrões familiares.
E você, como se sente em relação ao dinheiro? Que emoções vêm à tona quando você pensa nas suas finanças, nas suas compras, nos seus planos para o futuro? Que histórias a sua relação com o dinheiro conta sobre você?
O primeiro passo para transformar essa relação é justamente esse: olhar para ela com curiosidade e sem julgamento. Reconhecer os padrões, as emoções que surgem, as situações que disparam certos comportamentos.
Não se trata de eliminar as emoções – elas fazem parte de quem somos! –, mas de trazê-las para a consciência. Quando entendemos por que sentimos o que sentimos e por que agimos como agimos com nosso dinheiro, ganhamos a possibilidade de fazer escolhas diferentes, mais alinhadas com nossos verdadeiros desejos e necessidades.
Às vezes, essa exploração pode ser desafiadora, e buscar ajuda profissional, como a de um terapeuta ou psicanalista, pode ser um caminho valioso para desatar esses nós emocionais e construir uma relação mais saudável e consciente com o dinheiro e com a vida.
Nossas decisões financeiras são muito mais do que números e lógica. Elas são um espelho das nossas emoções, da nossa história, dos nossos medos e desejos mais profundos. Desvendar o impacto invisível dos sentimentos nessa área da vida é um convite poderoso ao autoconhecimento e à transformação.
Ao olharmos com mais atenção e carinho para a forma como lidamos com o dinheiro, abrimos a porta para uma vida financeira mais equilibrada e, principalmente, para uma conexão mais autêntica com nós mesmos.
Paz e Luz.
Texto Revisado
Autor Valter Cichini Junior Atendimento em Psicanálise E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |





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