Dificuldade para escrever
Atualizado dia 10/3/2014 2:54:47 PM em Psicologiapor Renata Kindle
Legal! Sentei aqui para escrever e tudo o que eu consigo é rir da minha dificuldade para escrever. Isso não acontece com muita frequência, porém, agora está evidente, é de lascar. Então, decidi não forçar o pensamento e, como decidi desde o início que não me sentaria aqui para ficar inventando inverdades... nada mais justo que falar dessa minha pontual dificuldade para escrever. Penso que ela decorra não do “branco”, mas da diversidade de assuntos e casos que me chegam à cabeça agora ao mesmo tempo.
O papel ao meu lado tem rabiscos de todo jeito. Tem frases soltas e pensamentos completíssimos. Mas quando olho pra essa folha, meus olhos correm para o lado oposto. Acho que não quero escrever nada muito sério e fico aqui me convencendo de que terminar este livro seja tarefa prioritária...
As palavras chegam desconexas, vou colocando-as na tela do computador como aparecem, sem censura, sem completar uma frase sequer. Sabe o que é uma frase? Segundo os gramáticos é um “enunciado de sentido completo”. Incrível, ensino isso aos meus alunos quase todos os dias, mas as minhas pseudofrases estão cada vez com menos sentido...
Jogar as palavras aqui como elas surgem é uma brincadeira até legal. Cada palavra remete a um momento específico, a uma situação, a uma estória, um caso, um fato. Sejam eles meus ou não. Não sei se quero falar sobre todos, alguns não seriam compreendidos, outros são incompletos até pra mim e outros, ainda, pertencem a outras pessoas. Mas alguns eu posso contar.
Eu não pertenço a nenhuma escola literária, creio que nem ao menos saiba distingui-las. O tudo que sei é juntar as letras e formar palavras que por sua vez se juntam formando frases, isso mesmo, aqueles enunciados de sentido completo, mas hoje, sem sentido algum.
Não começo a escrever a partir de um tema, ele surge e eu o codifico em letras. Algumas se juntam com facilidade, outras são mais arredias. Engraçado, as letras se parecem com as pessoas. Umas se grudam às outras, parece atração de ímã e ferro, mas outras fogem, escapam. Umas ajudam às outras, como o “u” ajuda o “q” a formar um fonema. As pessoas são assim também, eu acho.
Eu gosto de escrever desde que aprendi, gostava do simples ato de ver os riscos saindo da ponta do lápis, gostava de formar uva, chuva, nuvens... viajava no que fazia; acho que viajo ainda, mas agora o Word desempenha o papel do lápis.
Gosto de ver meus pensamentos (ou a falta deles) tomando forma no papel. Gosto que alguém me compreenda quando me lê, ou que não compreenda nada, mas que saiba, de cara, que fui eu quem escreveu. Gosto de inventar palavras. Gosto de errar palavras. Gosto de colorir os sentimentos. Gosto quando as palavras formam uma poesia, um conto, um coisa nenhuma que não diz nada. Gosto de fazer rir com o que escrevo. Gosto de cutucar as pessoas, instigá-las a pensar um pouco mais. Gosto de achar que sei alguma coisa e, assim, sentindo-me quase tão importante como Drummond, Sabino ou os Veríssimos, vou ensaiando esse meu ato de escrever.
Talvez deixe alguma coisa de importante para a humanidade, talvez rasgue tudo na manhã seguinte achando tudo ridículo, quem sabe? Eu não. O tudo o que sei é que agora quero escrever, então escrevo. Se alguém quiser ler, se alguém compreender, se alguém gostar, se alguém detestar... isso é o que menos me importa agora!
Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 2
Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |
