O não e a perda fazem parte do sim e do ganho!
Atualizado dia 3/10/2014 8:12:05 AM em Psicologiapor Paulo Salvio Antolini
Investidor na bolsa de valores, desde muito novo iniciou uma separação de seus ganhos para aplicar no mercado financeiro. Também há anos vem sofrendo porque nem sempre ganha, e quando acontece de perder, não se perdoa por não ter identificado o que iria acontecer e vendido seus “papeis” antes da queda de preços.
Crente em Deus, praticante, um dos motivos de seus conflitos era identificar sua “onipotência”. Não admitir a possibilidade de falhas, era claro para ele que estava se cobrando ser um “deus”.
Após algumas sessões, começou a perceber que suas maiores perdas ocorriam quando deixava prevalecer sua impulsividade, contrariando inicialmente sua intuição e logo a seguir seu bom senso. Percebeu que identificava os momentos de “sair” e quando não o fazia, ai vinham as perdas. Quando se dava ouvidos, raras vezes se enganou, ou seja, pouquíssimas vezes vendeu suas ações e elas continuaram a subir, o que aumentaria seus ganhos caso tivesse permanecido, e mesmo assim, havia ganho.
Começou a perceber que em suas vitórias, pouco desfrutava do sabor da conquista e viu que dava muito mais importância em sua vida às coisas negativas que lhe acontecia do que às grandes conquistas, que conforme sabia, eram muitas. Estas percepções começaram a lhe mostrar que outro sentimento que sempre teve, mas pouca atenção lhe atribuía, tinha tudo a ver: o sentir-se “preso”. Um sentimento muito forte de que algo ou alguma coisa o “travava”. Sabia não ser nenhuma pessoa com quem convivia. Era algo dentro de si mesmo.
Percebeu também que na sua impulsividade e obstinação em ir contra o não, contra a perda, ficava “preso” a aquele momento, impedindo-se de ir em frente. No investimento deixava de fazê-lo, mesmo identificando oportunidades que o levaria até a recuperar suas perdas ou não ganhos. Na vida, ficava se “remoendo” em torno de algo que já havia passado, não era mais possível fazer algo que modificasse aquela situação em si mesma e, consequentemente, o tempo estava passando e não sendo aproveitado para novas construções, novas oportunidades de conquista.
“Fico agarrado aos nãos e às perdas e com isso não busco os sins e os ganhos”. Suas palavras textuais. “Percebo agora que o não e a perda fazem parte do sim e do ganho!”
Assim como é necessário o claro para realçar o escuro e vice-versa, “não e sim” fazem parte da mesma moeda, “perda e ganho” coexistem para que se possa crescer e aprimorar nossa existência. A compreensão dessa dualidade nos possibilita o perfeito equilíbrio.
Vocês já viveram essa sensação de que há algo “travando”, impedindo de se ir em frente? Busquem o quanto podem estar se prendendo às insatisfações do que não saiu como queriam. Conceitos como arrogância, orgulho, prepotência se manifestam em comportamentos e a dificuldade que as pessoas possuem para identificarem que podem estar sendo impulsionadas por essas forças fazem com que se vejam impedidas de agirem produtivamente. De corrigirem seus rumos, de se darem novos direcionamentos.
Muito interessante a colocação dessa pessoa: “aprender a perder”! Em um mundo tão competitivo e onde o reconhecimento só é dado a quem “ganha”, ele pediu exatamente o inverso. Viajei para minha infância, quando minha mãe ao me ver chorar por ter perdido figurinhas numa disputa de “bater bafinho” me disse exatamente isso: “Meu filho, você precisa aprender a perder, pois a vida não é só ganhar”.
A vida não é um jogo. A vida é para ser vivida e como tal o que nela conquistamos deve servir de base para o nosso continuar. Mesmo o que não deu certo serve para o nosso aprendizado. E aprender é um de nossos maiores ganhos que retiramos desta vida.
Texto revisado
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