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Entre homem e mulher: Amizade ou Amor?

Atualizado dia 7/8/2014 9:15:29 AM em Psicologia
por Antony Valentim


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Esse artigo envolve a resposta de duas perguntas enviadas pelo mesmo internauta, que foram respondidas sequencialmente.

Pergunta 1: "É possível existir amizade entre homem e mulher?"

Sim, logicamente que sim, embora tenha sido sempre vista com certa desconfiança por muitas pessoas. Para alguns, esse tipo de amizade é utopia. Quando iniciamos um relacionamento amistoso com alguém do sexo oposto, os nossos pais, amigos ou familiares já começam a dizer que “isso vai terminar em namoro... noivado... casamento” ou, se já temos compromissos afetivos com alguém, não falta quem associe aquela amizade com sexualidade. Mas é possível haver amizade entre um homem e uma mulher. Eles podem se encontrar, sair, conversar, partilhar a vida, fazer confidências... e serem apenas amigos!

A amizade heterossexual nos complementa. É o que nos testemunha o sacerdote espanhol Atilano Alaiz, no seu belíssimo livro “O Valor da Amizade”:

“Não podemos nos esquecer de algo elementar: o homem e a mulher são seres que se completam, não somente a nível físico, sexual, mas a nível psicológico e, portanto, todo encontro autêntico é enriquecedor e favorece o equilíbrio interior. Pouco a pouco vão amadurecendo, naqueles que cultivam a amizade com pessoas do sexo oposto, certas dimensões da personalidade que, caso contrário, ficariam atrofiadas”.

De fato, a amizade entre homem e mulher é tão importante que não se trata simplesmente de um gosto ou uma opção, mas de uma necessidade. Necessitamos estabelecer relações de amizade com a pessoa do outro sexo. Quando ignoramos isso, tornamo-nos seres humanos incompletos, pela metade: no homem, faltará a presença da sensibilidade feminina; na mulher, faltará a presença da proteção masculina. Essa amizade é um relacionamento de descobrimento e de crescimento para ambos.

Anselm Grün nos confirma isso no seu livro "Eu lhe Desejo um Amigo":

“A amizade entre homem e mulher tem sempre algo de inspirador e vivificante”.

A amizade com pessoas do sexo oposto nos eleva. Não é difícil perceber isso. É bastante notar o quanto esse relacionamento influencia aqueles que fazem essa experiência. É incrível como a presença de certas pessoas transforma a nossa vida, porque independente de serem homens ou mulheres, são espíritos eternos que conosco poderão ter vivido centenas de experiências no pretérito, e uma atração incoercível nos coloca de novo frente a frente, para nos apoiarmos mutuamente. É o mistério do amor manifesto na amizade.

O sacerdote jesuíta Teilhard de Chardin, renomado cientista e pesquisador francês, dá-nos um valioso testemunho disso, quando nos fala da presença de três mulheres na sua vida, com as quais se correspondeu por meio de diversas cartas:

“Desde o momento em que comecei a acordar para mim mesmo e realmente expressar a mim mesmo, nada mais se desenvolveu dentro de mim que não fosse sob o olhar e a influência de uma mulher”.

A amizade com essas mulheres o fez estudar com uma sensibilidade maior os problemas do fenômeno humano.

Sem desconfiança, como faz a maioria das pessoas, mas sem ingenuidade também, é preciso reconhecer um certo perigo que há nas amizades heterossexuais. Isso existe porque se trata de um relacionamento entre pessoas de carne e osso e as energias emitidas naturalmente se atraem (sob o aspecto físico mesmo). Mas sabemos também que existem pessoas maduras, tanto afetivamente quanto sexualmente, e que, para além de suas diferenças temporais de gênero, admiram-se e vivem com toda simplicidade e responsabilidade essa amizade – sem em momento algum deixar o erotismo se apossar do relacionamento.

Em outro belíssimo livro seu – O Amigo, um Tesouro –, Atilano Alaiz nos oferece uma reflexão muito adequada sobre isso. Ele escreve:
“O relacionamento amistoso com a pessoa de outro sexo educa a afetividade, ensina a conviver com naturalidade com o outro sexo”.
Adultos melhores serão formados quando educados desde a infância a se permitirem ter amigos do sexo oposto, e a desenvolver nessas experiências, o respeito e a responsabilidade.

Devemos admitir, com toda certeza, que sempre existiram pessoas que viveram de maneira sublime esse tipo de amizade. Não somente os santos, como São Francisco de Assis e Santa Clara, São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila, mas também pessoas solteiras e casadas.

Inúmeros jovens que se relacionam com todo carinho e respeito – na simplicidade de quem não espera recompensas. Muitos livros nos relatam exemplos de mulheres casadas que, com toda fidelidade aos seus maridos, viveram uma rica e profunda amizade com homens de bem. É o caso de Raïssa, esposa do filósofo francês Jacques Maritain, e de Christine, esposa de Van der Meer. Essas mulheres foram amigas do convertido ao catolicismo Léon Bloy, um homem de caráter e mestre espiritual delas. Em momento algum esse relacionamento, prejudicou ou sufocou o casamento dessas mulheres virtuosas, nem tampouco seus maridos sentiram ciúmes (como fazem muitos de nós homens ainda fracos e necessitados de ajuda). A amizade real entre homem e mulher, respeita a vida e a vocação do outro.

Ao contrário de muitos, Jacques Maritain, reconheceu que a falta de amizades femininas na vida de um homem pode ser um “grave dano para o progresso e aperfeiçoamento da vida moral”.

Os casados, especialmente, que vivem essa amizade sabem o quanto ela é importante – principalmente quando a pessoa é amiga do casal.

Finalmente, a escritora portuguesa Ana Paula Bastos escreveu um singelo livrinho intitulado Mensagem de Amizade, que traz um parágrafo muito significativo sobre a amizade entre homens e mulheres. Entre outras coisas, ela diz que a amizade “entre um homem maduro e uma mulher madura, no auge de suas faculdades intelectuais, afetivas, espirituais, é qualquer coisa de maravilhoso, por aquilo que tem de aventura, de descoberta e de exploração dos mistérios da vida. Tem algo de busca de crescimento interior a dois, de partilha de vida interior cada vez mais íntima, cada vez mais profunda, cada vez mais bela...”.

Portanto, admitimos que nos dias de hoje pode até ser difícil uma amizade verdadeira entre um homem e uma mulher (e isso por vários motivos – alguns justos, outros nem tanto), mas independente do tipo de mérito de carma e darma relacional, não é impossível. Admitimos que é também perigosa quando entre pessoas comprometidas (e como pessoas conscientes sabemos os motivos), mas muito mais perigoso é viver sem essa amizade. Quem a vive sabe muito bem o valoroso poder de uma amizade profunda, sincera e impregnada do mais legítimo e incondicional amor.

Pergunta 2: "Falando ainda sobre a amizade entre homem e mulher, quer dizer que se ela virar um relacionamento afetivo amoroso estaria sendo uma coisa errada?"

Não necessariamente. Aliás, a melhor forma de se iniciar um relacionamento afetivo amoroso é através da amizade, do cuidado, do carinho (em vez do sexo). Ademais, o que é "errado"? Aquilo que nossa consciência apontar como errado. A pergunta anterior se referia à possibilidade de haver somente amizade entre homem e mulher, e sim, há. Mas não significa que se ultrapassar as barreiras da amizade estará sendo um erro em todos os casos (e cuidado para não usarmos isso como muleta para justificar erros).

Tudo depende do contexto, dos laços espirituais envolvidos, dos carmas e darmas, dos meandros do passado, dos elementos do presente, dos compromissos assumidos antes de encarnarmos, de nossos méritos e deméritos perante a vida - e dos mesmos pontos em relação à outra pessoa.

O que nos mata é o preconceito, as convenções humanas ainda arraigadas à tradições já mortas do mundo de provas e expiações, que deram lugar a novas perspectivas do mundo de regeneração. Aniquilamos possibilidades preciosas por causa do preconceito tolo, inútil e fútil. Nos deixamos cegar, ensurdecer e calar em função desse preconceito que deveria é ser combatido.

Mas volto a dizer: cada caso é um caso, e nenhum de nós tem condições reais de julgar a quem quer que seja.

Por exemplo: Conheço muito profundamente um casal que se aproximou pelos laços da amizade e do carinho. Tinham seus respectivos pares e se conheceram através desses pares. E depois de se "conhecerem", se "reconheceram". Uma força estrondosa os arrebatou. E terminando seus respectivos relacionamentos amorosos, ficaram juntos, se casaram, construíram um lar, e ergueram uma obra fantástica de ações, aprendizado, crescimento e apoio a uma rede de pessoas e ideais que jamais ocorreria se permanecessem em seus relacionamentos anteriores. Foi a espiritualidade que neste caso, agiu com assertividade para que, fazendo uso daqueles que eram seus respectivos pares, houvesse a aproximação daquelas duas pessoas. O compromisso daquele casal se materializou de forma santificada - apesar de muitos terem condenado o ato, e apesar da natural perda do equilíbrio emocional daqueles que se sentiram lesados pela ruptura. Mas estava escrito no carma dessas pessoas que assim deveria ser para que os débitos fossem quitados. Não houve erros. A interconexão de fatos e sucessões se deu de forma perfeita - embora aparentemente complexa. Neste caso específico, são "metades" ou "partes" um do outro. E se reconhecemos uma árvore por seus frutos, posso dizer que os frutos deste relacionamento foram e ainda estão sendo saborosos depois de quase 10 anos juntos. Se tivessem porém dado ouvidos ao preconceito humano, não teriam percebido a grandiosa oportunidade que se descortinou diante deles quando os olhares se encontraram. Era Maktub. Ouvir a voz do preconceito seria desastroso.

Por isso, é importante nos conscientizarmos que certo e errado são conceitos relativos, e quanto mais nossa consciência se expandir e nosso conhecimento se ampliar, mais condições teremos de perceber se aquele pequeno detalhe é um objeto de tropeço ou oportunidade de acerto, a diferença entre achar uma pedra no caminho (para nela tropeçarmos) ou acharmos uma pedra no caminho (mas uma pedra preciosa).

Logo, no caso de surgir a amizade entre homem e mulher e ela for além da amizade, não necessariamente será uma coisa errada. É preciso antes examinar o contexto. Uma coisa é fato porém: todo relacionamento amoroso construído sob os alicerces da amizade, idealmente aqueles que não lesem a quem quer que seja, são dignos e justos. Quando estamos falando então de duas almas legitimamente afins, torna-se um evento cósmico sem precedentes, palco de sensações que não se explicam, só se sentem. Os jardins mais belos e vívidos são aqueles cujas flores de amor foram plantadas com o carinho, o respeito, a cumplicidade, a vontade de estar perto, o desejo de compartilhar, a inspiração de cuidar e o desejo de ver o outro pleno de realizações, pelas vias da amizade verdadeira que nada mais é do que um reencontro depois de tantas vidas juntos, nas mais diversas e intensas circunstâncias de aproximação que sempre fizeram aqueles dois seres se alimentarem mutuamente de um ilimitado amor. Um amor que jamais encontrará em palavras, meios de se explicar.

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Conteúdo desenvolvido por: Antony Valentim   
Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança.
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